Reminiscências e Salomé | Selo Editorial Mirada

 por Taciana Oliveira__



O Mirada há algum tempo promove projetos de antologias no formato digital em parceria com editoras, poetas e escritores. A Banalidade do Mal, e-book lançado em agosto de 2020, foi a primeira publicação com a assinatura do selo editorial criado pela plataforma. O selo nasce no desejo de atuar como uma oficina literária, pensando na confecção de pequenas tiragens, passeando nos diversos gêneros artísticos e conteúdos acadêmicos e sociais.

Nos próximos meses guardamos algumas surpresas, mas hoje apresentamos dois títulos,  que serão lançados ainda este ano, em textos de suas respectivas autoras.


"Reminiscências é uma série de textos que narra a tentativa de uma garota de recuperar a história de sua família como forma de compreender a si mesma em meio ao luto pela morte do avô.

As vezes, quando alguém que a gente ama muito morre, parece que a gente perde uma parte de si - é uma sensação de incompletude que torna necessário inventariar as permanências. Reminiscências é isto: um inventário de histórias de família daquelas que não chegam aos ouvidos "dos de fora". 

É um álbum cheio de imagens embaçadas e imprecisas que são tudo que resta. É parte do processo de luto iniciado com a morte de vovô. Uma tentativa de tentar entender a história da família que perdi, de buscar razões que justificassem suas ausências. Nestas histórias, que são como o próprio nome diz "lembranças vagas ou incompletas" , busco partes de mim a fim de responder a pergunta que ainda agora ecoa: quem sou eu?"


Rebeca Gadelha nasceu no Rio em agosto de 1992, cresceu em Fortaleza, na companhia dos avós. Geógrafa sem senso de direção, artista digital, é apaixonada por animes, mangás, games e chá gelado. Tem medo de avião e a única coisa que consegue odiar de verdade é fígado. Foi responsável pela diagramação, ilustrações e concepção visual em Manifesto Balbúrdia Poética: 80 tiros (CJA Editora), Coordenação, Designer e ilustrações em Laudelinas (Editora Nada Estúdio Criativo), Organização e Conceito Visual na coletânea A Banalidade do Mal (Selo Editorial Mirada), participa da publicação Paginário (Editora Aliás). Atualmente escreve para as revistas do Medium Ensaios sobre a Loucura e Fale com Elas sob o pseudônimo de Jade.


Salomé: Recife é a nova Paris?

"Cite quatro mulheres (escritoras, músicas ou poetas) que evocam o Recife em suas obras. Se mudássemos o gênero para o masculino, a velocidade da resposta seria infinitamente maior. Prova disso é o circuito da poesia, que faz parte do roteiro cultural da cidade. Ele possui 16 estátuas e apenas duas são em homenagem a mulheres (Clarice Lispector e Celina de Holanda Cavalcanti). E quando falamos de escritoras e poetas negras a representatividade é nula entre esses monumentos. Mas se rios, manguezais, mocambos, pontes e sobrados são cenários que também nos inspiram, por que estamos invisibilizadas?

A escritora Conceição Evaristo nos diz que “o que nós conquistamos não foi porque a sociedade abriu a porta, mas porque forçamos a passagem”. E foi da vontade de forçar passagens e construir pontes que a novela Salomé nasceu. O propósito foi associar a literatura a outras áreas que nos permitam ocupar espaços, refletir sobre nossa sociedade, ampliar o conhecimento e fazer revoluções.

Salomé é uma novela histórica cujo pano de fundo é a sociedade recifense de 1850, na qual Felipe Alencar Paes, escravocrata e conservador, é um poeta fracassado que busca a todo custo encontrar a principal inspiração para os seus versos: a mulher amada, ou melhor, a morte da mulher amada. Ele se depara com Leila Marinho Nunes Gomes de Sá. Ela é filha de um senhor de engenho e acaba de chegar da França com pensamentos revolucionários, entre eles, a abolição. O que esse encontro representará para ambos?

A leitura nos leva a transitar pela capital de uma província que quer olhar-se no espelho e ver-se francesa. Para tanto, a urbanização acelerada trouxe consigo projetos e construções que nos brindaram a Casa de Detenção do Recife, a abertura de ruas, as obras de saneamento, O Cemitério de Santo Amaro e, claro, o Teatro Santa Isabel.

Literatura e história movimentam a trama dessa obra híbrida onde personagens reais e fictícios vivenciam um período de grande efervescência social, constituído por afrancesamentos da urbe, ideais de progresso, escravidão, insurgências e reformas estruturais e administrativas. Tais características fomentam o trânsito entre o Recife oitocentista e o Recife contemporâneo, que se confundem quando lançamos o olhar para os problemas crônicos da cidade.


Iaranda Barbosa formada em Letras Português-Espanhol, pela UFPE, possui mestrado e doutorado em Teoria da Literatura pela mesma instituição. A referida novela histórica é sua primeira obra ficcional longa. A autora possui contos em antologias e revistas de arte, assim como diversos artigos científicos publicados em periódicos especializados em crítica literária.






Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.