por Taciana Oliveira__
O livro Azul Instantâneo de Pedro Vale nasceu da reunião de poemas e textos postados anteriormente em uma rede social. Dona de um arrojado projeto gráfico, a obra nos convida a desvendar a essência visual do poema. Para isso é necessário se reconstruir, se permitir a conexão com a matéria do imprevisível e imaginário. Nada é fácil e constante. Pedro oferta a dúvida, o abismo, a palavra-sopro, a convulsão. Para o poeta o poema é letal e expande-se na peregrinação pela existência. Há sempre um pulsar, um despertar áspero-suave pronto para provocar o desejo, a revolta e denunciar a dor de existir:
Forais, tristeza, maresia, merda da fazenda, bênção, distinção,
reforma secular, implicação, falsa sensibilidade, alicate, resposta,
espanto, fratura ou reboque lateral.
Alheamento absurdamente temperamental.
Trecho do poema Tecetera e tal
A obra não parece ser atrelada a um tema específico, algo que sustente a linearidade da sua estrutura narrativa, porém o leitor não precisa juntar pistas, elaborar teorias do inconsciente para mergulhar no tempo onde Pedro não suporta o cansaço, mas tece fios de esperança e desenha imagens de uma melancolia nobre e sincera. Os versos reverberam uma nostalgia fotográfica, uma urgente saudade do futuro. O poema é memória. Pedro Vale na sua voraz produção espelha sua condição estrangeira em águas onde nadam náufragos e navios fantasmas. O autor escreve sua carta, seu mapa de sensações:
Deitada na praia, fecho os olhos e recordo tudo aquilo que ainda não vi.
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Pedro Vale é professor de primeiro ciclo e aluno universitário de Cultura no Funchal, Ilha da Madeira, onde reside desde 2002.
Taciana Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.