Hestórias da Psicanálise, a série

 

por Taciana Oliveira__




No ano do lançamento do longa Hestórias da Psicanálise (Cabelo Duro Produções, 2016), a direção do filme destacava: “Só Freud explica...” é um dos jargões mais utilizados nas conversas de botecos, nos papos entre amigos, nas discussões de não especialistas. E foi pensando em aproximar Freud do público que o psicanalista e documentarista Francisco Capoulade concebeu o projeto Hestórias da Psicanálise - Leitores de Freud, usando um neologismo que une histórias e estórias para compor o título do filme.

A produção é o primeiro documentário brasileiro sobre psicanálise e Freud, abordando temas que ultrapassam o campo psicanalítico. Os entrevistados, na sua maioria especialistas e psicanalistas renomados, oferecem em seus depoimentos uma pluralidade de pontos de vista culturais, históricos e identitários.

Conversei com o diretor do filme, Francisco Capoulade, sobre o relançamento do projeto, que agora chega a plataforma do YouTube no formato de uma série semanal de 08 episódios.


1 Como nasce o projeto Hestórias da Psicanálise?

Eu já estudava psicanálise e clinicava havia alguns anos, quando comecei a me incomodar com as lacunas, ou melhor, com a ausência de debates sobre a história do movimento psicanalítico no Brasil. Para ser sincero, eu era um psicanalista em formação, estudioso de Freud e Lacan e outros autores europeus, e ao mesmo tempo um completo desinformado sobre a produção nacional psicanalítica. Então, fui pesquisar sobre o assunto e vi que não havia nenhum documentário longa metragem sobre o tema. Como eu era interessado em cinema e havia estudado roteiro, resolvi estudar documentário para fazer um filme sobre história da psicanálise (história com h-i-s, por enquanto). Foi estudando documentário que conheci Águeda Amaral, que viria a se tornar a produtora do Hestórias comigo. Não foi fácil, mas quando vi meu primeiro curta (chamado Apuê) feito, eu disse para mim mesmo: "é possível fazer um filme". Como um bom psicanalista eu delirei.


2 - O gênero documentário se utiliza de diferentes propostas para contar uma história. Que abordagem você escolheu para compor um filme que trata da apropriação da obra de Sigmund Freud e da psicanálise?

Testemunhos. Meu desejo era escutar o maior número de psicanalistas e interessados em psicanálise. Enquanto filmava, mais empolgado eu ficava com o que ouvia e queria transmitir tudo isso para um público mais amplo. À época do lançamento do filme nos cinemas, eu costumava dizer que o Hestórias era um filme para ser ouvido. Ainda tenho essa opinião. Colocar os espectadores para ouvir a experiência que eu tive durante as filmagens, ou uma parte dela, pareceu-me a coisa mais autêntica a ser feita. Não é a psicanálise, antes de tudo, uma experiência de escuta? Então, por isso, acredito ter sido o melhor a ser feito.


3 - Quanto tempo de produção e coleta de depoimentos para estruturar o roteiro e a linha narrativa do documentário?

Comecei a filmar em abril de 2013. Fiz algumas entrevista no Brasil e, naquele momento, a linha narrativa era as traduções da obra de Freud. Daí, fui para França realizar meu doutorado. Lá, sob o impacto de ser estrangeiro, repensei o Brasil (me perguntei sobre o que é ser brasileiro) e comecei a construir uma linha narrativa que incluísse essas indagações. Na Europa realizei 5 entrevistas e já inclui essa nova perspectiva. Quando no final de 2014 volto para o Brasil, sigo com um outro tanto de entrevistas, agora com as ideias mais claras. Freud tornou-se o protagonista do filme. E quando eu me dei conta disso nas montagens percebi que o filme estava pronto. Era carnaval de 2016.


4 - O filme foi lançando nos cinemas em 2016 e agora retorna no formato de série. Ao disponibilizar a produção neste formato você espera alcançar um novo público?

Com certeza. Podemos dizer que o Hestórias foi um sucesso nos cinemas, ainda mais se levarmos em conta as condições precárias para o desenvolvimento do projeto. Mas mesmo assim há um imenso público que nunca ouviu falar do filme. Tê-lo numa plataforma gratuita já é uma boa oportunidade de popularizá-lo, mas tê-lo num formato de série parece ser ainda melhor. Em geral, as pessoas administram mal o tempo (principalmente em tempo de pandemia), e reduzi-lo a pequenos episódios de 10 minutos em média é criar uma boa oportunidade para que um maior número de pessoas possam parar (no celular, computador ou tv) para assisti-lo.

5 – Hestórias da Psicanálise é uma série que pode contemplar outra audiência, além da já conquistada nas áreas de Psicologia e Filosofia?


Sim. Todas as pessoas que têm interesse pelos mistérios da vida psíquica, da linguagem, de como somos capazes de fazer coisas absurdas, todas podem se interessar pela série Hestórias da Psicanálise. A forma como Freud é falado desperta um interesse nas pessoas. Uma das frases que eu mais ouvi depois das inúmeras projeções de que participei foi "quero começar a ler Freud". Ele nos inquieta. E mais, os episódios são independentes, ou seja, eu não preciso necessariamente assistir na sequência. Isso é um charme a mais.


6 – Você está trabalhando em um novo projeto? Qual?

Sim. Um sobre psicanálise. Agora saio para as ruas com o intuito de encontrar psicanalistas fazendo psicanálise em espaços públicos, seja em CAPs, UBSs, universidades, praças, etc., e já está em gravação avançada. E outro, sem relação direta com a psicanálise, ainda em fase de pesquisa. 


Assista os dois primeiros capitúlos da série:


* O canal onde a série é hospedada será atualizado semanalmente.





Francisco Capoulade - Diretor e co-fundador do Instituto de Pesquisa e Estudos em Psicanálise nos Espaços Públicos (IPEP). Doutor em psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e em Psychopathologie et Psychanalyse pela Université de Paris (Paris 7). Coordenador do curso de pós graduação lato-sensu em Teoria Psicanalítica, parceria entre o IPEP e a UniFAJ. Realizador do filme documentário Hestórias da Psicanálise: Leitores de Freud (2016). Autor de artigos e capítulos de livros na área da história da psicanálise e epistemologia da psicanálise. Membro da Associação Campinense de Psicanálise (ACP).





Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.