por Taciana Oliveira__
Localizado na cidade de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo, o Estúdio Armon é formado por um grupo de artistas espalhados pelo Brasil. Eles trabalham na produção de tirinhas, ilustrações e HQS. Nesta edição uma entrevista com seu editor-chefe, Fábio Gesse, que nos conta detalhes sobre a sua trajetória e a criação do estúdio.
1 - Quando e como nasceu a ideia de criar o Estúdio Armon?
A vontade de fazer quadrinhos começou desde pequeno quando lia gibis da Turma da Mônica. Na época, criei uma gama de personagens baseados em amigos de escola, e fazia quadrinhos sob o nome de Turma do Armon. Após alguns anos fazendo, passei pro estilo mangá por influência de Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball, mas o Estúdio Armon foi surgir mesmo só depois de adulto. Eu cursava faculdade na área de informática e, apesar de ir bem nas matérias, não conseguia me encaixar naquela área. Foi quando lembrei do meu sonho de trabalhar com quadrinhos e daí retomei meus antigos trabalhos. Juntamente com meu irmão Lucas, decidimos abrir um selo para publicação de nossas próprias obras, usando o nome do meu primeiro personagem.
2 - Como você descreve os primeiros anos de atuação do Estúdio?
Acho que posso dizer que eu tinha a sensação de que estávamos com tudo, mas na verdade não estávamos com nada ainda. (rs)
Eu e meu irmão produzíamos uma penca de tirinhas, praticamente uma pra cada dia da semana, e algumas séries em mangá. Eu divulgava e encarava tudo com muita seriedade e ficava frustrado quando não tínhamos muitos comentários sobre os materiais e parecia que ninguém dava bola. O começo dessa carreira demora pra engrenar, não importa o quão esforçado seja a pessoa, o reconhecimento só vem com o tempo, a prática e a insistência. Desde aqueles primeiros anos, tudo era uma conquista... Seja 30 visualizações numa HQ... O primeiro evento que participamos... O primeiro gibi impresso (que não tinha muita qualidade gráfica, mas eu achava o máximo)... Mas acho que essa sensação de tudo ser uma conquista sensacional ainda perdura té hoje.
3 - Quais gêneros artísticos que vocês trabalham?
Começamos com tirinhas mas aos poucos, com a entrada de novos integrantes, fomos migrando para o mangá. Praticamente todos os membros do estúdio tem influência de mangás japoneses, então foi natural pender pra esse lado. Mas eu adoraria trabalhar com quadrinhos no estilo cartoon, comics americano, livros... Só falta oportunidade, por enquanto.
4 - Como você percebe a atuação do mercado independente?
Sempre digo isso mas é sempre bom relembrar: não é uma iniciativa promissora que vai evoluir o mercado independente no Brasil da noite pro dia. Um avanço desse mercado requer tempo. Eu já fui do grupo que reclamava que ninguém lê quadrinhos brasileiros e que desenhar no Brasil não compensa, mas percebi que as pessoas só tem essa opinião porque vivem comparando nosso mercado com o americano e o japonês, que são dois países que produzem quadrinhos há muitas décadas! Nosso mercado começou a se profissionalizar mesmo depois do ano 2000. Estados Unidos fazem comics desde a década de 1920... O Japão, desde 1940... Duvido que nos primeiros anos de quadrinhos nesses 2 países, os artistas não pensavam da mesma forma que nós aqui hoje. É questão de tempo, paciência e lapidação dos trabalhos, ainda estamos engatinhando no mercado editorial por aqui. Consigo ver uma clara evolução nas produções e no mercado em si ao logo dos últimos 20 anos que acompanho. Em 2000 tínhamos uma sala com 3 ou 4 quadrinistas vendendo seus gibis de 20 páginas impressos em xerocadoras dentro de uma sala temática escondida no último andar de um evento de anime. Hoje temos um beco dos artistas com mais de 600 artistas vendendo seus trabalhos em capa dura, verdadeiros tijolões, exportando obras pra fora do Brasil e encantando cada vez mais em qualidade. É uma evolução sem dúvida. Essa galera está lapidando um mercado de sucesso a longo prazo. Talvez não seja na nossa geração que veremos nosso mercado ser referência, mas essa conquista vai chegar, não tenho dúvidas.
5 - Que nomes influenciaram ou ainda influencia as produções artísticas de vocês?
Como a maioria dos artistas da equipe tem referências de mangás japoneses, acho que não posso deixar de citar Akira Toriyama, Eiichiro Oda, Masashi Kishimoto, Yoshihiro Togashi e Takehiko Inoue. Alguns brasileiros também, como por exemplo Maurício de Souza, Max Andrade, Kaji Pato, Thiago Spyked, entre outros
6 - O Estúdio estabelece um cronograma de produção ?
Sim e não. Todo começo de ano nós estipulamos quais projetos pretendemos produzir naquele ano. Não revelamos esse cronograma publicamente porque raramente conseguimos cumpri-lo. Sempre surgem imprevistos e coisas que saem do nosso controle. Um exemplo disso foi a pandemia desse ano, não publicamos nem 1/3 de tudo que planejamos em janeiro. Mas tentamos escolher cerca de 6 projetos impressos por ano e o que não conseguimos encaixar, jogamos pro ano seguinte. Agora dentro de cada um dos projetos, estabelecemos datas pros artistas entregarem os materiais de acordo com o tempo que cada um dispõe.
7 - Como você descreve a equipe do Estúdio Armon?
Cada um tem um potencial incrível dentro de si, mas a maioria deles ainda não acredita nisso. Acho que é mal de artista brasileiro não acreditar em si próprio. (rs) Mas eu diria que, como equipe, estamos tentando nos encontrar a cada dia e formando uma família. A convivência com eles é bem fácil e divertida, converso com praticamente todo mundo, todo dia, mesmo sendo uma equipe enorme. Falamos de coisas profissionais, pessoais, jogamos conversa fora... Acho que isso é valioso pra um bom entrosamento. Todos ajudam a todos quando necessário. Às vezes me sinto o próprio Monkey D. Luffy, de One Piece, escolhendo os melhores a dedo pra integrar o bando que vai cruzar todos os mares juntos.
8 - Vocês utilizam uma plataforma de financiamento coletivo. Como os leitores podem colaborar ou comprar as publicações do estúdio.
Como ainda somos um grupo pequeno, um estúdio migrando pra se tornar editora de fato, nossos ganhos financeiros são limitados, por conta disso, encontramos no Catarse uma forma de viabilizar a pré-venda dos nossos lançamentos. Daria na mesma fazer uma pré-venda em nossa loja, mas daí não teríamos o alcance que o nome do Catarse proporciona. As pessoas que desejam adquirir nossos trabalhos, pode encontrar tudo que já fizemos (menos os que já esgotaram) em nossa loja virtual. Em tempos normais, também participamos dos mais variados eventos no estado de São Paulo, mas como disse, é no Catarse que fazemos as pré-vendas e nelas tem muito brinde exclusivo envolvido. Em cada campanha é só o apoiador escolher o pacote de recompensas que quer e fazer seu apoio (ou reserva na pré-venda, como preferir). Esse apoio no Catarse é essencial pra sabermos se compensa fazer exemplares extras daquela HQ pra vender em outros lugares e tal.
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Fábio Gesse é editor-chefe do Estúdio Armon. Se tornou roteirista e coordenador de conteúdos após perceber que não tinha vocação para desenho. Gerencia uma equipe infinita de artistas e tem crises nervosas todo fim de mês. Amante da cultura oriental, lê muitos quadrinhos e comanda a Revista Action Hiken com punhos de fogo e coração de manteiga.
Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.