por Taciana Oliveira__
Série documental dirigida por Caio Cavechini, composta por seis capítulos, refaz a trajetória da socióloga e vereadora no percurso da adolescência até seu brutal assassinato na Zona Norte do Rio de Janeiro. O documentário se apoia na exibição de um vasto material iconográfico, registros de telejornais e das mensagens trocadas com os amigos e familiares no aplicativo WhatsApp. A montagem é conduzida a partir de depoimentos e por uma linha do tempo desenhada por uma grupo de jornalistas investigativos, que se esforçam em mapear as circunstâncias que levaram a concretização da morte da vereadora e seu motorista. São expostas a cada capítulo as ramificações da milícia como um poder paralelo no cenário político do Estado do Rio do Janeiro, as abordagens de investigação da polícia civil e a conclusão final da Procuradoria Geral da União. Sobretudo se questiona a ausência de informações precisas que corroborem com a identificação dos mandantes do crime.
Afinal, quem mandou matar Marielle? A pergunta ainda persiste e continua sem respostas.
Afinal, quem mandou matar Marielle? A pergunta ainda persiste e continua sem respostas.
Fica evidente desde o primeiro capítulo que o objetivo maior da série é de criar uma identificação entre o espectador e os personagens, por isso a necessidade de “humanizar” as vítimas, Marielle e Anderson, destacando os seus contextos sociais e afetivos. Impossível conter a emoção em cada relato familiar, em cada áudio exposto ou no silêncio doloroso da justiça. Só tenho a lamentar que alguns setores da imprensa não tenham se preocupado em fazer do bom jornalismo uma prática desde os primeiros meses de cobertura do assassinato. A morte de Marielle provocou uma comoção mundial, mas nos diversos meios de comunicação nacional esse detalhe foi omitido. Marielle foi atacada de diversas formas, sua luta foi minimizada, sua conduta ultrajada. A impressão que tenho, é a de que a mataram diversas vezes. O lançamento da série foi às vésperas do aniversário de dois anos do assassinato da vereadora. É de fato um trabalho criterioso que fala a cada brasileiro porque é importante questionar a naturalização da violência, a estupidez de facções travestidas de partidos e a omissão das instituições públicas e privadas, no crescente discurso fascista do governo federal. A obra é a primeira série documental do jornalismo da Globo e sua proposta narrativa segue o padrão de formatos já estabelecidos em outros serviços de streaming.
O diretor de Produtos e Serviços Digitais da Globo, ErickBrêtas declarou antes do lançamento: “O inconformismo com a morte de Marielle não é de esquerda ou de direita. Opõe civilização e barbárie. E estamos do lado da civilização. Por isso, resolvemos jogar luz sobre o caso.”
É preciso despertar e sair da bolha. Que a emissora carioca também faça uma autocrítica e desperte da passividade nos últimos anos. O Rio de Janeiro expressa bem o momento atual do país: refém de um fundamentalismo religioso, do discurso de ódio e da ocupação das milícias nas instituições públicas.
Taciana Oliveira é mãe de JP, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.