por
Rebeca Gadelha__
A
sereia cantou, vinda das profundezas de um mundo estranho. Suas
palavras convidavam os navegantes para o mar: porém, ao invés de um
mergulho fatal em águas turvas e escuras, o que ela lhes ofereceu
foi o estranho universo que é o outro - e, principalmente, no
universo que somos nós mesmos. É difícil ler Zonas Abissais de Lisiane Forte, Editora Aliás, sem
pensar nas imagens do oceano que a autora nos invoca, principalmente
se você teve a sorte de crescer em uma cidade a beira-mar. Zonas
abissais é todo oceano e ao mesmo tempo é todo humano: é a
escuridão da ansiedade e da tristeza, dos tempos difíceis que nos
cercam, é a brisa na beira mar na tarde quente, felicidade das
coisas pequenas, é a graça e o medo da experimentação - uma
experimentação de quem se descobre, quem se percebe pela primeira
vez, como se tivesse (re)nascido ali, naquele instante e então tudo
o mais passa a existir também, é sair da casca, ir para a
superfície e descobrir que o céu também é oceano - não a toa,
foi nos oceanos primitivos que (acredita-se) que toda vida começou e
o livro de Lisiane é também esta nova vida: é a vida de quem se
(re)descobre e se transmuta com a graça de uma gaivota, com a leveza
da água-viva. Ouçamos então, as palavras desta mulher-peixe, o
canto desta mulher-pássaro e deixemo-nos conduzir nestas águas para
além de nós mesmos.
Lisiane
Forte é psicóloga e escritora cearense. Autora dos livros Liames e
Zonas Abissais, escreve artigos científicos em sua área de atuação
Psicologia e Arte. Possui 18 anos na área de condução de grupos e
é idealizadora do grupo COM TATO - Ateliê de Mulheres, onde aborda
junto às participantes as temáticas contemporâneas do feminino.
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Rebeca
Gadelha nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na
companhia dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista
digital, é apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem
medo de avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é
fígado. Foi responsável pela diagramação, ilustrações e
concepção visual em Balbúrdia, participa da coletânea Paginário,
publicada pela Editora Aliás. Atualmente escreve para as revistas do
Medium Ensaios sobre a Loucura e Fale com Elas sob o pseudônimo de
Jaded.