por André Merez__
Neste “O ano em que tudo começou”, Adriano B. Espíndola Santos oferece ao leitor uma prosa construída a partir das intimidades entre o escritor e aquilo que pode ser encontrado em seu entorno, assim como as sensibilidades mais aguçadas o permitem. As experiências íntimas, aquelas que somente se tornam possíveis quando os olhares realmente se tocam, são reveladas ao mesmo tempo em sua crueza e em seus estados de suspensão. Tudo parece se organizar como na vida se organiza, com uma aparência de destino e uma naturalidade que só é possível no correr dos dias.
Para a sorte dos leitores afeiçoados aos diversos gostos e cores que podem ter as palavras, este terceiro livro do escritor cearense mantém e amplifica os sabores e os tons que já ocupavam as páginas de seus dois livros anteriores, “Flor no Caos” (2018) e “Contículos de dores refratárias” (2020). O que se poderia nomear de maneira incompleta simplesmente como ‘regionalismo’, ganha dimensão outra nesse modo de narrar que Adriano vem construindo em sua trajetória literária. A língua em seu estado orgânico e dinâmico, não exclui e não compartimenta os falares como se fossem possíveis as separações regionalistas e caricatas nesses tempos de comunicação virtual e imediata. Os falares se cruzam, se misturam, se entrecortam e, principalmente, se tocam em suas afinidades.
No correr das páginas que se seguem, em seus meandros e meneios, o que se pode encontrar é o amadurecimento de uma narrativa que percorre a trilha dos grandes autores da prosa cearense e aponta para a atualização dessa tradição, que teve seu início na prosa nordestina desde a geração de 1930 e encontra agora em Adriano B. Espíndola Santos a sua continuidade e renovação.
Adriano B. Espíndola Santos é natural de Fortaleza, Ceará. Em 2018 lançou seu primeiro livro, o romance Flor no caos, pela Desconcertos Editora; e em 2020 o livro de contos, Contículos de dores refratárias, pela Editora Penalux. Colabora mensalmente com a Revista Samizdat. Tem textos publicados em diversas revistas literárias nacionais e internacionais. É advogado civilista-humanista, desejoso de conseguir evoluir - sempre. Mestre em Direito. Especialista em Escrita Literária. É dor e amor; e o que puder ser para se sentir vivo: o coração inquieto.
André Merez, nascido na capital paulista em 1973, iniciou como letrista e contrabaixista das bandas Cathedral e Siso Símio nas décadas de 80 e 90. Cursou Letras e fez pós-graduação em Língua Portuguesa na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Na graduação realizou pesquisa sobre o discurso do poder na obra de Plínio Marcos e na pós graduação defendeu tese sobre as relações entre o processo inferencial e as questões de interpretação de texto na verificação de aproveitamento de leitura. Leciona Teoria da Literatura e Gramática há mais de 15 anos e desenvolve pesquisas sobre música, artes plásticas e poesia. Autor dos livros Vez do Inverso (Editora Patuá, 2017) e Perfeição Acidental (inédito). Site: www.poesiaavulsa.com