por
Taciana Oliveira
Colaboração:
João Gomes___
Fábio Pascoal/Divulgação |
TEA/Divulgação |
Somos
contemporâneos
Sou
filho de Argemiro Pascoal e Arary
Marrocos. Eles foram fundadores do Teatro
Experimental de Arte. Meu pai já fazia teatro antes, no Teatro de
Amadores de Caruaru, um grupo que já estava estabelecido na cidade.
Um teatro bem convencional para época deles. Então,
em 1960 eles participaram de um festival estudantil. Eles
frequentaram o festival e ficaram entusiasmados com toda a produção,
com tudo que vinha de fora, de outros estados. Isso deu
um ânimo para se juntarem com os amigos e criarem o TEA
em 1962. Eu e o TEA
somos contemporâneos, porque eu nasci em fevereiro de 1962 e
o TEA em junho. Nascemos
praticamente juntos. Então minha vida toda teve muito convívio com
o teatro, não só com o teatro mas com os artistas de um modo geral,
com poetas, com pintores, com artistas gráfico, músicos. Minha vida
toda esteve muito atrelada a essa cultura. Então aos 15/16 anos eu
sempre fiquei nas coxias dos grupos, sempre trabalhando nas partes
técnica, sempre fiz essa ação no TEA.
O
TEA
Divulgação |
A
Sede do TEA
O
TEA tem um teatro pequeno. Um palco de 5X3 metros e um auditório de
mais ou menos 50 pessoas, feito em casa, numa comunicação com a
casa e essa coisa toda. E eu sempre brincava com meu pai, e eu dizia
vamos transformar isso em outra coisa e tal. Porque a gente tinha uma
dificuldade muito grande, tinha um palco muito pequeno,
e se usava muito espaço para oficinas. O palco era muito
pequeno, não se conseguia colocar ali nem dez pessoas trabalhando. E
a ideia era que a gente conseguisse nivelar o piso, deixar um espaço
maior, de uma outra maneira transformasse aquele espaço. E fosse um espaço multifuncional, um teatro multiconfiguracional, como um jogo de armar, como o Teatro
Hermilo e o Marco Camarotti. A gente queria muito isso. Em 2016, um
temporal em Caruaru danificou uma parte da estrutura do teatro. Comecei a reformar e derrubamos o teatro, e reconstruímos. Estamos
agora na fase fina, precisando realmente de apoio. Ele terá um
espaço de 20X8, que é mais ou menos o tamanho do Teatro Hermilo,
uma arquibancada móvel, um mezanino e um escritório. Temos uma área total de 180 metros, levantamos a estrutura e agora falta
só o acabamento. Buscamos parcerias, vamos tentando construir.
Fizemos uma vaquinha e não conseguimos nada, mas algumas pessoas na
cidade ajudaram de alguma forma. E assim a gente levantou e cobriu,
e estamos agora na fase final, pensando em uma parceria com a
Secretaria da Educação para levar alunos para assistirem aula de
teatro. A contrapartida seria finalizar a reforma do teatro.
Um
Festival Independente
Mas
ou menos em 1980/81, junto com um amigo, Chico Neto, irmão de
Cláudio Assis... A gente era muito amigo, eu e Chico. Fazíamos parte de um grupo de música. Eu escrevia as letras. E
tinha também um amigo em comum nosso que colocava música. A banda
chamava-se Olho D’água. Uma banda que fazia a gente
trabalhar com músicas autorais. E com isso participamos de um
festival bem importante chamado Festival Arizona de Música
Sertaneja. E em 1981, eu e Chico, vendo a dificuldade que a gente
tinha no TEA, em tratar as questões junto aos estudantes, criamos o FETEAG em 1981. Desde essa época é um
Festival Independente, sempre! E durante muito tempo ele foi dedicado
ao público estudantil, com oficinas, palestras, e a participação
afetiva dos estudantes. Nos
anos 90 esse Festival alterou um pouco o perfil e passou a ser de
Teatro Estudantil e Amador do Agreste.
Festival Estudantil com abrangência estadual
Começamos
a receber alguns grupos amadores da cidade, sempre em Caruaru. No
final dos anos 90, quando foi lançado o Edital do Funcultura, o
Festival abriu a grade para as escolas de todo o Estado. Passou a ser
um Festival Estudantil com abrangência estadual. Nesse período de
1984, eu termino a Faculdade e venho morar em Recife. Fico de 1984,
mais ou menos, até os anos 2000, indo para Caruaru acompanhar o
Festival, mas não ativamente. Meus pais é que tocaram o Festival
nesse período. No ano 2000, eu voltei, e a gente reconstruiu o
Festival de alguma maneira.
