por Divulgação | Mirada__
Fata Morgana é o primeiro videoclipe do novo álbum TRËMA, de Zeca Viana. Com uma forte influência eletrônica de nomes como Kraftwerk, Depeche Mode e Information Society, a faixa passeia por atmosferas de sintetizadores e timbres 8 bits (sampleadas à partir da emulação do videogame Atari 2600) que remetem à nostalgia e a ideia de sonho. As gravações do videoclipe foram feitas utilizando apenas um celular (iPhone 7) com produção e olhar da fotógrafa pernambucana Kamila Ataíde. O vídeo foi registrado em fevereiro de 2019, bem antes da pandemia, ainda durante o carnaval, em viagens realizadas ao litoral sul de Pernambuco; praias como Calhetas, Enseada dos Corais e Gaibú.
Do italiano fata Morgana (ou seja: fada Morgana), a faixa faz referência à fictícia feiticeira Fada Morgana, meia-irmã do Rei Arthur que, segundo a lenda, era uma fada que conseguia mudar de aparência. Tecnicamente, o termo Fata Morgana trata de uma miragem que se deve a uma inversão térmica. Objetos que se encontram no horizonte marítimo como, por exemplo, ilhas, falésias, barcos ou icebergs, adquirem uma aparência alargada e elevada, similar aos "castelos de contos de fadas". Abaixo uma entrevista que fizemos com Zeca e Kamila.
Nos versos iniciais de Fata Morgana temos a pergunta: "Nos perderemos afinal? / Em desejos e distâncias / Delírio nas luzes dos faróis". Ou seja, o farol, símbolo de segurança daqueles que se perdem no mar, se torna aqui fruto do próprio delírio. O que você propõe com essa questão?
Zeca - Costumo dizer que o mundo contemporâneo esvaziou a noção de verdade. Vivemos em uma Fata Morgana constante; um delírio permanente. Nos tornamos uma contradição ambulante como vampiros em um dia de sol. Quis trazer essa questão descolada da política, é algo inerente à condição humana: dar sentido ao mundo.
Nesse sentido de algo tão frívolo e contemporâneo, como um celular se tornou o principal instrumento de captação do videoclipe?
Kamila - O iphone era o instrumento com a melhor qualidade que tínhamos à mão. Aproveitamos essa ferramenta pra fazer as filmagens já pensando no videoclipe. Acho que mais do que falar sobre o processo de gravação em iPhone, especificamente, é falar sobre esse processo criativo e de produção com o uso de celulares. Eu sou fotógrafa, trabalho com fotografia hoje, iniciei e me apaixonei pela área utilizando o celular. Só depois de muito tempo consegui minha primeira câmera. O celular é uma ferramenta que nos acompanha em qualquer lugar, então possibilita que a gente registre o cotidiano o tempo inteiro. Quem tem uma boa ideia na cabeça, criatividade, conhece a técnica, estuda composição, enquadramento, iluminação, narrativa, ou seja, tem uma linguagem fotográfica trabalhada, vai conseguir ter resultados fantásticos com qualquer ferramenta, seja em um celular, seja numa câmera. A diferença é que com a câmera você também vai precisar conhecer a técnica do equipamento e saber configurá-la a cada mudança de iluminação do ambiente, que muda só na passagem de uma nuvem, com o celular o processo se torna mais simples.
Como foi o processo de edição?
Zeca - Bom, tínhamos muitas imagens. Muitas mesmo. Escolhi as que representavam melhor a ideia da letra, ou seja, o mar. É a nossa relação com a natureza. Nós mesmo somos natureza. Isso é buscar de novo a própria verdade. Foi assim que superei a própria Fata Morgana que a música sugere; uma saída pela praia, pelo mar. O mesmo mar que condena à miragem é o que abençoa com o descanso de um ritmo eterno das ondas. Busquei esse ritmo na edição.
Quais aplicativos vocês usaram para o videoclipe?
Kamila - O aplicativo usado foi o 8mm. É um aplicativo disponível pro sistema IOS que simula uns efeitos de filmes antigos, anos 30, 60 e até 70. Alguns nomes dos filtros do aplicativo diz o ano que ele representa. Então, o app traz algumas características de ruídos, vazamentos de luz, poeira, ruídos, tremores, cores diferentes, que deixam a filmagem com esse sentimento de lembrança também, memórias, que eu gosto muito de relacionar.
Quanto tempo durou a captação das imagens?
Kamila - As filmagens duraram o tempo da nossa viagem, 3 ou 4 dias. Todos os dias íamos à praia, alguns dias fomos bem cedinho, 6h30 já estávamos lá caminhando, e foi nesse caminhar que fizemos as imagens. Saímos 2 dias de Enseada dos Corais e fomos andando até Calhetas, subindo aquela pedra grande que separa a praia de Gaibú. A cada parada para um mergulho a gente aproveitava alguma cena. Então, além de curtir a viagem, nosso momento ali, aproveitamos para produzir também. Cada dia a gente poderia se deparar com uma fotografia diferente do cotidiano ali, as praias eram as mesmas mas os acontecimentos mudam e podem trazer coisas novas para compor o que tínhamos em mente. E assim fizemos as gravações de Fata Morgana.
Esse é o primeiro videoclipe do álbum. Por que a escolha dessa música? Podemos esperar novos vídeos do disco?
Zeca - Essa faixa mostra muito do que eu venho ouvindo; música eletrônica e ambiente em geral. Quis trazer isso como carro-chefe. Estou um pouco cansado da fórmula do rock. Amo Rolling Stones, Beatles, amava Nirvana quando tinha 14 anos, mas quero ser eu mesmo com a idade que eu tenho, ou seja, 38 anos. Gosto de New Age, brega dos anos 80, de synthpop, de trilhas sonoras, de drone music, etc. Não queria soar como "anos 70", "udigrudi" ou coisa parecida. Acho que não precisamos ter que botar uma viola no disco para simular e ser considerado "psicodelia pernambucana". O próximo videoclipe é o da faixa "Amigo Umbilical". A faixa já está pronta e foi feita com imagens de arquivo daqui mesmo de Recife.
Assista o clipe!
Assista o clipe!
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Zeca
Viana é Mestre em Sociologia (UFPE), bacharel e licenciado em
Filosofia (UFPE). Professor, pesquisador, músico, produtor e
apresentador do programa Recife Lo-Fi na Frei Caneca 101.5 FM. Foto:
Kamila Ataíde
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Kamila
Ataíde, fotógrafa pernambucana, publicitária e produtora
cultural. Trabalha com ensaios, experimentos em fotografia e vídeo e
conduz projetos pessoais, tendo dado vida aos projetos Varanda,
Rutilismo e Maternité. Instagram: @kamilaataidefotos