Nascer sob o signo de leão com ascendente em leão e a lua em virgem tem lá suas peculiaridades, estereótipos, vantagens e desvantagens. Nunca fui mesmo de seguir cartilhas e obedecer padrões. Mas são anos de terapia pra acalentar a criança e despertar a autoestima da mulher. Uma trajetória de erros e acertos, sobrevivendo a tempestades, abandonos e principalmente ao estigma familiar. Mas “viver é melhor que sonhar”, e apesar de tanta porrada, continuo sem me curvar as receitas milagrosas de felicidade, a estupidez seletiva, a cloroquina e todas essas aberrações contemporâneas. No ano da pandemia, da banalidade do mal, do fascismo descarado e da perda de tantas e tantas vidas, teimo em respirar. E canto, caros amigos, qualquer canção dissonante que não normalize o ódio e referende o vil metal: Eu vi, eu vi/O amor é o meu país.
Faço da angústia uma prece, me solidarizo com desconhecidos que não se contentam em aceitar o inferno que se transformou uma ideia de nação. Meu coração reverbera ancestralidades e pulsa na agulha de uma radiola: Não se impaciente/O que a gente sente, sente/Ainda que não se tente afetará/O afeto é fogo/E o modo do fogo é quente/E de repente a gente queimará.
Para vocês deixo a minha verdade menina, a voz senhora, o meu desejo de vida longa na rebeldia do meu filho. Sou vocês: tatuagem, sorriso, memória de cartão postal e vinho barato. Sou as pontes do Recife, um vinil arranhado dos Beatles, um coração na curva de um rio. Estou naquela esquina ouvindo “Girls Just Wanna Have Fun”, celebrando bêbada o primeiro dia do resto de nossas vidas, acendendo uma vela para os marginalizados, mergulhando no verde-azul do mar de Calhetas, desafinada, tropeçando nos versos de uma canção de Madonna: Borderline, feels like I'm going to lose my mind/You just keep on pushing my love/Over the borderline...
A ovelha negra, a promessa, a dívida. E tomo de volta, sem medo de existir, as palavras que nunca escrevi, mas são minhas: Baby, compre o jornal e vem ver o sol/ Ele continua a brilhar apesar de tanta barbaridade.
E mesmo que uns não queiram o sol há de brilhar mais uma vez.
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*para a amiga Tommy Kondo, também regida sob o signo de leão, que divide comigo a mesma data de nascimento.
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*para a amiga Tommy Kondo, também regida sob o signo de leão, que divide comigo a mesma data de nascimento.
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Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.