por Taciana Oliveira __
Na edição semanal do Mirada uma entrevista como o produtor e músico Maurício Tagliari, vencedor do prêmio APCA pelo álbum “Nereu Gargalo”, do Trio Mocotó; e finalista como Compositor de Melhor Trilha Original da Associação Brasileira de Cinematografia pelo filme “Mundo Cão”. Maurício, em tempos de pandemia e isolamento, concebeu em home estúdio o seu segundo álbum solo Maô: Falta de Estudo #1. No mesmo período também se dedicou ao gênero videoclipe e produziu: Insead Head, Yamamoto, Diabim (com Lenna Bahule) e Pele Olho Coração (com Laya).O último com estreia programada para 06 de outubro.
Em nossas conversas virtuais, Maurício confessa: Estou adorando voltar às raízes de minha formação audiovisual e devo lançar em breve mais clipes.
1 - “Maô: Falta de Estudo #1 é o segundo álbum de uma trilogia. Como você classifica seu mais recente trabalho e como ele se conecta com o anterior?
Sempre fui um músico e um produtor de projetos coletivos. Bandas como Nouvelle Cuisine, The Universal Mauricio Orchestra, Tanino, Utopia Retrô são encontros de amigos em torno de ideias estéticas. Quando, em 2018, resolvi reunir algumas canções criadas em parceria com artistas amigos abri um caminho para o meu primeiro disco solo MAô: Contraponto e Fuga da Realidade. Eram parceiros que muitas vezes nem se conheciam entre si mas que formavam um bom painel de talentos emergentes da nova música brasileira. Uma consequência natural foi também transformar as gravações em celebrações de amizade. No final das contas foram mais de 30 pessoas entre parceiros e amigos músicos gravando. Depois de ter feito esse primeiro disco solo (quase um “evento" entre amigos) planejava fazer algo mais intimista e realmente solo. Mas quando veio a pandemia isso virou condição. E acabei produzindo MAô: Falta de Estudo #1.
2 - Esse projeto também nasce durante o isolamento imposto pela pandemia. Conta pra gente como foi viver esse solitário processo criativo.
Tenho quase 30 anos de vida e trabalho dentro de estúdio. Com o lançamento de meu primeiro solo, pensava em retornar aos palcos. Mas o isolamento frustrou esse objetivo. Fiz poucos shows e tive que cancelar outros. Concentrei meu trabalho de criador e produtor de trilhas sonoras num home studio. Durante o tempo de instalação dos equipamentos aproveitei para transformar o aprendizado das ferramentas em música. Assim nasceu o MAô: Falta de Estudo #1. Cada faixa é, de certa maneira uma experiência com uma ferramenta, um programa, um pedal de guitarra. Foi muito divertido e havia uma esperança meio assustada daquele começo do isolamento. Eu não imaginava que a reação à pandemia no Brasil pudesse ser tão terrivelmente desarticulada. Enquanto eu gravava, às vezes eu escutava o panelaço Fora Bolsonaro e até ficava animado.
3 - Em Inside head, videoclipe+música evocam uma colagem sonora do experimental ao jazz, passando por um timbre dance-percussivo em uma montagem visual psicodélica vibrante. Os versos "Eu sei tudo, mas não entendi" é uma referência aos nossos tempos negacionistas?
Esse vídeo é muito inspirado na História do Cinema de J.L. Godard. Ele tem essa ideia de buscar nas origens, nos filmes que estão em domínio público, imagens que dialoguem e expliquem o presente. Na verdade esse verso vem de uma outra música minha ainda inédita. É um côco embolada psicodélico com uma letra maior que se explica melhor. Trata desses tempos de negacionismo, sim. De um mundo em que as redes sociais elevaram a opinião não embasada a "verdade" compartilhável. Na real é um desabafo que não incrimina. Apenas. Ele também assume a complexidade do mundo hoje mais do que nunca. Quem de nós pode dizer que sabe como funcionam os algoritmos? O mercado financeiro? Os trâmites do judiciário ou do legislativo? A produção do agronegócio? O mercado da música? Tudo é muito complexo e o cérebro humano não dá conta. Sendo que grande parte da complexidade é do interesse do sistema.
4 - Você tem uma história marcante na cena musical de São Paulo como integrante da banda Nouvelle Cuisine e dos grupos de jazz Utopia Retrô e Tanino. Como se inicia a criação da gravadora ybmusic e o teu mergulho na produção publicitária e no mercado audiovisual?
Ainda nos tempos de faculdade de comunicação (estudei RTVC na ECA-USP) eu queria entrar na indústria da música. Mas as coisas acontecem de maneira enviesada. Fui fazer uma assistência de direção em uma montagem teatral para meu professor Antônio Abujamra e ele me colocou para cuidar da trilha sonora junto à agência DPZ, uma das patrocinadoras. Acabei aceitando o convite para trabalhar como produtor de campo deles e entrei em contato com os melhores estúdios e músicos na SP da época. Fui contagiado pelo vírus da produção musical. Depois passei um tempo como freelancer e acabei criando a ybmusic, com o objetivo de trabalhar com trilhas de publicidade, cinema e produção de discos. Na época não pensava em ser um Selo ou Gravadora. Queria produzir e licenciar ou revender para grandes gravadoras. Tanto que o primeiro disco foi Samba Pra Burro, do Otto, vendido para a Trama.
5 - Maô: Contraponto e Fuga da Realidade, seu trabalho anterior e primeiro disco solo, é descrito como "um projeto de canções que foge de definições de estilo. Um registro orgânico, gravado com várias formações de banda quase sempre ao vivo." O que podemos esperar do próximo álbum? Você já começou a pensar nisso?
