Nós estragamos tudo


Por Taciana Oliveira____



We Blew It é um documentário dirigido pelo crítico francês Jean-Baptiste Thoret. Filmado durante a campanha eleitoral americana de 2016, o filme traz uma inquietante reflexão sobre o fracasso da geração paz e amor. O que aconteceu com os sonhos e utopias dos anos regidos pela contracultura? Jean-Baptiste Thoret tenta expor uma conexão da revolução hippie com a polarização social atual. Para isso o diretor toma como ponto de partida uma sequência do filme Easy Rider, onde um melancólico Peter Fonda responde a um alegre Dennis Hopper com a seguinte frase: Nós estragamos tudo.
Pontuado por depoimentos de cineastas como Bob Rafelson, Jerry Schatzberg, Peter Bogdanovich e Michael Mann, o documentário foi filmado em Cinemascope. A fotografia contempla um percurso que vai de Nova Jersey à Califórnia. Um quase road movie revelando cidadãos envelhecidos, personagens de uma América polarizada que começa a se render ao trumpismo.
Thoret não se preocupa que seus entrevistados estabeleçam pontos de vista contrários. Ele não participa da discussão e atua quase como um observador. A proposta de narrativa visual expõe uma sensação constante de ausência evidenciada ainda mais nas imagens de cidades fantasmas, centros financeiros e rodovias vazias.
Uma trilha sonora pulsante com nomes como Jefferson Airplane, Simon e Garfunkel, Creedence Clearwater Revival, Sam Cooke, The Band, Led Zeppelin e Bruce Springsteen, envolve o longa-metragem.
Assistir We Blew It pode ser um exercício de autocrítica, um encontro frustrante com a transformação de algumas personalidades em figuras conservadoras e conformadas com a sociedade de consumo. Mas também é a certeza que em alguns momentos, como já dizia um poeta e um antigo compositor cearense, o passado é uma roupa que não nos serve mais. A estrada ainda é longa e nos aguarda.

Onde assistir: Sundance TV

#documentário #Jean-Baptiste Thoret  #polarização


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Taciana Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.