por João Gomes__
Foto: João Paulo Guimarães/Repórter Brasil |
O
Brasil está em chamas. A justificativa, ao mesmo tempo que nada é
feito o suficiente, é que queimam somente para piorar a imagem do
governo. O fogo já é maior que a vontade de sobreviver. Mas em que
Brasil isso é possível? As faíscas desse que vivemos já queima de
todos as formas.
O patriotismo sem amor ao país manda
lembranças. Só interessa limpar ideologias, dizer que não há
corrupção e impedir operações, arquivar rachadinhas e proteger
igrejas e parentes. Não é para se indignar, é para ver o fogo se
alastrar de uma forma voraz. Tudo que envolva um futuro independente,
livre de amarras e doutrinas é condenado atualmente.
Mas não
falo nada disso, não quero discutir com mais ninguém. Cansei de dar
ibope para quem faz pouco caso de tudo e impõe só o que lhe convém.
Cada um que defenda sua tese. A de uma amiga, em sua descrição de
WhatsApp contraria a de muitos: “A tua mente, atualmente, atua ou
mente?”.
Não basta que o fogo queime no Pantanal, é preciso que a gripezinha mate desenfreadamente chegando já a quase 1500.000 mortes. Qual a relação? Incompetência governamental de nível altíssimo. Ele era um risco, mas não um risco riscado, infelizmente. O que era medo, passou a ser pesadelo, e surto nenhum o detém. Com o intuito de alterar, destruir e manipular, nada é sério o suficiente para se acreditar, mas nunca duvide da realidade. Quem vence é o invencível, junto com o termo “terrivelmente evangélico”. Só mais um critério ao anunciar suas escolhas guiadas pelo protestantismo e ódio geral à ideologias de qualquer espécie.
Nada
se sustenta, volta mais atrás que sessão de hipnose. Mas não, não
estamos hipnotizados neste hospício em que os estúpidos são os que
destroem nosso planeta em nome do lucro para criar gados. Agora me
diga: falsear dados não é crime de responsabilidade? Estamos
atentos, porque é, como na letra de Caetano: “preciso ter olhos
firmes, para este sol, para esta escuridão”.
Desta
culpa não levarei, porque o que temos hoje é a antipolítica
distorcendo essa necessidade de escolhermos quem melhor pode ser
chamado de “capitão”: ninguém. Ainda se precisássemos de um,
não seria pela incompetência ou indisposição para governar de
forma humana um país. Não há mito nenhum em chegar despreparado ao
poder, há a consolidação de um governo fake que alopra o futuro
por interesses econômicos privados.
Mas como o fogo no Pantanal, concordo: a ação humana é a causa das queimadas, segundo a perícia do estado do Mato Grosso, e é preciso encontrar os responsáveis. Porque desde 2019 o Brasil não para de arder, com infelizmente ainda mais dois anos pela frente. E a cortina de fumaça é a forma de ignorar o problema, fazer o trem não andar, mas estagnar até o fim.
Uma canção necessária, de Marina Peralta e Alzira E, “Águas para o Pantanal”, me desaguo com a leveza sobre o peso do tema. Assim começa: “Enquanto esse fogo todo/Atravessa o Pantanal/Veias abertas de mim/Secam temendo o fim”. Eu do meu canto me pergunto por que o mundo tem que ser assim, esse poder levado à ignorância, com explicações simplórias de corromper o que realmente importa. Fato é que a destruição precisa acabar. Porque o Pantanal ainda não está, junto com os brasileiros, enterrado. Nosso bioma tem sede pela vida e é muito mais forte que qualquer estupidez.
João Gomes (Recife, 1996) é poeta, escritor, editor criador da revista de literatura e publicadora Vida Secreta. Participou de antologias impressas e digitais, e mantém no prelo seu livro de poesia.