por Rebeca Gadelha__
à deriva é o romance de estreia do escritor paulistano Fernando Ferrone, que conta a história de Isabela, uma jovem paulistana que, cansada de tudo – do trabalho maçante no banco, do caos diário da cidade grande, das amigas de longa data e de ser assombrada pelas lembranças do término de namoro com Amadeu – decide passar um fim de semana acampando na vila de Trindade, no município de Paraty, em busca de mudar de ares e conhecer pessoas novas.
Três
coisas me chamaram atenção em à deriva: a primeira é a
forma visceral e crua de seu começo, um áudio enviado por Isabela,
durante o caminho de volta para São Paulo, e a partir daí como as
pontas da história se unem, pois o fim e começo são um momento só.
A segunda, é a maneira como as histórias - e as pessoas – se
enrolam e desenrolam, entrelaçando e tecendo suas próprias
narrativas, o que me lembrou muito um verso da música “Various
Storms and Saints” de Florence and the Machine: “And people
just untie themselves/ Uncurling lifelines” (ou “E as pessoas simplesmente desatam a si mesmas, desenrolando destinos”).
Narrativas estas das quais Isabella participa ora como espectadora,
ora como parte delas, chamando também a atenção para as histórias
que poderíamos ouvir em nosso dia a dia se nos dispormos a isso: uma
convocação para o universo além de nós mesmos.
Aliás,
é bastante interessante como os personagens de Ferrone são
construídos – mesmo em um livro curto (de 180 páginas) – e a
riqueza de detalhes de seus relatos, como a de Caetano, um homem que
procura pela mãe desaparecida e, movido por uma pista de seu pai,
vai para Trindade. Outro é Bruno, o qual conhecemos logo no começo
através do áudio de Isabela, um homem deformado por uma doença
rara, cujas incongruências e (des)caminhos vão se revelando ao
longo da trama. Por fim, o próprio formato do livro, cujos capítulos
são divididos em horas específicas, num movimento contínuo, fluido
e inexorável que se harmoniza com a narrativa: palavras e minutos
correm juntos, desatando destinos – e memórias - em à deriva.
*para adquirir o livro entrar em contato com autor pela rede social:
Fernando
Ferrone
nasceu em Jardinópolis, SP, em 1981. Em 2003, concluiu a faculdade
de Ciências Sociais (Unicamp) e, em 2005, apresentou dissertação
de mestrado em História Contemporânea (Université de Bourgogne,
França). Desde 2006 reside em São Paulo, capital. É tradutor e
autor do romance à deriva (2017, edição independente). Publicou
contos pelo site Ruído Manifesto, Atualmente, trabalha em seu
segundo romance, provisoriamente intitulado A Longa Noite de B.
__________________________________________________________
Rebeca
Gadelha nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na
companhia dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista
digital, é apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem
medo de avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é
fígado. Foi responsável pela diagramação, ilustrações e
concepção visual em Balbúrdia, participa da coletânea Paginário,
publicada pela Editora Aliás. Atualmente escreve para as revistas do
Medium Ensaios sobre a Loucura e Fale com Elas sob o pseudônimo de
Jaded.