Coroação Preta, texto de Celeste Estrela

 

por Celeste Estrela­__


Fotos: Jornal Extra e - Coletivo Experimentalismo Brabo/ Leo Salo

Me lembro vagamente da minha avó. Era eu, ela e meu irmão. Fogão de lenha era coisa da época, que ela fazia com muito carinho a nossa alimentação do dia-a-dia. Lenço amarradinho na cabeça, saiote até os pés, a noite, sentava na soleira da porta contando histórias rodeada das crianças da vizinhança que prestando atenção em silêncio. Era catadora de café, levava a gente pro trabalho. Dormíamos em cima do saco de café, eu e meu irmão, até que um dia ela se foi.

 

*optamos por manter a ortografia do texto original, publicado no livro Coroação Preta, de Celeste Estrela



 

Celeste Estrela – Sou mulher, preta, favelada, poeta, atriz, compositora, rapper, e integrante da velha guarda da Escola de Samba Unido de Manguinhos. Tenho 79 anos, mineira, fui trazida para o Rio de Janeiro ainda criança, cheguei primeiramente na Favela do Caju, sendo uma das famílias removidas para a ponte Rio-Niterói. Cresci na Favela de Manguinhos onde resisto e resido há mais de quarenta anos. Trabalhei em casas de família para criar minhas filhas e netos, como cobradora de ônibus na antiga CTC e publiquei minha primeira poesia em 1986, na antologia “Nova Poesia Brasileira”