Dadá e Xande, Gilda Portella

 

por Gilda Portella



Pierre Verger


 

Dário e Alexandre foram criados no Cantinho do Céu, junto com outros três irmãos,

Dário nasceu primeiro, logo ganhou o apelido de Dadá por causa de seus cabelos negros encaracolados.

Alexandre nasceu no ano seguinte, era chamado pelo irmão mais velho de Xande.

Dadá Nascimento era uma criança calma e pacifica. Quase não chorou quando recém nascido. A casa não parecia ter criança.

Se alguém o incomodava, ele não se zangava.

Se a gurizada da rua se entregava em atos e brincadeiras violentas e levadas,

Dadá não se envolvia.

Ele tinha compreensão e discernimento, mas não tinha força, nem fazia peraltices.

Essas qualidades, quem carregava era o seu irmão mais novo, Xande.

Dadá sabedor disso, dizia de vez em quando que,

-“Se não sou capaz de brigar”,

Ele agradecia a Oxalá por tê-lo dado um irmão bravo e temido pela gurizada da rua.

As pessoas falavam:

-“Se Dadá não é capaz de brigar, ele tem um valente irmão caçula”.

Durante a infância Xande só pensava em encrencas. Encolerizava-se facilmente, era impaciente, adorava dar ordens e não tolerava reclamações de “guri mole”. Xande gostava de brincadeiras de lutas e disputas (ver quem atravessava primeiro o rio, quem carregava mais rápido as toras de lenhas mais pesadas). Liderava os pivetes da cidade e sob seu comando roubavam  frutas e caçavam passarinhos.

As crianças crescendo e as confusões  aumentavam; incontáveis brigas, rusgas com a gurizada na escola, na praça da rodoviária e na praia do rio Araguaia.

Por causa de Dadá, Xande reforçava ainda mais seu espírito aguerrido e encrenqueiro e dizia constantemente:

- “Se alguém mexer ou fizer qualquer coisa a Dadá, vai se ver e entender comigo”.

Isso lhe rendera mais pelejas e badernas, pois se trata de seu irmão preferido e mais velho.

Logo a meninada aprendeu que se não perturbassem e tratassem bem Dadá, Xande ficava de “boa”; se quisessem tornar amigo de Xande primeiro deveriam ser parceiro nas brincadeiras com Dadá.

Xande cresceu, seu caráter destemido o levou a buscar novas aventuras em outras terras, pois Torixoréu, a cidade da pedra escura, era pequena e fora toda explorada e dominada.

Xande era vaidoso, o corte de cabelo e a roupa “da última moda”, trançou seus cabelos e colocou contas coloridas; furou as orelhas, seu brilho era realçado pelas argolas  e colares  vermelhos e branco que ostentava.Isso causava grande alvoroço e fuxico na rapaziada que tinha ciúmes dele.

Ele adorava conhecer lugares e aventuras radicais assim chegou ao jiu-jítsu e aos campeonatos. Tornou-se um lutador e um campeão mundial. 

Dadá era um jovem que lia filosofia, literatura, ouvia músicas clássicas, amava a beleza e a arte. Estudou na capital, depois cursou pós-graduação em outros países. Tornou-se Doutor em Metafísica da Arte e curador em um Museu especializado em História da África.         


 

 

Releitura de Lendas Africanas dos Orixás de Pierre Verger baseado na lenda Dadá Baayani’ Ajaká é o irmão mais velho de Xangô

Texto: Dadá e Xande  de Gilda Portella









Gilda Portella, pós-graduada em história, artista visual e textual. Em 2021 foi selecionada I Prêmio Rodivaldo Ribeiro de Literatura. Como poetisa publica suas obras nas antologias: “Devires Poéticos” e “Do que ainda nos sobra da guerra”; e participou das revistas: “Tempora”, “Alcatéia”, “Ser MulherArte”, “Conexão Literatura”, “Ligeiro Guarani” “Cultura D-Arte”  “Selo Itan”,  e no  Suplemento Acre.