por
Taciana Oliveira__
Conversamos
com a escritora mineira Francélia Pereira, que atua na produção do
gênero Light Novel. Na entrevista a autora de Habitantes
do Cosmos e do HQ Artemísia,
fala dos seus próximos
lançamentos, da parceria com Ton Lima e das dificuldades do mercado editorial independente.
1
– Fala um pouco da tua trajetória. De onde vem a paixão pela
literatura fantástica e pelos quadrinhos?
Comecei
a escrever meu primeiro livro, Habitantes do Cosmos, no final
de 2013, que foi finalizado no início de 2014. Alguns meses após
finalizar esse livro escrevi meu primeiro roteiro de Quadrinho, que é
o capítulo 1 da HQ da Artemísia. A personagem surgiu no
final do livro e eu queria contar mais sobre ela, mas nos Quadrinhos.
Só que eu não tinha a menor ideia de como publicar uma HQ e o
roteiro ficou bem amador. Cheguei a enviar o roteiro pra uma seleção
da Editora Draco, mas não foi aprovado. Comecei a pesquisar
sobre roteiro, comprei alguns livros sobre o assunto, e foi então
que decidi escrever a história da Artemísia em livro, mas
com uma linguagem mais próxima dos Quadrinhos. Posteriormente um
amigo meu, o David Dornelles, me falou que eu escrevia no
gênero Light Novel (eu não conhecia o gênero até então).
A
primeira publicação do Artemísia foi em um blog. Depois
consegui publicar pela Editora Buriti, mas o texto ainda era
bem amador. Com o tempo, fui ouvindo os feedbacks dos leitores e
lapidando o texto. Em 2016 conheci o Ton Lima, através do
Léo Andrade, e fizemos a primeira ilustração da Artemísia.
Por causa da Artemísia, Habitantes do Cosmos virou uma
Série de Light Novel. Mas só em 2018 tive certeza se queria mesmo
seguir publicando livros, até então eu vacilava muito e pensei
várias vezes em desistir.
Minha
paixão por Literatura Fantástica e pelos Quadrinhos vem desde a
infância. Na fase adulta parei de ler ficção e só voltei a ler HQ
depois de conhecer a obra do Alan Moore, que foi o autor que
me inspirou a escrever nesse gênero.
2
– Como nasce a parceria de Francélia Pereira e Ton Lima?
Em
2016 sugeri a um amigo, também escritor, que fizéssemos um evento
virtual no Facebook. Na época esses eventos eram muito bons pra
divulgar as obras. Só que sugeri que fizéssemos um evento virtual
temático, com obras de mídias diversas que exaltassem as culturas
indígenas e o folclore nacional. Reunimos artistas de games,
literatura, Quadrinhos, desenhistas, etc. e como precisávamos dar um
nome ao evento, o nome escolhido pelo grupo foi Vozes Ancestrais.
O Léo, que também conheci nesse grupo, convidou o Ton, que na época
tinha um projeto de Quadrinho que se encaixava na temática, e quando
vi o traço dele eu soube que ficaria perfeito pro meu projeto.
Depois da Artemísia fizemos algumas ilustrações e em 2017
apresentei o projeto do Quadrinho pro Ton. O primeiro volume foi
produzido em 2018 e o Ton fez o lançamento na CCXP.
3
– Como funciona o mercado editorial independente? Qual a tua
experiência nos últimos anos?
Quem
publica de forma independente tem que fazer todo o processo de uma
Editora, mas geralmente sem os recursos necessários. A gente se vira
com o que tem, ou seja, equipamento ruim, programas que quebram um
galho, pouco dinheiro, ou nenhum, pouca divulgação, etc. As
plataformas como o Catarse ajudam muito nesse processo, pois através
delas conseguimos recursos pra viabilizar alguns projetos, mas nem
sempre conseguimos alcançar a meta necessária.
Com
poucos recursos e pouca divulgação temos que competir com as
grandes Editoras, mas a parte mais difícil é convencer o leitor de
que vale a pena investir na produção nacional, já que existe um
padrão de obras estrangeiras já consagrado no mercado, onde o
investimento é certo.
Até
o início de 2016 tudo parecia menos difícil, no meio independente,
pois as divulgações nas redes sociais tinham um alcance muito maior
e as pessoas estavam mais abertas ao diálogo e a conhecer novidades.
