Mini antologia 41 poemas contra, de Carlos Barroso

 Por Taciana Oliveira__



Uma entrevista com o jornalista, poeta e artista mineiro, Carlos Barroso. Na pauta o lançamento do seu e-book mini antologia 41 POEMAS CONTRA, uma publicação disponível para download. Clica aqui para acessar o arquivo no formato interativo.

1 - A mini antologia 41 POEMAS CONTRA é uma profusão de conceitos artísticos que dialogam entre si. Qual foi a metodologia ou proposta de narrativa que você aplicou para seleção desses trabalhos ?

A minha proposta inicial, no início da pandemia (estou em completo confinamento), era elaborar uma antologia menor, com poemas verbais, "19 poemas contra Covid-19". Embora tenha trabalhado muito morosamente, talvez até como fruto desse tempo difícil e inusitado, fui acrescentando registros de arte contemporânea e também videopoemas, chegando a 40 trabalhos. Acrescentei mais um, numa brincadeira, pois tem um bar em Belo Horizonte, passo lá de vez em quando para tomar alguma coisa, chamado Brasil 41 (me identifico porque o público se parece com o do bar que existia na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas/UFMG, onde cursei Jornalismo). Fiz então uma homenagem ao 41, embora praticamente não seja muito conhecido ou figurinha carimbada de lá e eles não saibam da homenagem.

Foi uma boa mudança; uma das coisas que mais corro em literatura/arte é do óbvio. Se caio nele é de maneira desavisada ou por incompetência. E o título inicial já era o óbvio em si. Mantive o "contra" porque é bem próprio para os tempos em que vivemos. A metodologia foi simplesmente escolher os poemas e trabalhos que mais gosto, e os que tiveram mais impacto em publicações e mostras de arte que participei. Citaria poemas que falam de amor; a instalação "Descorpo"; o videopoema “Arco de Drummond”, elaborado com a autocaricatura do Poeta; o objeto-artefato "HistoryHistória" – a história rodando na lata de lixo.

2 - Você é jornalista premiado e foi comentarista político na Rede Bandeirantes. Conta pra gente como nasce a tua história nas artes plásticas e na literatura

Trabalhei na Bandeirantes (na época a emissora nem era chamada de "Band") na década de 1980, onde fui repórter e fiz uma coluna de comentário político. Sempre ganhei a vida como jornalista político. Depois da TV, migrei para os mais conhecidos jornais impressos de Minas (Hoje em Dia, Diário da Tarde, Estado de Minas). Recentemente, para completar o ciclo, escrevi crônicas políticas para "O Tempo". Portanto, sempre como comentarista ou repórter.

Trabalhava muito, tinha até três empregos concomitantes, mas nunca esqueci a poesia e arte. Antes do Jornalismo, fui do grupo fundador da Revista Cemflores , ao lado de Marcelo Dolabela (que morreu em janeiro último; ele é considerado o grande nome da poesia contemporânea em Minas), Luciano Cortez e Avanílton de Aguilar. Cemflores hoje é referência na poesia em Minas, estudada em teses de doutorado. Mas publiquei pouco. Tenho, por exemplo, uma série de objetos em que trabalho com aquários, que foi iniciada em 1992. Mas só há 10 anos retomei essa linha. Sempre fiz livros, que são chamados de objeto (sem nenhuma empáfia), elaborados um a um, a partir de uma ideia. "Carimbalas" (2008), por exemplo, todo em carimbos, montados por mim, 97 exemplares, me custou quatro meses de intenso e extenso trabalho, três ou quatro horas por madrugada. O último, CunilínguaPátria, uma latinha de vaselina com 69 poemas em cartões, também deu uma trabalheira danada. Nunca procurei uma editora (que, em compensação, também nunca me procuraram rsrs) ou entrei em concursos ou editais. Faço tudo pelo meu próprio selo, Edições CemFlores. Necessário frisar que não tenho nada contra quem faz isso, posto que irei (em breve) até procurar uma editora.

3 - Há uma infinidade de projetos acontecendo durante a pandemia. Como você se vê atuando dentro desse cenário?

Acredito que pandemia não é momento de afrouxamento ou fracasso premeditado. Embora muitas pessoas tenham sido afetadas psicologicamente pela crise sanitária, o que é compreensível, a barra política também pesou muito. Nem nos piores pesadelos seria possível pensar que um governo de extrema ignorância e desonestidade (em todos os sentidos), com práticas antipopulares, disposto a acabar com as precárias conquistas sociais acumuladas nos últimos anos, com proposta de transformar parte significativa da Amazônia em pastos e mineração destrutiva, com consequente extermínio de povos indígenas, pudesse se manter e até mesmo ter algum apoio significativo. Isso balançou muita gente. Mas é hora de trabalhar, de criar, até mesmo para refletir, repensar esse tempo difícil e danoso. Acredito, repito, sem querer dar receita para ninguém.

Além da miniantologia “41 poemas contra”, editei em seguida, na pandemia, com o poeta Jairo Fará, e participação de duas extraordinárias poetas-artistas de Minas – Vera Casa Nova e Emília Mendes – a e-plaquete 2022. A publicação antecipa a comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna (1922), com arte, poesia, questionamentos e polêmicas. É outra publicação livre, disponível: vou deixar o link aqui

4 - Qual poema ou intervenção artística da mini antologia você destacaria como um reflexo ou tradução do momento atual do país?

Já citei alguns trabalhos acima que acredito dialogar com esse tempo (“Descorpo”, a lata de lixo da História). Escrevi três textos durante a pandemia, que constam da 41 poemas contra. Outros, até mais antigos, talvez também reflitam esse tempo, não tenho certeza. Artistas sempre foram antenas de épocas enviesadas e, embora não tenha essa pretensão, acho que é possível encontrar algo disso em meu trabalho, na miniantologia. Que é livre, repetindo; quem se interessar pode pegar o link e, se quiser, repassar a outros que tiverem interesse.




Carlos Barroso – poeta, artista, jornalista. Do grupo fundador das revistas CemFlores e AquiÓ. Publicou: Poetrecos (Poesia Orbital/1997) e os livros-objeto: Carimbalas (2008); Sãos, Usura e Livraria (2010); Futebol de Barro (2014) e CunilínguaPátria (2017). E a miniantologia (e-book) 41 POEMAS CONTRA. Todos pela Edições CemFlores. Artista contemporâneo, participou das mostras: Coletiv4 (UFSJ/2015); Ocupação Poética (UFSJ/2017); Além da Palavra (Biblioteca Pública/BH/2018); minimasminas (Café Kahlua/BH/2018); Além da Palavra2 (Casa dos Contos/Ouro Preto/2018) e Faculdade de Letras (UFMG/2019). Repórter político em vários jornais, foi comentarista político da Rede Bandeirantes, apresentador do programa Cena Política (BHNews). Prêmio Esso de Reportagem (2001). Curador da Mostra de Arte dos Jornalistas Mineiros. Instagran: carlosbarroso14.



Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.