por Taciana Oliveira__
Entrevistei a escritora cearense Vanessa Passos, que nos próximos meses lança o seu livro de contos “A mulher mais amada do mundo”. Fundadora do Pintura das Palavras, um perfil com 11 mil seguidores no Instagram, e professora de escrita criativa, Vanessa declara: O projeto surgiu com o objetivo de compartilhar tudo o que aprendi na minha trajetória literária enquanto escritora e professora de escrita. A internet e as redes sociais são um espaço democrático, em que os conteúdos podem ser acessíveis e alcançar um maior número de pessoas.
1 - Quando você foi fisgada para o universo da literatura? E como inicia a tua trajetória na escrita?
Leio e escrevo desde pequena. Mas ter consciência de que escrever se tornou uma parte vital da minha vida e a decisão de me dedicar à escrita e me tornar escritora veio quando ingressei no Curso de Letras na Universidade Federal do Ceará (UFC). Eu precisei interromper minha escrita literária durante um ano, porque trabalhava e estudava e estava me preparando para a seleção. Lembro-me do dia em que fui à universidade, depois de ter passado na seleção, na época, ainda com dezesseis anos, sentar no bosque Moreira Campos, tirar um caderninho da bolsa e escrever um conto chamado “Relógio parado”. Quando finalizei a escrita do conto, tive o que chamamos de epifania, um momento catártico, porque a alegria que eu senti em voltar a escrever foi maior do que a de ter sido aprovada na seleção do vestibular. Naquele momento eu tive a plena consciência do quanto a escrita era (e é) importante na minha vida e me fiz uma promessa de que nunca mais deixaria de escrever.
2 - A sua página “Pintura das Palavras” conta com 11 mil seguidores. Na entrevista ao Diário do Nordeste você fala da “necessidade de compartilhar, contribuir com as pessoas”. Você potencializa essa contribuição no espaço virtual de que forma?
A missão do Pintura das Palavras é ajudar o maior número de pessoas a escrever um bom livro de ficção, publicar e alcançar leitores. O projeto surgiu com o objetivo de compartilhar tudo o que eu aprendi na minha trajetória literária enquanto escritora e professora de escrita. A internet e as redes sociais são um espaço democrático, em que os conteúdos podem ser acessíveis e alcançar um maior número de pessoas. Antes de iniciar esse projeto, eu investi na minha formação literária: livros, curso, oficinas, formações de escrita, além da carreira acadêmica, com o mestrado e o doutorado em Literatura. Junto disso, agreguei a esses conhecimentos minha formação em Gestão e estudos na área de Elaboração de projetos culturais. Hoje, o Pintura das Palavras está no Instagram, Facebook, YouTube, Telegram, Podcast, alcançando aproximadamente 15.000 ao todo. Um dos nossos maiores orgulhos é o Curso 321escreva que é um curso completo focado em escrita, publicação e divulgação, que tem ajudado alunas e alunos a terem seus textos aprovados em concursos literários, revistas literárias, editais de cultura e publicar seus livros. Temos também o Programa Formação de Escritores que são aulas em formato de aulas gratuitas no Instagram e posteriormente disponibilizadas no canal no YouTube com os mais diversos escritores e escritoras, profissionais do mercado editorial e marketing. Além disso, realizamos em julho o 1º Concurso Literário Pintura das Palavras em 2020, com premiação em dinheiro, bolsa integral para o Curso 321escreva, certificado e publicação dos 25 textos vencedores em livro digital, que será lançado em novembro de 2020. Sempre repito: sonhar junto é muito melhor, a gente vai mais longe e ajuda mais pessoas. O grande segredo é estar disposta a dar e fazer conexões.
3 – Nos últimos anos há um crescente surgimento de editoras independentes. A produção literária encontrou brechas para sobreviver ou, como disse Eduardo Lacerda (editora Patuá), não podemos confundir "literatura com mercado Editorial"?
Para mim, o grande objetivo da literatura e da escrita é o diálogo, é a leitura, é a troca com os leitores. E, felizmente, temos encontrado diversas maneiras de fazer isso para além da forma tradicional de publicação por editoras. As escritoras e escritores estão saindo de suas torres de marfim e entendido que os textos precisam circular e que essas “brechas” não são apenas para sobrevivência, mas sim um modo de encontrar outras possibilidades e maneiras de pensar a literatura e a publicação. Tudo muda, com a literatura não seria diferente.
4 – Seu livro de contos “A mulher mais amada do mundo”, ganha vida a partir de uma campanha de financiamento coletivo. Como você avalia o número expressivo de livros publicados por mulheres nos últimos anos?
As mulheres estão saindo das suas caixas, armários e do lugar de silenciamento histórico que muitas delas foram colocadas por uma sociedade machista e patriarcal, que há pouco tempo não permitia que a mulher tivesse uma educação formal, votasse, entre outras coisas. As mulheres têm muitas histórias para contar, escrever e colocar no mundo. Como disse Conceição Evaristo, elas estão forçando passagem num mercado editorial que ainda privilegia a publicação de homens e existem pesquisas que comprovam isso. O livro A mulher mais amada do mundo surgiu dessa inquietação, desse desejo de colocar no mundo uma obra de uma escritora cearense, longe do eixo sul-sudeste, com as mais diversas personagens femininas.
5 - Quais nomes você destacaria na produção literária no país e no seu Estado, Ceará?
Eu leio mulheres o tempo todo e elas são as minhas maiores influências. As mulheres têm uma potência de escrita incrível, uma percepção do mundo, um trabalho com a construção de personagens femininas sem igual. Escrevi na minha newsletter Pra Ontem uma edição que fiz a curadoria de pelo menos 30 mulheres. Intitulei essa edição de “As mulheres da minha vida”. Destaco alguns nomes aqui: no Brasil, Carola Saavedra, Giovana Madalosso, Morgana Kretzmann, Monique Malcher e Sheyla Smanioto. No Ceará, Tércia Montenegro, Ana Miranda, Marília Lovatel, Socorro Acioli, Vitória Régia, Mika Andrade, entre outras.
6 – Como você concebeu a estrutura narrativa do teu livro “A mulher mais amada do mundo”. De que maneira ele fomenta o dialogo sobre as diversas questões atreladas ao discurso feminista?
O fio condutor do livro é a construção dessas mais diversas personagens femininas, que, apesar da diversidade, as leitoras e leitores podem e certamente vão encontrar pontos em comum, como a resistência, a luta, os desejos, o ódio, o amor e a solidão. São temas distintos que perpassam esses contos, essas histórias, essas mulheres. A grande intenção do livro foi contar boas histórias, porque eu acredito no poder que elas têm. Além disso, de trazer histórias mais plurais, como Chimamanda fala, para que não venhamos a cair no perigo da história única. Por meio do universo ficcional construído nesses contos, questões de gênero, raça e classe também aparecem. O livro “A mulher mais amada do mundo” é um convite a se aventurar por histórias em que as personagens femininas são centrais e que seus atos, ações e pequenas vinganças são sempre um motivo de surpresa para leitoras e leitores.
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Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.