A partir do segundo semestre de 2016, tudo ficou mais complicado, mas
começo a sentir uma melhora, agora, no que se refere ao interesse do
público por obras nacionais, só que ainda tenho receio quanto ao
futuro próximo das produções independentes, já que não sabemos
quais mudanças ocorrerão no meio editorial e como essas mudanças
irão nos afetar. Sinto que a produção independente ficou muito
vulnerável e dependendo das mudanças esse setor corre o risco de
desaparecer.
4
– Existe alguma estratégia, mesmo com a concorrência das grandes
editoras, para divulgação das obras nacionais?
Cada
autor desenvolve uma estratégia. Alguns apostam em vídeos, outros
apostam no humor com memes e piadas nas redes sociais, há quem
consiga divulgar em Escolas... Mas cada estratégia depende do gênero
escolhido para as obras e da personalidade do autor, o que funciona
para um nem sempre funcionará para outros. Mas o básico é estar
sempre presente nas redes sociais, em grupos virtuais ligados ao tema
publicado e, sempre que possível, participar de eventos presenciais.
5
– Quais títulos que você destacaria no cenário independente?
Das
HQs nacionais, tenho seguido o trabalho do Denis Mello, com o
projeto Teocrasília, que é uma distopia assustadora ligada à
nossa realidade, de alguns anos pra cá.
No
meio literário tem o Jean Gabriel Álamo, que vem se
destacando na Fantasia Urbana, com uma pegada bem brasileira.
6
– Como se define o gênero Light Novel?
Light
Novel é um gênero narrativo japonês que, de forma resumida, é um
intermediário entre o tradicional Romance e os Quadrinhos.
O
gênero se diferencia, basicamente, por apresentar um texto com
linguagem simples, com vários diálogos e descrições na medida
certa, além de ilustrações inspiradas nos diversos estilos de
HQ’s.
O
objetivo do gênero Light Novel é proporcionar uma leitura rápida,
mas sem abrir mão da qualidade.
7
– Quais os autores e desenhistas que te influenciaram ?
Os
autores que mais me influenciaram na ficção são o Alan Moore
e o Aldous Huxley. Em trabalhos de não-ficção, as obras do
Kaká Werá me inspiraram bastante.
8
– Como nasce Artemísia? Como a personagem ganha o formato de HQ?
Artemísia
é uma personagem que surgiu, de forma despretensiosa, no final do
livro Habitantes do Cosmos – que é um Romance. Após
finalizar esse livro, a personagem ficou insistente na minha mente,
às vezes até sonhava com ela, então ousei escrever um roteiro de
HQ com essa personagem, mesmo sem ter a menor noção de como se
escrevia um roteiro. Nessa época, publicar uma HQ ainda era um sonho
distante, então desenvolvi a história da Artemísia em
livro. O tema principal da história é o gênero feminino e por isso
utilizei mitologias de povos diversos, todas ligadas ao tema. Como
nasci no Brasil, encontrei nas histórias indígenas das Icamiabas
e do Jurupari a inspiração para compor a alma da minha
ficção e assim a Artemísia ganhou essa ancestralidade no
universo da Fantasia, mesmo vivendo bem distante no tempo, no futuro.
Em
2017 apresentei para o Ton o roteiro e o projeto da HQ, e em 2018
publicamos o volume 1. Desde então, todo ano tentamos lançar a
campanha do volume 2, mas sempre acontece algum contratempo.
9
– Você está trabalhando em algum novo projeto?
Ainda
estamos trabalhando no projeto da Artemísia. A meta é
concluir a história em no máximo quatro volumes, mas com os
problemas atuais, devido à pandemia, estamos sem previsão pra
concluir essa HQ.
10
– Como os leitores podem acessar teus livros?
Todos
os meus livros estão disponíveis em formato digital na Amazon.
No Facebook há a página da série de Light Novel Habitantes doCosmos e a página da HQ. Para mais informações basta entrar em
contato comigo no Instagram.
Para acessar duas obras gratuitamente: clica aqui
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Ton
Lima é goiano, formado em ciências
econômicas e é artista de quadrinhos (isso faz sentido na cabeça
dele). Trabalha como quadrinista e ilustrador, inclusive ilustrou as
light novels da série Habitantes do
Cosmos. Atualmente está finalizando
uma série de quadrinhos, Category
Zero, publicação da Scout
Comics.
Taciana
Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do
Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema,
música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder
do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter
coragem.