por Wilson Freire__
Pintura Mistureba: caneta esferográfica, giz de plástico e pastel sobre papel machê reutilizável - 20 X 30 cm |
(Da série Memória Secas)
Pingo do meio-dia. O Sol tinha bafo e calor das
bocas das caieiras. Nem um pé-de-vento. Fervia, abrasava pedras, esturricava matos, espantava águas, engolia bichos. Lá longe vi. Como um funil ligando
céu e terra. Mexia-se como cobra em zigue-zague. Visagem minha? Reparei mais.
Aproximava-se. Alargava a base e estreitava em cima. Dedos em cruz. Cruz credo.
Nunca vi nada igual. Colossal. Arrastava garranchos, folhas secas, basculho,
cruz credo, zunia, poeira nos olhos, credo em cruz, fechei as pálpebras. Quem
pode mais do que Deus? Não estava mais no chão: rodopiava, cabeça pra baixo e
pra cima, zonzo. Abri os olhos, entre eles: pintados, coloridos, redemoinho de
penas, bicos, cores e cantos. Enganchei-me entre galhos de Braúnas e ele seguiu
bailando, levando sonhos no eito, colorindo e bulindo, fertilizando minha
imaginachã de árida existência.