Dois poemas de Lisiane Forte

 por Taciana Oliveira__


Ilustrações: Raisa Christina




Talvez,

no fundo de cada abismo que escapa as nossas compreensões

flutuamos na imensidão de um nada glacial –

de águas borbulhantes e cintilantes

às nossas entranhadas convicções.

 

Podemos até sondar as profundezas de nossas memórias

e emitir verdadeiras ondas sonoras

através dessas águas densas e congelantes

e suportar a pressões enormes;

dos mares,

das mentes,

de nossos olhos cegos às nuvens de sedimentos

tão dormentes e dementes.

 

Talvez,

sejamos predadoras inundas –

das águas imersas e dos calabouços mais profundos

onde incríveis forças que reciclam o nosso mundo

nos colocam numa espécie de arena impiedosa,

onde não há indulto sequer

e nos enfrentamos até morrer.

 

 

Ilustrações: Raisa Christina


 

Quando entendi a escala dos mundos

consegui olhar para fora do espaço,

 

senti o tempo desacelerar

 

e avistei grandes colônias de sargaço

em meio a fluxos escuros

 

E nas proximidades das galáxias,

um vácuo ponto escuro.

 

As coisas difíceis de falar acabam não sendo ditas

e para dizê-las é preciso resistir às suas agruras;

como chorar sem lágrimas,

como ter calma sem vento.

 

As coisas difíceis de falar acabam não sendo ditas

e a carne dos marujos apodrece, enquanto isso;

como a pele que murcha em seus próprios ossos,

como não seguir o rumo pelos mapas adquiridos.

 

As coisas difíceis de falar acabam não sendo ditas

e a verdade declina,

apesar disso;

como ter asas e garras a fim de tocar liras e harpas,

como fazer sentido aos nãos-ditos?



Poemas do livro Zonas Abissais, de Lisiane Forte




Lisiane Forte
é psicóloga, escritora independente, multiartista, arteterapeuta e autora dos livros 'Liames', “Zonas Abissais”, 'Psicologias em Reflexão l e ll' e no prelo “Aqui e Agora | viver a vida de perto”








Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem