Por Taciana Oliveira__
Conversei com o artista Alexandre Soares, criador do HQ – 10ºSímbolo, um projeto que se encontra em fase de produção por financiamento coletivo. Na entrevista o artista comenta sobre as dificuldades do mercado independente e da sua primeira experiência com o crowdfunding. Segue o link da campanha: https://www.catarse.me/mangahq10osimbolo
1- Como nasce a tua história na criação de HQs no gênero mangá?
Desde muito novo, por volta dos meus 03 anos de idade, comecei a dizer que seria um desenhista. Meu primeiro contato com quadrinhos, como a maioria das crianças, foi com revistas infantis no estilo cartoon e posteriormente com a de super-heróis, através do meu irmão mais velho que tinha uma coleção. As HQ's de super-heróis rapidamente se tornaram minha preferência, e também comecei a colecionar de fato por volta dos meus 10 anos de idade. Já na questão dos mangás, meu primeiro contato com a cultura de desenhos japoneses foi através dos animes, mais precisamente com o Anime Robotech, também chamado de Macross, por volta do fim dos anos 80. Desde então, foi um despertar, pois apesar de começar a ilustrar propriamente no estilo cartoon e o comics americano, realmente fui percebendo que tinha bastante afinidade com o estilo nipônico de ilustração e ele acabou se tornando meu principal estilo de criação. Um detalhe e fato engraçado que posso destacar, é que, como todo mundo na época dos anos 90, acabei entrando na febre dos Cavaleiros do Zodíaco, e a partir daí, realmente comecei a me especializar cada vez mais no estilo mangá, mas só por volta dos meus 15 para 16 anos é que eu realmente soube que estava desenhando neste estilo, pois até então, só procurava desenhar parecido com aquele traço que achava tão fascinante na época, e assim foram uns 4 anos desenhando, dos 12 até os 16 anos, sem saber o nome mais técnico do estilo que estava gostando tanto (hehehehe...). Foi também com 16 anos que comecei alguns trabalhos profissionais como ilustrador free-lancer, mas eram trabalhos com vários outros estilos de ilustração, pois gosto de todos. Porém, de fato, procurei cada vez mais criar meu próprio estilo de traço de mangá estilizado. Nesta mesma época produzi meu primeiro fan-zine, com apenas 10 páginas (dentro de um curso que fiz para aprender melhor sobre criação de roteiro e produção de quadrinhos), mas que viria a se tornar a base da história que estou produzindo hoje, chamada de 10º Símbolo. Hoje, mais de 20 anos depois, procurei estabelecer um universo expandido para aqueles dois primeiros personagens do meu fan-zine. Durante todos estes anos, nunca perdi de vista essa primeira criação, pois fui sempre criando novos personagens, novos elementos, evoluindo e amadurecendo seus conceitos, bem como o meu próprio traço de desenho refinando-o cada vez mais, até ter suas características mais essenciais e particulares, mas ainda assim, sendo reconhecido como um estilo de Mangá.
2 - Fala pra gente do seu novo projeto e da forma de financiamento?
Bem, o meu "novo projeto" nem é tão novo assim, como disse na pergunta anterior, a história do meu Mangá tem uma base antiga em meu primeiro fan-zine, que sempre pretendi que seria algo maior, mas que precisava amadurecer deixando com mais objetivo, sendo algo mais coeso e polido. Enfim, cheguei a um eixo onde a trama pode ser bem entendida, mas também possui bastante abertura para promover a descoberta do leitor, pois procurei criar algo diferente, que abordará ideias interessantes que nunca vi em lugar algum, e mesmo que alguma coisa guarde semelhança com certas referências ou algo que já existe, também fiz questão de me esmerar para abordar de forma única. O enredo principal do Universo do Mangá 10ºSímbolo se passa em um mundo futurista pós-apocalíptico, ao final do século XXI, onde surgiram cinco novas espécies de seres humanos. O mundo, então, enfrentou conflitos genocidas onde 3/4 da população foi dizimada. Entretanto, a maior ameaça surge quando um poder externo se sobrepõe aos humanos restantes, que já cansados de lutarem entre si, não puderam resistir. Ainda sim, existem seres com grandes habilidades dispostos a lutar. Eles já foram chamados de muitos nomes nas lendas esquecidas através do tempo, mas foram sempre mais reconhecidos por Guardiões-Guerreiros ou Portadores dos Símbolos. Entretanto, a corrupção da própria humanidade também se fez presente nos Guardiões do Símbolos, e em sua primeira investida contra a nova ameaça eles foram derrotados, quase mortos, e for fim, relegados a ocultação para a mera sobrevivência. Após três séculos, uma nova gênese de Guardiões se ergueu. A chama da esperança ressurge, mas ela não poderá sobreviver sozinha. Essa é a ideia principal, e com essa base desejo abordar conceitos de ficção científica, seres humanos evoluídos, mas onde essa evolução necessita do esforço dos indivíduos mesmo os predispostos a terem certas habilidades diferentes, e também irei apresentar nuances espiritualistas em um mundo distópico e diferente, mas que ainda preserva a esperança de um novo começo para a humanidade.
