por
Taciana Oliveira__
Tudo
o que o homem podia ganhar no jogo da peste e da vida era o
conhecimento e a memória
A
Peste não é apenas o livro que deu a Albert Camus o
Prêmio dos Críticos, em 1947, e o colocou no patamar da
escrita contemporânea, mas também é uma das obras fundamentais
para compreender a visão filosófica do autor sobre a estética do
absurdo e a revolta. O jornalista e escritor franco-argelino compõe
uma alegoria sobre a ocupação nazista, que deve e pode ser
entendida como uma paridade crítica a qualquer regime totalitário.
Publicado em 1947, A Peste traz uma narrativa em terceira pessoa. O
médico Dr. Rieux é o narrador-espectador de uma história que
expressa as consequências de uma epidemia provocada pela infestação
de ratos em uma cidade.
Vinham,
também, morrer isoladamente nos vestíbulos das repartições, nos
recreios das escolas, por vezes nos terraços dos cafés. Nossos
concidadãos, estupefatos, encontravam-nos nos locais mais
frequentados da cidade.
A
calamidade coloca a população em estado de caos. Os personagens são
reféns de uma situação sem controle aparente. Todas as tentativas
de conter o surto respondem pela falta de opções em salvar vidas. O
odor dos cadáveres, o isolamento, a falta de esperança perpassam
questionamentos sobre existir:
O
que dizer então daquele que vai morrer, apanhado na armadilha por
detrás das paredes crepitantes de calor, enquanto, no mesmo minuto,
toda uma população, ao telefone ou nos cafés, fala de letras de
câmbio, de conhecimentos ou de descontos? Compreenderão o que há
de desconfortável na morte, mesmo moderna, quando ela chega assim,
num lugar seco.
Oran
é uma cidade ficcional da Argélia, mas suas ruas, seu povo e a
doença que a cerca é real. A peste permanece ainda entre nós, e se
atualiza nesse mundo desconexo, herdeiro de um comportamento fascista
e de uma hipocrisia teocrática senil. Camus já ponderava:
Na
verdade, ao ouvir os gritos de alegria que vinham da cidade, Rieux
lembrava-se de que essa alegria estava sempre ameaçada. Porque ele
sabia o que essa multidão eufórica ignorava e se pode ler nos
livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar
dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera
pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na
papelada. E sabia, também, que viria talvez o dia em que, para
desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria seus ratos e os
mandaria morrer numa cidade feliz.
Albert Camus |
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Taciana
Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife,
apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura.
Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra
quem quiser ouvir: Ter
bondade é ter coragem