por
Sandra Modesto__
O Beijo, Gustav Klimt |
Ela chegou sem calcinha, sozinha, disposta a conquistar desejos insanos, não revelados até então. Era nua a decisão, transparente a ocasião, dar de tudo. Chegou revelando explosão. Foi direto ao ponto, mostrando dedos molhados, lábios de cima em baixo, arrepios e calafrios, calor de quem queria dar só pra ele.
Ele
chegou meio sem jeito, com um nó peito. A despeito de encontrá-la
tão diferente pensou em desistir de tudo, mas, no fundo sabia...
Isso jamais aconteceria. Tudo era quase nada do que ainda queria
sentir ao lado de alguém, e o alguém, era ela.
Pensando
em tudo que viveram no passado, ela se fez toda ela. Disse de tudo,
do mais profano ao profundo, do mais quente ao insolente, parecia
quem nem era ela, e sim, alguém que não conhecia.
Ele
ficou assustado, mas, logo, logo, colocou-a no colo, beijou- a por
todos os lados, queria lamber por inteiro, o que sempre o deixou
exausto de prazer. Inteiramente sem nexo, perdeu a timidez e com toda
nitidez fez dela o seu sexo demente.
Como
uma corrente de murmúrios, gritos que deixam surdo quem tem vontade
de gozar, eles "treparam" até que o dia gemesse.
A
vida germinou por gemidos sem fim.
Desencantou
até o romance mais meloso, um olhou para o outro e queriam mais.
Fizeram mais. Suaram mais. Mais uma vez, o suor de amantes, perfeito
para quem desejava há dias... Meses? Anos? Horas? Não sabiam mais.
Apenas sentir o gosto da pele, do sexo, a libido que parecia não
existir se fez sem modéstia, a pressa e as horas de tanto prazer, um
querer a dois...
-
Bobagens ao pé do ouvido?
-
lambidas atrás da orelha?
Os
dois se deram ao desejo reprimido...
Enfiadas,
aberturas, cenas filmadas que dariam um filme pornô. E os dois, ela
e ele, não precisavam de exibição além do lugar em que se
encontravam. Um infinito particular, um lugar só para os dois
voltarem a ser o que sempre foram.
-
Nós queríamos tanto, tanto, demoramos muito a fazer tudo isso. Eu
sempre quis te comer assim, sem receio, passear pelos bicos dos seus
seios, agitando a brasa que eu pensava não ter mais.
-
Eu sempre tive certeza dessas nossas travessuras em cima da mesa, da
cama, do chão, são coisas do coração, da ação que se traduz, do
sexo que se faz amante. Eu não agüentava mais segurar a vontade de
dar a você meu sexo molhado sem importar-me com desespero, quero
assustar minha alma.
-
Calma, agora, não tem mais desculpas, temos que assumir nossa culpa
e navegar até quando o mar secar.
Ele
e ela formaram "nós", elos, tão belos.
Nada
mais interessava. A vida descruzada com o tempo? O tempo perdido após
tantos anos? Tantos fatos?
O
ato estava ali e tinha que ser real. Com o efeito de namoro no
começo, sabores, sensações indecifráveis que só aos apaixonados
interessam saber ou não saber.
Ele
abriu o espumante, ela deu uma olhadinha na taça, encarou-o com os
olhos felinos. Naquele momento, ele se lembrou de uma certeza: Ela
apreciava ainda, e como! Um copo duplo de cerveja. Com espuma.
Plumas
dos travesseiros voaram em meio a tanto sabor.
Calor
de corpos, água salgada escorrendo matando saudades.
Verdade!
Depois de tantas despedidas, sempre às escondidas, sem nunca irem
embora, ela e ele ainda eram os mesmos.
Sentiam
os mesmos absurdos, beijos que transitam entre o sexo e o querer, sem
medo... Promessas eternas. Sem dor. Vontade que o sentimento nunca
mais se acabasse. Os devorasse até o fim.
Ela
e ele não tinham nomes. Eram apenas fragmentos de eterno amor.
Amor
em mim.
* O
texto faz parte do segundo livro da autora: Tudo
em mim é prosa e rima,
Editora
Autografia,
março de 2019)
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Sandra
Modesto é de Ituiutaba,
Minhas Gerais, Graduada em Letras, publicou Acenda
a luz (Prosa poética),
Editora Kazuá,
2015 e Tudo em mim é
Prosa e Rima, Editora
Autografia,
2019. Autora de dois textos na edição (impressa) especial da
Revista Philos: Releitura
de Chico Buarque, em
2019. Cronista convidada
do site Crônica do
Dia. Mãe
de Carla e do Gabriel.