por
Rebeca Gadelha__
Fulniô e de Cachimbo Caído, Editora Giostri, 2017, é uma obra de dramaturgia que reúne duas peças do ator e dramaturgo Walfredo Luz. A primeira explora as raízes indígenas do célebre jogador de futebol Mané Garrincha, o “anjo das pernas tortas”. A peça é uma obra curta, de apenas quatro cenas e 3 personagens: Garrincha, Yathê (cantora e amante de Garrincha) e Marinho (ator, amigo e irmão de tribo de Mané).
A
obra transita no
passado e no presente, numa tecitura que entrelaça (as vezes de
forma dispersa) narrativa e pessoas, onde a memória - principalmente
a memória de Garrincha
para os outros personagens - é o fio central que os faz rememorar e
motiva suas ações: o peso do passado a pairar sobre o presente.
Assim, da mesma forma que o fantasma de Garrincha
ainda paira sobre ambos os personagens - Yathê
e Marinho
- o autor trata de outros fantasmas que ainda pairam sobre nossa
sociedade, como o racismo, a desvalorização da cultura brasileira
presente no chamado “complexo de vira-lata”, a desigualdade, o
machismo de uma sociedade patriarcal, entre outros temas que, apesar
de frutos de um passado colonialista e escravista, continuam a nos
assombrar e perseguir, numa demonstração de que o passado não está
enterrado nem terminado como ponderam alguns, mas a ecoar pelo o que
chamamos de presente e futuro.
Já
De
Cachimbo Caído
se passa em, como diz o autor “em
um povoado qualquer, na encosta de uma montanha qualquer” e
aborda a paixão de Judá
por Virtude,
uma bela jovem do povoado que possuí um pai de temperamento
terrível: Cambúzio,
o de cachimbo caído. A peça, então, narra os esforços de
Judá
(ajudado por seu empregado Máscara
e a enteada de Cambúzio,
Morgana)
para driblar o temperamento do velho Cambúzio
e assim conseguir a mão de sua pretendida. Nesta obra também, o
autor incorpora - em um clima muitas vezes cômico - críticas que
dizem respeito ao isolamento das pessoas em relação aos seus
semelhantes.
Se
ambas as peças possuem semelhanças, apesar dos temas
distintos, há
uma
forte presença de conteúdo crítico pontuado entre os diálogos dos
personagens. O
enredo representado,
que ora dispersa-se em si mesmo, constrói
uma narrativa honesta,
mas
que parece
carecer
de ajustes
e de
desenvolvimento
dos personagens, a fim de torná-las mais tangíveis dentro da
proposta de uma dramaturgia-arte, que não apenas entretém, mas
também incentiva a reflexão e a mudança. Mas
acredito que
essas
questões possam
ser diluídas
no palco, quando a direção costura elementos cênicos e
a interpretação do elenco
para
compor/montar o espetáculo.
Walfredo
Luz ainda escreveu a trilogia Sonetos
de Sururu:
Holocausto
Mundaú,
Queixume
e Sóis
de Brancas Trevas.
Todos os
títulos publicados
em 2018, pela Editora
Kazuá.
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Walfredo
Luz nasceu em 1963, no bairro de Fernão Velho, Maceió, Alagoas.
Graduado em Letras, ator, escritor, judoca. Em 2011, aos 48 anos,
apaixona-se pelas artes, o teatro especificamente, e não parou mais.
Em 2012, ele estreia nos palcos como ator. Em 2016, faz parte da
equipe de produção do Festival de Teatro de Alagoas. Em
2017, estreia como ator no cinema com o curta-metragem Os Desejos
de Miriam. Em maio de 2017, viaja pela dramaturgia com a
publicação da obra Teatro de Walfredo Luz – Fulniô e De
cachimbo Caído. Em 2018, estreia na poesia com a publicação da
trilogia poética Sonetos de Sururu composta pelas obras
Holocausto Mundaú, Queixume e Sóis de Brancas Trevas. Em
2018, conclui o texto teatral Fuzis de Flores (não
publicado). Em 2019, o livro
de poemas Massunim
Psicodélico (não publicado). Em 2017, 2018 e 2019,
participa de vários eventos literários em escolas estaduais de
Alagoas, saraus poéticos, da mesa redonda Onde Mais Houver Poesia
promovida pela Estante Virtual,
RevistaPhilos e
Editora Kazuá durante a FLIP – Festa Literária
Internacional de Paraty. Em 2017, participa da Bienal
Internacional do Livro em Maceió. Em 2019, inicia sua
peregrinação no mundo musical ao começar a estudar percussão
(pandeiro) e a escrever para a música.
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Rebeca
Gadelha
nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na companhia
dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista digital, é
apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem medo de
avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é fígado. Foi
responsável pela diagramação, ilustrações e concepção visual
em Balbúrdia,
participa da coletânea Paginário,
publicada pela Editora
Aliás.
Atualmente escreve para as revistas do Medium
Ensaios sobre a Loucura e
Fale
com Elas
sob o pseudônimo de Jade
.