O MAô: Allegro Dentro do Possível, que fecha essa trilogia já está em produção. Dia 02/10 lanço Conselheiro Calado, um samba muito zen feito em parceria com Rodrigo Campos e gravado tb em dueto. Esse terceiro disco deve ser uma síntese dos dois primeiros. Conta com com colaborações e parcerias mas feitas à distância, no isolamento. Claro que não haverá faixas com formações grandes. Mas não será um disco solo "solitário" como o segundo. Outro aspecto é a sonoridade. Enquanto no primeiro tudo foi muito orgânico, acústico, sem processamentos ou no máximo uma pequena eletrificação e no segundo tudo foi mediado pela eletrônica e pelos processamentos, nesse terceiro trabalho quero ter a liberdade de usar andar pelos dois caminhos o tempo todo de acordo com a vontade do material sonoro...
Track List
Maô- Contraponto e Fuga da Realidade
Produção: Mauricio Tagliari e Jesus Sanches
Engenheiros de gravação: Fernando Rischbieter, Diego Techera, Fred Pacheco, João Antunes, Pedro Vinci, Carlos Cacá Lima
Mixagem: Jesus Sanches
Masterização Carlos Cacá Lima
1. Silêncio em Prata ( Maurício Tagliari/ Rosane Pavam/ Rodrigo Campos)
Participação especial Rodrigo Campos - cavaco e voz
Mauricio Tagliari - violão e voz
Marcelo Cabral - baixo
Ariane Molina - percussão
Victoria dos Santos – percussão
2. Pele, olho, coração ( Maurício Tagliari/ Laya)
Participação especial Laya - voz
Mauricio Tagliari - voz, guitarra, baixo, teclados
Luca Raele - teclados
Ariane Molina - percussão
Dee Macaco – percussão
3. Diabim ( Maurício Tagliari)
Participação especial Lenna Bahule - voz
Mauricio - guitarra, voz, tianhou
André Piruka- kora, percussão
Jesus Sanches - baixo
4. Sede ( Maurício Tagliari / Luedji Luna)
Participação especial Luedji Luna - voz
Mauricio Tagliari- violão, cavaco e voz
Mauricio Pereira- sax tenor
Ariane Molina - percussão
Victoria dos Santos - percussão
Igor Caracas - percussão
Guilherme kafé – baixo
5. Bando à Parte ( Maurício Tagliari/Clima)
Mauricio Tagliari- violão, guitarra, pandeirola, voz
Maria Portugal - bateria
Thomas Harres- bateria
Antonio Loureiro - vibrafone
Maria Beraldo- clarone
Luca raele - clarinete e arranjo de sopros
Jorge Ceruto – trumpete
6. Yamamoto ( Maurício Tagliari/ Juliana Perdigão)
Participação especial Juliana Perdigão - voz
Mauricio Taglairi - voz, pandeirola e guitarra
Danilo Penteado - baixo acústico
Antonio Loureiro - bateria
Chicão Montorfano – Hammond
7. Maria da Graça ( Maurício Tagliari/Saulo Duarte)
Participação especial Saulo duarte- violão e voz
Mauricio -violão e voz
André Piruka- percussão
Guilherme Kafé- baixo
Nereu São José -pandeiro
8. Deixa Quem Quiser Falar ( Maurício Tagliari /Ronaldo Bastos)
Participação especial Pélico - voz
Mauricio Tagliari - violão, cavaco e voz
Thomas Harres - bateria
Gabriel BUBU Mayall - baixo
Nereu São José – pandeiro
9. Nunca Te Vejo ( Maurício Tagliari/Veronica Pessoa)
Participação especial Assucena - voz
Mauricio Tagliari - violão e voz
Guilherme Kafé - violão
Ricardo herz - violino
Ariane Molina - percussão
Victoria dos Santos - percussão
Igor Caracas - percussão
10. Pode Beijar ( Maurício Tagliari/ Thais Amora)
Participação especial Thais Amora - voz
Mauricio Tagliari - guitarras, pandeirola e voz
Beto Montag - vibrafone
Maria Portugal - bateria
Maria Beraldo - clarone
Ricardo Herz - violino
João Antunes - baixo
Igor Caracas – percussão.
Luisa Borba - poema
11. Contraponto e Fuga da Realidade (Maurício Tagliari/Negro Leo)
Participação especial Negro Leo - voz
Mauricio Tagliari- voz, pandeirola e guitarra
Maria Beraldo - clarone
Maria Portugal - bateria
Thomas Harres - bateria
Arthur de Faria - acordeon
Ricardo Herz - violino e rabeca
12. Quem Acordaria ( Maurício Tagliari / Ava Rocha)
Participação especial Ava Rocha - voz
Mauricio Tagliari - voz e guitarra
Luca Raele - clarinete e arranjo
Ricardo Herz – violino
Antonio Loureiro - vibrafone
Produção, Mixagem e Masterização: Maurício Tagliari
Você escuta aqui:
1. Autosample
2. Pigmeu Funk
3. Feedback & Distortion
4. Passageiro
5. Pigmeu Bate-Estaca
6. Inside Head
7. A sombra
Maurício Tagliari é diretor musical da ybmusic, tem sua assinatura em mais de 200 álbuns. Trabalha com teatro e publicidade. Guitarrista, integrou o grupo Calipso, a formação original da banda Nouvelle Cuisine e a Orquestra Heartbreakers. Fonte: Rádio Cultura
Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.