A
Mostra Profissional
Em
2004 lançamos a mostra profissional. Sempre existiam grupos
profissionais que vinham pra Caruaru. Mas a partir de 2004, nós
estabelecemos uma mostra independente, uma mostra profissional. O
primeiro o espetáculo foi o “Espiral brinquedo meu” de Helder
Vasconcelos. Então, é o primeiro grupo que abre essa nova fase
do Festival que é a mostra profissional. A gente começa a entrar em
contato com outros grupos. Em 2005 conseguimos trazer o Lume,
um grupo de Campinas, uma referência no termo de formação do ator.
O Lume vem com o espetáculo “Cravo, Lírio e Rosa”. Foi a
primeira passagem do Lume pelo Nordeste.
FETEAG /2017 - François Moise Bamba no Boi Tita Teima |
A profissionalização e a Mostra Internacional
Nós
trouxemos também um grupo de alunos da USP. Em Caruaru temos um
casarão onde funciona a Academia Caruaruense de Cultura Ciências e
Letras. Então à a meia-noite o casarão era aberto para a
apresentação do espetáculo desse grupo. Eles ficaram uma semana
conosco. Esse grupo hoje é a Companhia Hiato. Ali era o primeiro
movimento da companhia, ela se formando enquanto grupo. É tanto, que
em 2013, trouxemos eles de volta para mostrar exatamente essa
trajetória, para as pessoas entenderem que é possível ser
profissional. O que a gente provoca com a mostra profissional é uma
onda de estímulo. Já que às vezes o teatro em Caruaru é tratado
como um hobby. Eu percebia que os artistas não tinham uma
necessidade como profissional, era mais um hobby que eles faziam. É
a partir da mostra profissional que começamos a investir numa coisa
muito mais formativa e profissionalizante. É a partir dessa
trajetória que convidamos grupos do Brasil inteiro, e em 2016 nasce
a Mostra Internacional.
Mostra
Descentralizada
Criamos
uma outra mostra, chamada
Mostra Descentralizada que acontece na Zona Rural. O
primeiro espetáculo que a gente levou foi Olhos
de café quente de
Quiercles Santana
com Soraya Silva
no elenco, que mora na Itália. Fechamos
um contrato e
ela fez um dia no palco
oficial, no SESC, que é a nossa
sede em Caruaru. E ainda nas
zonas descentralizadas da periferia, na Zona Rural mesmo, não é na
periferia, é nos sítios. Em
2017 e em
2018 a gente faz
novamente a Mostra Descentralizada, agora com a produção do próprio
TEA, um espetáculo chamado Jogos
na hora da sesta que
discute a violência estudantil na escola. Em 2019 a gente já tem um
grande convidado: os 15 anos do Espiral
brinquedo meu, de
Helder Vasconcelos. E
vamos fazer na Zona Rural.
Estamos
procurando uma grande festa pra
apresentar o espetáculo. O Helder
tem uma kombi que chama-se Zuzu. Vamos
apresentar filme e o espetáculo. A gente sempre ocupa
esse espaço na cidade, tem um ponto fixo em Caruaru, que usamos
muito, que é a Casa de Lúcio do Alto do Moura. Lúcio Omena é um
médico caruaruense que foi secretário presidente da Fundação de
Cultura, e a gente todo ano faz alguma coisa na casa dele.
Mostra
Profissional em Recife
A
partir de 2016 a gente realmente resolveu dar a cara tapa e assumir e
fazer uma Mostra Profissional em Recife, uma janela na realidade.
Essa janela tem uma intenção bem objetiva, que é dar visibilidade
à produção, já que é muito difícil a gente trazer esse olhar da
imprensa pro interior. Então nós
criamos
essa janela exatamente pra possibilitar essa abertura na mídia, e eu
acho que supriu um efeito fantástico assim, na cobertura que se
começou a dar. E
aí em 2007 a gente fez parceria com outros dois grupos e festivais:
um no Rio de Janeiro e outro na Bahia . E
aí, a partir disso, a gente consegue
trazer obras importantes. A gente aposta sempre no FUNCULTURA, e
nunca teve de fato um apoio da prefeitura, só a partir de 2017. A
gente sonha e vai. Tem uma passagem num livro chamado Alma imoral, de
Nilton Bonder, que diz o seguinte: O
mar não se abriu para Moisés passar, Moisés se atreveu e o mar se
abriu. Eu penso sempre nisso, nesse atrevimento de você entrar e as coisas
acontecem, não esperar que ele abra, é a gente ir de encontro ao mar.
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Para
saber mais sobre o TEA, assista os documentários abaixo:
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Taciana
Oliveira é
mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada
por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona
memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem
quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem