Enquanto
o ódio deveria ser combatido, por meio da educação, ele vem à
tona por perseguição às minorias. Não quero falar a notícia, só
cravar minha ira sobre Dorias, Crivellas e toda trupe treinada ao
absurdo tão sem ordem e progresso. Mas só relembro que um recolheu
apostilas do ensino público de São Paulo por uma página tratar de
identidade de gênero e o outro fez perseguição às obras de
temática LGBTI comercializadas na Bienal do Rio de Janeiro. O ódio
disfarçado de política pública quando desperta a exclusão guiado
na violência ao próximo. O que excita os fascistas é mesmo uma
arma na mão. E livro é uma arma, ferramenta das mais poderosas.
Mais amor em SP e RJ e em todo o Brasil é pedir o mínimo diante
desses vendavais.
Sabemos que o tema vai e volta, e que a população, em sua maioria, não tem realmente todo esse ódio ao público LGBTI. Por que onde que já se viu dois homens se beijando numa HQ da Marvel, em que interfere na minha vida ou no futuro? Quem mantém relações sociais saudáveis sabe o quanto é enriquecedor ter amizade com um homossexual, o que é bem diferente de travar amizade com um miliciano, com um pastor que diz que você vai pro inferno enquanto ele abusa de menores. Abuso é um tema recorrente, abuso de poder nem se fala, que isso vemos todos os dias pelos ladrões de colarinho. O poder de nada fazer é a nova política, só o de piorar o que, se nunca esteve bom, eles torcem para que dispare.
Sabemos que o tema vai e volta, e que a população, em sua maioria, não tem realmente todo esse ódio ao público LGBTI. Por que onde que já se viu dois homens se beijando numa HQ da Marvel, em que interfere na minha vida ou no futuro? Quem mantém relações sociais saudáveis sabe o quanto é enriquecedor ter amizade com um homossexual, o que é bem diferente de travar amizade com um miliciano, com um pastor que diz que você vai pro inferno enquanto ele abusa de menores. Abuso é um tema recorrente, abuso de poder nem se fala, que isso vemos todos os dias pelos ladrões de colarinho. O poder de nada fazer é a nova política, só o de piorar o que, se nunca esteve bom, eles torcem para que dispare.
Por
que fazem isso? Porque o espírito conservador e hoje mais
reacionário ainda impera, a inaceitação de si ainda é massante, o
desconhecimento e a ignorância a tudo também. O povo tem culpa?
Não, mas que reaja, desperte do ódio à vida, que se dê ao luxo de
viver com dignidade. Não existe medo ou risco de nos tornarmos uma
nação gay, além de isso ser impossível, é que se posicionando
contra faz com que sejam aprovados #elesnão com reformas que só diz
interesse aos ricos, que aprovem a liberação das armas, que
permitam que a Amazônia seja desmatada sem fazer nada para que
impeça. É um tema engolindo outro, até engolir de vez toda a
gente.
Quando
ouço na rua um “Bolsonaro vai te pegar!” gritado sem fôlego por
um velhinho segurança de umas lojas aqui do centro do Recife, não
sei se choro, se dou uma risada, se aplaudo sua autoimunidade.
Atacando minorias, destratando mulheres, se mostrando machão,
racista e em nome da família, o retrocesso chegou para perseguir
oficialmente. Mesmo com essas atitudes, conseguiram fazer uma grande
parcela da população crer que isso traria a ordem. Dizer que não
imaginavam que também não teríamos mais avanço e voltaríamos aos
anos de chumbo, isso é tão fake new quanto tudo que foi
compartilhado à época.
O
ódio move todos os dias esse país que só dá vergonha, nos deixa
impotentes porque é muito o que temos a dizer e é muito o que
podemos fazer. Somos ameaças não por beijar outro homem. Mas uma
notícia boa acontece: o youtuber Felipe Neto comprou 14.000 livros
de temática LGBTI à venda na Bienal do Rio e destribuiu
gratuitamente, dentro de um saco opaco, com um cartão colado que se
lia “ESTE LIVRO É IMPRÓPRIO para pessoas atrasadas, retrógradas
e preconceituosas.” O que importa é que a censura foi literalmente
barrada, que o povo teve acesso ao conhecimento por meio de um ato de
resistência.
Os
falsos homens de bem sabem que luta, amor, diversidade não são
apenas hashtags de redes sociais, isso é o que faz o mundo ser mais
possível, independente da aceitação ao diferente. Só o respeito
já seria tão tocante, mas como tê-lo sem educação? Achavam que
dessa vez lamentaríamos suas escolhas apenas com comentários em
suas redes, que tudo isso passaria como se não vivêssemos numa
democracia, numa nação de estado laico. A cura, para eles, é
aceitar o que eles dizem, negando a si todos os dias, enquanto o
verdadeiro mandato de seus encargos é passado ano após ano. E
quanto à justiça que autoriza que retrocessos venham à tona, nunca
é demais lembrar que um juiz diz a lei, julga balizado na lei, mas
não dita regras, costumes. Quem quiser ser doutrinado, que procure
uma igreja neopentecostal, que defende fechada em si o fascismo,
ainda sob negações.
Bienal do Livro |
Já
o ex-hater Felipe Neto, que despertou do ódio para a solidariedade,
ao seu ato capaz de salvar a pátria num 7 de setembro de eterno luto
disse em entrevista para a Universa: “Cresci achando que ser gay
era errado. Livro liberta.” E a isso vem junto a forma de estar
nesse mundo de desrespeito acima de tudo e acima de todos. Os
educadores são chamados de falsos educadores, o ódio a Paulo
Freire, que é utilizado e reconhecido mundialmente, é a resposta de
quem ainda acredita que estão empurrando por goela abaixo esse
conteúdo educativo. Talvez não saibam que a arte conscientiza, leva
ao debate e não, como acreditam, leva à execução do ato. Se assim
fosse, a própria Bíblia deveria sofrer cortes urgentes em trechos
tão obscuros quanto os tempos em que foram escritos.
E
políticos, não estamos nos anos de seus raciocínios, de seus
gostos. Porque nosso país é de crianças e futuros jovens. Vocês,
dentro de suas pautas municipais, estaduais e federais se preocupam
tanto em doutrinar e enquanto isso a educação vai de mal a pior. Se
preocupam com as crianças porque acham que serão elas seus futuros
eleitores, #sqn, e a maioria delas hoje sabem o que é isso. Seria
mais fácil ensiná-las o respeito, mas o respeito a si mesmo implica
em tirá-los de onde estão. E também porque doente mesmo é morrer
no armário, por medo do que vão dizer de sua forma de amar.
#censuranuncamais
#LGBTQI
#censuranuncamais
#LGBTQI
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João
Gomes (Recife, 1996) é poeta, escritor, editor criador da revista de
literatura e publicadora Vida Secreta. Participou de antologias
impressas e digitais, e mantém no prelo seu livro de poesia.