Independência, liberdade e autodeterminação | Ruth Orkin

por Taciana Oliveira__


Para esta edição apresentamos o trabalho de Ruth Orkin, autora da fotografia emblemática “American Girl in Italy” (Florença, 1951). Mary Engel, filha e representante legal do patrimônio da fotógrafa americana, relata em uma matéria publicada em 17/03/2017 no portal de notícias da CNN: “a foto é mais relevante agora do que nunca pelo que realmente representa: independência, liberdade e autodeterminação”.


Foi do encontro casual de Jinx Allen (Ninalee Craig) e Orkin no escritório da American Express na Itália (onde se fazia antigamente o envio de cartas, telegramas, ligações e troca de dinheiro) que surgiu a ideia para uma sessão de fotos: "Ruth me disse, “Ei, quer saber, eu provavelmente posso ganhar um pouco de dinheiro se andarmos por aí e mostrarmos como é ser uma mulher sozinha”, Ninalee recorda.


As duas saíram pelas ruas de Florença na manhã seguinte. A imagem de Ninalee caminhando por um “corredor de homens” foi uma das primeiras que Orkin fotografou. Ela ainda a clicou de um ângulo diferente antes de continuarem a capturar outras cenas italianas: cafés, monumentos, praças.... O ensaio durou cerca de duas horas e elas seguiram caminhos diferentes, embora não por muito tempo. Novamente se encontraram em Paris e Veneza e tiraram mais fotos para a série criada por Orkin. As fotos foram exibidas na revista Cosmopolitan (1952) em um ensaio fotográfico, "When You Travel Alone”.


No artigo publicado no blog FHOX, “Ruth Orkin e a enigmática fotografia American Girl in Italy”, a fotógrafa e Doutora e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Amanda Leite, escreve: O livro de Dorrit Harazim, O instante certo (2016), cita campanhas que circularam na Internet inspiradas pela fotografia de Orkin e que rapidamente tornaram-se virais. Harazim (2016, p. 133) aponta que o vídeo 10 Hours of Walking in New York as a Woman, de 2014, por exemplo, ganhou grande projeção, “com apenas 118 segundos de duração, ele obteve 10 milhões de cliques em menos de 24 horas e hoje, ultrapassa os 40 milhões de visitantes […] com mais de 140 mil comentários”. O vídeo protagonizado pela atriz Shoshana B. Roberts procura explorar o assédio sexual que as mulheres sofrem diariamente nas ruas (não apenas em Nova Iorque, mas em todo o mundo). Outras campanhas caminharam nesta mesma direção, mas, a fotógrafa teria desejado produzir este tipo de narrativa?


(…) O ensaio fotográfico de Orkin foi publicado na revista feminina Cosmopolitan, em 1952. O reconhecimento de American Girl in Italy, veio duas décadas depois e, ainda hoje é um dos pôsteres mais vendidos em todo o mundo. Para Harazim (2016, p. 136) a fotografia se consolidou junto ao “feminismo militante que brotou com a revolução sexual dos anos 1970”. Assim, “o que fora conhecido como celebração de uma independência feminina despreocupada, atrevida e bem-humorada passou a ser interpretado como prova de impotência da mulher num mundo dominado por machos e machistas”.


Circula na internet uma citação atribuída a Ruth Orkin, que se não foi dita por ela traduz muito da sua trajetória: Minha mãe disse que, quando eu era jovem, eu dizia constantemente: olhe para isso - olhe para aquilo. Acho que tirar fotos deve ser minha maneira de pedir às pessoas que vejam isso - vejam aquilo. Se minhas fotos fazem o espectador sentir o que eu senti quando as tirei pela primeira vez - Não é engraçado ... terrível ... comovente ... lindo? - então eu cumpri meu propósito.


Selecionei cinco fotografias que ilustram um pouco da premiada carreira de Orkin para nossa série de grandes nomes da fotografia e do fotojornalismo.


American Girl in Italy, 1951

City Life, Ruth Orkin


Jinx in Goggles, Florence, Ruth Orkin






Cit Life, Ruth Orkin











Ruth Orkin - fotógrafa, fotojornalista, roteirista, produtora e cineasta americana. Ficou mundialmente conhecida por sua fotografia “An American Girl in Italy” (1951), Fotografou celebridades: Lauren Bacall, Doris Day, Ava Gardner, Tennessee Williams, Marlon Brando, Alfred Hitchcock… Vencedora do 3º Prêmio Concurso de Jovens Fotógrafos da Revista LIFE, 1951, Uma das dez melhores fotógrafas dos EUA, Professional Photographers of America, 1959, 1º Prémio Cultural Anual de Manhattan, Fotografia, 1980. Concorreu ao Oscar de Melhor Argumento Original com o filme O Pequeno Fugitivo (1953) e ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza com Lovers and Lollipops (1955), obra que serviu de referência e inspiração para a produção Carol, do cineasta Todd Haynes. Ruth Orkin nasceu em 3 de Setembro de 1921, e faleceu em 16 de Janeiro de 1985. Outras informações: clica aqui.




Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.