Quanto a forma de financiamento, depois de analisar bem várias plataformas, acabei escolhendo o Catarse, pois vi como uma das mais confiáveis, conhecidas e atrativas. Também acabei observando que sua equipe é bastante solícita tentando ajudar em tudo que for possível. Essa é minha primeira experiência como criador de um projeto utilizando uma plataforma crowdfunding, mas estou achando bastante interessante, pois também vi vários projetos sensacionais na plataforma. Observei que muitos deram certo ao encontrar o seu público e criar uma via mais direta de interação, e por isso resolvi também me arriscar nesse meio, pois o que achei mais interessante é o total controle que o criador tem sobre sua obra, assim como a tremenda responsabilidade envolvida, e isso realmente foi o que achei mais atraente.
3 - Quem são seus ídolos ou referências na produção artística?
Sou bastante eclético quanto ao meu gosto artístico, por isso tenho várias referências diferentes e uma lista de vários artistas de quadrinhos, vou citar os que eu mais gosto e admiro. A lista é um pouco extensa, mas vamos lá!
EUA:
- Joe Shuster e Jerry Siegel (criadores do personagem Superman da DC Comics);
- Jack Kirb (criador e co-criador de vários personagens da Marvel e DC Comics);
- Todd McFarlane (criador do personagem Spawn, na Image Comics);
- Greg Capullo (ilustrador muito conhecido pela revista do personagem Spawn);
- Omar Dogan (ilustrador da revista Street Fighter Legends);
- Jim Lee (ilustrador com vários trabalhos para Marvel e DC, e um dos fundadores da Image Comics);
- John Romita Jr. (ilustrador conhecido por seus trabalhos nas revistas do Homem-Aranha e Demolidor da Marvel);
- Alex Ross (ilustrador de várias Graphic Novel's pintadas tanto para Marvel, quanto para DC Comics);
- Edward "Ed" Mcguinness (desenhista bastante conhecido por seus trabalhos para a Marvel);
- Charles M. Schulz (cartunista criador da série Peanuts e dos personagens Charlie Brown e Snoopy);
FRANÇA:
- Albert Uderzo e René Goscinny (criadores dos personagens Asterix e Obelix);
- Jean Giraud (conhecido principalmente como Moebius, com muitos trabalhos de destaque diferenciado, inclusive para a Marvel);
BRASIL:
- Roger Cruz (ilustrador de inúmeras edições da Marvel, se destacando com os X-Men);
- Arnaldo Angeli Filho, o Angeli (chargista e criador de inúmeros personagens como Bob Cuspe, Os Skrotinhos, Rê Bordosa, entre muitos outros);
JAPÃO:
- Akira Toriyama (ilustre criador do famoso título Dragon Ball);
- Hiroaki Samura (destacado criador do mangá - Blade - A Lâmina do Imortal);
- Takehino Inoue (criador do mangá: Slam Dunk);
- Yukito Kishiro (criador do mangá e obra clássica de cyberpunk futurista: Battle Angel Alita);
- Kinu Nishimura (artista e ilustrador de videogames e animes, sendo bastante conhecido pelo design de personagens e artes de jogos de luta da Capcom e SNK dos anos 90, com destaque para as séries de jogos Street Fighter II e King of Fighters);
CORÉIA DO SUL:
- Kim Sung Jae e Kim Byung Jin (criadores do manhwa: Chonchu - *uma espécie de mangá só que coreano);
4 - Quais as principais dificuldades encontradas pelo artista independente?
Creio que uma das principais dificuldades do artista independente é conseguir recursos para se manter com foco em seus objetivos voltados exclusivamente a sua arte e a busca ou a criação de oportunidades na produção de suas ideias. Um exemplo disto é que nosso país é um celeiro riquíssimo de fontes criativas, com muitos artistas talentosos, com propostas únicas, mas que infelizmente não possuem o apoio, o espaço e o alcance necessário para poderem viver exclusivamente de sua arte, tendo que dispor de muito do seu tempo em outras atividades e trabalhos, que muitas vezes nem ter haver com a sua veia artística e com o único propósito de terem como pagar as suas contas no final do mês. Percebo que muitos gostariam e/ou poderiam se aproveitar de alguma fama ou exposição de seu trabalho, que os auxiliaria em suas carreiras como artista, mas no fim, o que realmente buscam e desejam é viver dignamente do seu trabalho como qualquer outro profissional de qualquer outra área. Apesar das várias plataformas hoje em dia disponíveis de divulgação, como as redes sociais que ajudam na apresentação destes autores, ainda há uma cultura pouco desenvolvida sobre a arte independente dos quadrinhos como uma profissão abrangente, significativa e até mesmo necessária no Brasil. Entretanto, apesar destas dificuldades, o lado bom que vejo, é que há bastante espaço para se evoluir, basta o incentivo ou o reconhecimento certo para o seu desenvolvimento mais apropriado para que todos os artistas e suas ideias possam, enfim, encontrar o seu público.
5 - Como contribuir com a campanha de financiamento coletivo do 10ºSímbolo? Quais recompensas?
É muito fácil contribuir com a campanha, basta acessar o link: www.catarse.me/mangahq10osimbolo
Lá na página da campanha do Catarse todos os que desejarem apoiar com o financiamento vão ter muita informação e conteúdo, explicando cada passo e de como será a produção da revista e recompensas. Eles também vão encontrar uma descrição bem completa de todas as recompensas e as combinações possíveis, são 12 combos ao todo, que vão desde a revista em formato digital e impresso, indo até mesmo camisetas ou quadros emoldurados. Realmente procurei ter muito carinho e atenção nas recompensas, visando um ótimo valor agregado aos combos, pois desejo que todo o apoiador se sinta realmente engajado na minha proposta, recebendo toda a consideração possível da minha parte e se reconhecendo como parte ativa e essencial do que para mim é mais do que um projeto, é toda uma vida dedicada a crença que tenho sobre a arte das HQs e Mangás. Desejo produzir e entregar recompensas com as quais os apoiadores se sintam presenteados e muito estimados por mim. Outra pretensão minha é que esse seja o primeiro projeto de uma série de no mínimo 10 edições, e posteriormente, conforme as coisas forem dando certo, mais 08 edições especiais que irão complementar a série principal. Então peço a todos que participem, e se não puderem apoiar de imediato, a divulgação do link já será de grande ajuda e terão a minha mais sincera e imensa gratidão no esforço de promover este projeto. Também estou muito grato pela oportunidade da apresentação do meu projeto através do site Mirada Janela Cultural.
Alexandre Soares Ribeiro é um apaixonado pela arte da ilustração, e já na mais tenra idade dizia que esta seria a sua vocação. Possui mais de 20 anos de experiência profissional dedicados a ilustração. É formado em Comunicação, na área de Publicidade e Propaganda, com mais de 10 anos voltados a criação e edição gráfica, design e direção de arte. É um autodidata que procura sempre aprender constantemente inúmeras técnicas de edição de imagem, criação, ilustração e pintura digital. Gosta de explorar ao máximo tudo que considera interessante, através de vários estilos bem diferentes de arte tanto do ocidente, quanto do oriente, e desta forma criou os principais fundamentos artísticos que carrego consigo até hoje. Uma frase de de sua autoria resume bem todo o seu amor e dedicação voltados a arte da ilustração: “Meu coração pulsa a cada traço e minha alma é praticamente feita de grafite!”
Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.