Educar de longe, mas comunicar de perto

 por Daniel Glaydson Ribeiro & David de Brito Cardoso___




Quando tudo se fechou

Por conta dessa Covid,

Nossa escola não parou

Seu ouvinte não duvide.

Teve que replanejar:

Como fazer funcionar

Se essa internet divide?

 

Tem gente cheia de uaifái

E c’um horror de aparelho,

Mas pra estudar num vai

Nem se botar de joelho.

Outros querem aprender,

Porém o sinal cadê?

Nem se for de infravermelho!

 

Nós tivemos que aprender

Trancadinho dendi casa.

Primeiro, a conviver,

Pra muié não gritar: Vaza!

Eu tenho uma solução:

CNV, meu irmão,

Guarda o bico dentro d’asa.

 

Sabe aquela raiva besta

Que qualquer coisa te acende:

Ter que estudar na sexta,

Tentar vender e não vende,

Escutar a raiva alheia,

Ter um buraco na meia,

Tudo isso te ofende?

 

E você solta os cachorro

Em quem nem tem nada a ver,

Grita, xinga, dá esporro,

Batendo até em você?!

Pois respire e observe,

A quem tudo isso serve?

Ferida que não se vê.

 

Tirar toda violença

Dessa comunicação!

Quando a gente pede a bença,

Deixa essa mágoa de mão.

O mundo fica bonito

Se tivermos menos grito,

Falando de coração.

 

Esse é o primeiro passo

Pra educação funcionar.

Seja ela em qualquer espaço:

Debaixo de um jatobá,

Do jeito tradicional,

Numa sala virtual,

No Meet ou no entre-lugar!

 

Esse é o passo primeiro

Senão num tem quem aguente

A frieza do aparelho

Numa aula indiferente.

O aluno tem que falar,

Professor tem que engajar,

Pro celular ficar quente!

 

Pois só aprendo o que eu amo:

O saber que me cativa,

Aquele que fala: vamo,

Me conhecer te motiva.

Tenho a chave do futuro,

Não se perca no escuro,

A sabedoria é Diva!

 

Essa tal de “big data”,

Repare bem no que eu digo:

A cada ano que passa

Se produz tanto ruído,

E é átomo colidindo,

É “cookies” te perseguindo,

Algoritmo inté no ouvido,

 

Que se juntar tudo isso

Mais as rede social

Será tanto o rebuliço

Para imprimir num jornal!

O papel subia a serra,

Dava inté a volta à terra

E haja lixo espacial!

 

“Na-no-te-qui-no-lo-gia”

É um baita palavrão!

Mas dizem que é pra caber

Muitos dados num botão.

Eu só posso é perguntar,

Do jeito que o mundo está,

Pra quê tanta informação?!

 

Se o homem já foi pra lua

E tirou foto do céu,

Mas tem gente lá na rua

Batendo forte o pinel:

Dizendo que é plana a terra,

Contra vacina faz guerra...

Esse povo lê papel?

 

Pensando bem cá comigo,

Não se pode censurar:

Lembram da CNV,

Que nos ensina a escutar?

Para que a ciência vença

E leve embora a doença,

Há que se comunicar!

 

Nossa arma é nossa Voz:

lindo som, potente gesto

contra o caos e o algoz,

transcendente manifesto

de cadência natural,

magia em corda vocal:

cordel é palimpsesto!

 

A cultura do Nordeste

É coisa maravilhosa!

Ela é como rapadura:

Doce, firme e saborosa.

Todo dia tem ritual,

Tem quadrilha e carnaval,

Gente linda e generosa!

 

E agora com essa rede

dos links multimodais,

todo canto que enverede

roda o mundo em arraiais:

digo oxente e tô na Rússia,

traduzido lá na Prússia,

meu começo é sem finais!

 

Pois então lhe passo o verso

A ocê, minha formosura,

De pensamento diverso,

Semeando na lonjura!

Bravo é ler os camarada,

Entender nossa jornada

Em defesa da cultura.






Daniel Glaydson Ribeiro nasceu em Picos, sertão brabo piauiense; foi simbora pra Campos Sales, péssimo presidente, extremo sul cearense, pois um dotô disse que Picos era mui quente pra asma do irmão. Não sei inté hoje como a caatinga araripense pôde ter servido pra resolver esse pobrema da quintura e da asma; sobrevivemos. Afim de calores maiores, causticantes, fui pra Sobral, depois São Paulo, e em vórtices, vortei. Ao campus Cocal, cheguei. Quinze anos escrevendo e destruindo o livreto “Pulsão de língua”, enfim, nas prensa!









David de Brito Cardoso é poeta e dodiscente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, campus Cocal. Mora em Biridibinha, Cocal, região produtora do melhor mel do Piauí.