por Taciana Oliveira__
Caros, sou uma beatlemaníaca incurável. Defendo com unhas e dentes o legado dos quatro rapazes de Liverpool. Confesso que algumas vezes posso até exagerar, no entanto minhas argumentações são sinceras e legítimas.
Na primeira vez que ouvi o álbum Revolver tive certeza que algo mudava em mim: o amanhã nunca se sabe, mas minha alma pertencia àquele tempo-espaço de cada composição. Sigo uma longa estrada sinuosa, e com a ajuda dos amigos, apesar de tantos pesares, cá estou sobrevivendo a este mundo vil.
Eu sou da América do Sul. Eu sei, Paul, John, George e Ringo não irão saber. Mas agora sou Sexy Sadie, sou Pernambuco, sou vocês.
Nessa narrativa não há necessidade de citar as milhares de referências técnicas, musicais e biográficas, ou mesmo enumerar todos os hits number one nas paradas de sucesso. Todas essas canções estão na minha pele e na trajetória emocional de muita gente. Elas nos deram mastro para os dias tempestuosos:
And when the night is cloudy
There is still a light that shines on me
Shine on until tomorrow
Let it be, The Beatles
Da simplicidade dos acordes para a psicodelia, dos versos ingênuos e experimentações com a música erudita e eletrônica, é improvável que a contribuição dos Beatles não reverbere com força em 2020. Impossível, por exemplo, não evocar o delicado apoio contra segregação racial composto por McCartney para o Álbum Branco:
Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly…
Blackbird , The Beatles
Foram nos anos de paixão incondicional pela banda que tive o prazer de dividir sonhos e experiências com figuras fundamentais para o meu crescimento poético-espiritual. Os Beatles lapidaram gerações para o amor e a revolução. A sua existência promoveu, e ainda promove, afetividade para uma vida inteira. Aproveito a ocasião para dedicar esse texto a uma amiga-irmã de longa data.
No segundo semestre de 1989, eu chegava ao Centro de Artes e Comunicação, na UFPE. Meus anos na universidade pública romperam com a tradição familiar quando optei em não cursar Ciências Contábeis, algo que meu irmão já tentara escapar, mas foi totalmente desmotivado pela pressão paterna.
Na minha primeira aula fui fisgada para o centro gravitacional de Maria Jovelina. Naquele encontro não passamos apenas a dividir nossa paixão pelo grupo, mas a celebrar uma irmandade tatuada e reverenciada em cada verso da canção In my life.
E hoje, no ano da pandemia, da intolerância e hipocrisia, a nossa amizade se faz presente nos mínimos gestos de cumplicidade. Maria Jovelina é uma profissional de sucesso e responde pelo nome de Lina Fernandes. Sua voz ecoa na história do rádio pernambucano. Seus amigos a veneram. Eu a venero. Ela é a minha Jô, meu alicerce na alegria e na tristeza. Meu melhor abraço. O cobertor para me defender do frio. Alguém para cantar a pleno pulmões:
Here comes the sun,
And I say
It's all right
Here comes the sun, The Beatles
Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.