por Túlio Augusto Lobo__
Somos todos “o caçador
de monstros”, disseram os monstros.
Nos
últimos meses, a campanha pela presidência da Transilvânia tem ficado cada vez
mais acirrada. De um lado um candidato que defende a igualdade entre homens e
monstros e, do outro, um candidato que já foi pego agredindo uma criança
monstro. Este candidato não diz publicamente que odeia monstros, mas propõe a
liberação do porte de tochas ―
principal instrumento na caça aos monstros ― a todo cidadão de bem, como sempre diz durante
seus discursos.
O
Frank Frankenstein é o líder dessa comunidade de monstros que, apesar de serem
considerados assustadores para toda a Transilvânia, são uma minoria
populacional e quase não possuem direitos como cidadãos, só o de votar, pois
político nenhum deixa passar um voto sequer, mesmo que seja de monstros. Ele
teria de ter cautela para escolher o candidato, pois ele é um exemplo para
todos os outros, de vampiros a lobisomens, e seu apoio a um desses candidatos
levaria os outros a apoiarem também.
Infelizmente,
quando criança, o pequeno Frank via aquelas milhares de tochas vindas em
direção ao reduto onde os monstros viviam e ele ficava maravilhado com toda
aquela iluminação e essa pobre criança cresceu fascinada por esse instrumento
que por gerações foi o “machado do carrasco” contra a sua gente. Não deu outra,
ele declarou o seu apoio ao candidato das tochas, aquele que faz o símbolo das
tochas na campanha, e graças a essa infeliz decisão, os outros monstros também
declararam o mesmo.
A
eleição foi apertada, mas o voto dos monstros foi decisivo e o candidato das
tochas é o novo presidente da Transilvânia. Pobres monstros! Não sabem o
tamanho do erro que cometeram ao se recusarem a entender que as tochas jamais
seriam usadas para beneficiá-los, somente para eliminá-los. Se tivessem
prestado um pouco mais de atenção nas aulas de História do professor Vlad, o
Vampiro, eles não teriam dado o seu apoio a um candidato que desejava
impossibilitar a vida de um monstro na Transilvânia. Esse professor com toda a
sua sabedoria milenar tentou ensinar aos monstros sobre o perigo de mais tochas
na sociedade, infelizmente todos debochavam. Certa vez Mumy, a Múmia, disse:
― Meu pai só foi queimado por uma
tocha porque não tinha uma tocha para se defender.
Alguns
gritavam durante as tentativas de Vlad em alertá-los para o perigo desse
candidato coisas como:
― Candidato das Tochas, taokey?
― Quem não deve não teme!
― Os esquerdomonstros querem
difamar nosso candidato!
Outros
colavam em seus meios de transporte, de carruagens a caixões, frases do tipo:
“somos todos caçador de monstros” ou “eu quero uma tocha para me defender”.
Não demorou muito para que as opiniões começassem a mudar após as eleições, mas já era tarde, o mal estava feito.
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