Helenas, poesia e acessibilidade

 por Taciana Oliveira__



O projeto Helenas, livro e site, proporcionou a poeta Márcia Sandy colocar em prática o desejo de promover a leitura de poemas para pessoas cegas. É a partir de várias conversas com seu amigo Edgar Jacques, ator com deficiência visual, que a escritora decide ceder os direitos autorais da sua obra para conceber um projeto gratuito de acessibilidade. Há alguns anos trabalhando com dublagem, Márcia teve a preciosa colaboração de atores, além da parceria e o apoio da Delart Estúdios Cinematográficos, da produtora Cabelo Duro Produções e do estúdio de gravação do seu filho, Gabriel Sandy Pestana.

Ela conta que o "desenho" de Helenas ganhou a formatação final durante o encontro com Maurício Santana, dono da Iguale Comunicação e Acessibilidade:

Comentei sobre o projeto e perguntei se ele conhecia alguma instituição que poderia se interessar. E que doaríamos as gravações em cds para essas instituições. 

Aí, ele falou: Márcia, cd? Você tá maluca? Isso não vai funcionar. Ninguém usa isso mais. Olha, eu devo tanto a esse público que queria dar um presente pra eles. Então vamos fazer o seguinte: você me entrega as falas gravadas e eu vou criar uma página completamente acessível. E a parte de libras forneço com a minha própria equipe.

E foi assim que a coisa nasceu.

O lançamento do site Helenas aconteceu no espaço Unibes Cultural, em São Paulo,  no ano de 2019, onde parte da equipe se reuniu pela primeira vez para promover um evento com acessibilidade para cegos e surdos.

helenas.art.br disponibiliza para download todos os seus arquivos.  Abaixo uma seleção de quatro poemas de Márcia Sandy e os respectivos vídeos com acessibilidade para libras e a narração dos atores convidados.


CURTA-METRAGEM


Tarja preta

Nos olhos

Nos sexos

Dos meninos

De agonia

O coração


Corta



O poema Curta-metragem é interpretado por: Luiz Carlos Percy



COMME IL FAUT


Nunca andei

Pelas ruas de Paris

Alegria e dor

Eu passo aqui

De onde nunca saí

Onde digo uai, não oui



Se alguém me pergunta

Como vou

Digo que vou só

Seule je suis

Como se estivesse em Paris





O poema Comme il faut é interpretado por: Eucir Souza



ESCULTURA

(para Auguste Rodin)



O amontoado

Disforme

Era pedra?

Ou era Deus

Contorcendo-se

Sob o facho de luz

Da janela?





O poema Escultura é interpretado por: Érica Silva



SOLILÓQUIOM


Não quero falar de amor

Amor é substantivo

Abstrato amar para mim

Hoje

É intransitivo





O poema Solilóquio é interpretado por: Fernanda Viacava






Márcia Sandy
é formada em Letras com especialização em Tradução e Cinema. Foi professora e hoje trabalha em Operações Técnicas de Cinema. Nasceu em São Paulo, SP. Mudou-se para Minas Gerais ainda criança e retornou a São Paulo, onde vive. Publicou seu primeiro livro, Herança, pela editora de Massao Ohno. Helenas, é uma publicação da Editora Com -Arte.





Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.