Em tempos de isolamento social e solidão, romance histórico aquece o coração do leitor ao tratar de estreitamento familiar e luta pelos sonho
A escritora maranhense Lenita Estrela de Sá está lançando seu mais novo livro pela Editora Penalux. Trata-se do romance “Os anéis de Maria”, cuja trama é ambientada em São Luís do Maranhão, entre as décadas de 1940 e 1980, tendo como pano de fundo a realidade do proletariado nesse período.
A obra retrata a história do casal Maria e Inácio e os problemas que enfrentam por conta de sua situação social e financeira, expondo principalmente as circunstâncias precárias que o mercado de trabalho da época oferecia para mulheres.
Outro aspecto muito importante que pode ser observado na obra é o vínculo familiar fortalecido ao buscar atingir os objetivos, especialmente entre Maria e os filhos.
“É uma história que basicamente fala de superação”, diz Lenita à nossa equipe. “O tema central consiste na força do amor entre uma mulher humilde e seus filhos, que buscam superar por meio da educação a barreira das classes sociais”.
O romance parte de um episódio real e daí segue pelos caminhos da imaginação da autora. “O leitor certamente se emocionará ao conhecer essa história”, continua a escritora. “É uma narrativa representativa para nós, brasileiros, que lutamos contra as adversidades em busca de nossos objetivos e uma melhor condição para nossa família”.
Como dito, a obra retrata a história do casal Maria e Inácio, que batalha para melhorar de vida, tentando conciliar trabalho exaustivo, estudos, ambições e, é claro, o próprio casamento.
“Tudo se passa em 1940”, relata Lenita. “A história se desenvolve até os anos 80, passando por um Brasil explorador e machista, ao qual os personagens tentam resistir com força e perseverança”, finaliza.
No prefácio, o editor e revisor Daniel Zanella destaca que “Os Anéis de Maria” apresenta o panorama de um Brasil proletário, imerso nas contradições das forças de trabalho e das divisões de classe. “Ao acompanhar a trajetória sofrida de Maria, filha não assumida de um juiz, e de seu marido Inácio, abnegado e envolvido com montagens teatrais, Lenita Estrela de Sá nos oferece um retrato das dificuldades de ser pobre e, sobretudo, de ser mulher, no precarizado mercado de trabalho da época (ou de sempre)”, escreve.
A escritora Maria Valéria Rezende, que assina o texto de orelha, complementa da seguinte forma: “Nem sei como agradecer [à autora] por ter me trazido, de modo tão vivo, o mundo em que nasci e vivi as primeiras décadas de minha vida, decorridas à margem de um porto, minhas lembranças dos tempos da II Grande Guerra e do Pós-guerra, dos anos “dourados” de esperanças e lutas, de nosso povo escalando caminhos íngremes, mas superáveis pelo amor e pela coragem de quem só conta com sua própria força, sua capacidade de trabalho e criatividade e a solidariedade entre iguais! Sua protagonista Maria e suas companheiras fizeram-me reencontrar vivamente minha mãe, minhas avós, minhas tias e tantas conhecidas que, com enorme resiliência e sensatez, com conhecimentos e práticas quase esquecidas hoje em dia, à custa de muito sacrifício, foram capazes de fazer viver grandes famílias, cheias também de artistas sonhadores”.
Trecho:
Que
hora seria? Tinha serviço pesado de manhã. Convocara os dois aprendizes que o ajudavam para chegarem cedo à marcenaria, não tivessem os
folgados gastado horas ouvindo
sambas-canção na rádio Educadora! Mas, ao se
ver na escuridão, sem demora dispensou essa suposição; cumpriria sim o compromisso de armar a
estante do Dr. Hermínio, que o
procurara por indicação de outro cliente,
um conceituado escriturário do Banco do Brasil cujo nome lhe fugia, agoniado como estava.
Felizmente, ao aumento da prole
correspondia a expansão da clientela, uma vez que, a despeito da alma de artista, não negligenciava as
obrigações impostas pela luta
diária com a manutenção da casa. Logo o
silêncio se restabeleceu. Guilhermina talvez estivesse novamente de olhos arregalados à espreita da
proteção do pai, que, após nova
inspiração profunda, tateou o ambiente às
escuras até tocar o puxador metálico da gaveta da petisqueira, onde encontrou uma caixa de fósforos.
Exausto, sentou-se na ponta do
sofá de palhinha, para tomar fôlego. Em seguida,
maquinalmente, forçou o olhar na direção do relógio de parede, sim, ainda faltava um bocado
para a meia-noite! A cidade em
silêncio. Ele não conseguiria dormir – e alguém
conseguia com aquele clima de medo?
Gênero: Romance | Formato:14x21 | Ano: 2020 | Páginas: 202 | Valor: R$40,00
Para comprar: https://www.editorapenalux.com.br/loja/os-aneis-de-maria