O Peso do Pássaro Morto, de Aline Bei

por Rebeca Gadelha__




O peso do pássaro morto (Editora Nós) é uma obra de versos crus e dilacerantes. Ler este livro, enquanto mulher numa sociedade como a nossa, me faz pensar em como o risco do estupro é real para todas nós, independente das nossas ações ou da falta delas. É um risco que corremos por sermos mulheres. A autora inicia a narrativa com o tempo agridoce da infância, fala de suas memórias de menina, a alegria de brincar com a melhor amiga, o medo de borboleta, a curiosidade e o misticismo sobre o vizinho - o benzedor, seu Luís - a dor da primeira morte e a inocência que se vai conforme a crueldade e os horrores da vida chegam assim, de supetão, como o “namoradinho” que bate na porta de casa uma noite, com uma faca na mão.

Aline Bei traça também o fim da adolescência, o começo da vida adulta de uma mulher que, estuprada pelo namorado, é agora também mãe de uma criança que não consegue amar - uma criança que é um estranho a matar pássaros com baladeira, o lembrete de um trauma que ainda reverbera em seus ossos, ecoando como um grito preso na garganta.

Porém, a autora não esquece das pequenas alegrias da vida e fala delas com uma beleza e doçura contagiante: um rabo abanando, a descoberta de pequenos tesouros que nem lembrava que existiam, a música ecoando nas tardes, a tranquilidade de um lugar para chamar de seu.
Esforço-me para não dar spoilers aqui - pelo bem de todos que, diferente de mim - não os repudiam - então, direi que O Peso do Pássaro Morto é um livro de uma beleza brutal e arrebatadora que tem a capacidade de dilacerar o leitor, fazendo-os refletir sobre as pequenas e grandes alegrias e crueldades do mundo
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Aline Bei nasceu em São Paulo, em 1987. É formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena. É editora e colunista do site cultural OitavaArte. O peso do pássaro morto é o seu primeiro livro.

Fonte: Editora Nós





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Rebeca Gadelha nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na companhia dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista digital, é apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem medo de avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é fígado. Foi responsável pela diagramação, ilustrações e concepção visual em Manifesto Balbúrdia Poética: 80 tiros (CJA Editora), Coordenação, Designer e ilustrações em Laudelinas (Editora Nada Estúdio Criativo), participa da coletânea Paginário, publicada pela Editora Aliás. Atualmente escreve para as revistas do Medium Ensaios sobre a Loucura e Fale com Elas sob o pseudônimo de Jade .