por Taciana Oliveira__
Conversei
com a escritora cearense, Sofia Osório, que se prepara para lançar nos próximos dias, “Medos Rabiscados”, seu primeiro livro de
crônicas e poemas.
1 - A
estrutura de "Medos Rabiscados" nos remete a um estilo confessional
presente em algumas obras como "Só Garotos", de Patti Smith e Alta
Fidelidade, de Nick Hornby, por exemplo. Conta pra gente quais são os títulos
que passeiam na tua estante e que te provocaram o desejo de ser escritora.
O meu
desejo de ser escritora foi provocado muito cedo, ainda na infância. Portanto,
bastante Monteiro Lobato, também títulos como A casa do meu melhor
amigo, do Flávio Paiva, Joaquim e Maria e a estátua de Machado de
Assis, de Luciana Sandroni. Mas também aquelas coleções de diários
que a gente até sente vergonha alheia de ter lido quando encontra na livraria
depois, tipo Querido diário otário. Histórias da Turma da Mônica também,
sempre. Adorava especialmente aquelas que saíam um pouco da realidade do bairro
do Limoeiro. Por exemplo, os Especiais de Cinema, ou até os de Saiba Mais.
Na
adolescência, meu gosto nunca foi tão variável. Li e curti bastante livros de
fantasia medieval, como As Crônicas de Nárnia, de C.S Lewis, como
também romances sensíveis, como Todo Dia, do David Levithan, que
me marcou bastante na época, e Por Lugares Incríveis, da Jennifer Niven,
que foi muito importante pra mim.
Depois
de adulta, me toquei da importância da leitura de autoras e autores nacionais
contemporâneos. Mergulhei neles. Dia Nobre, Bruno Paulino, Vanessa
Passos, Dércio Braúna, Carol Chiovatto, Ian Fraser, Fernanda
Castro… Me apaixonei pela escrita de todos eles e não me arrependi. Hoje,
defendo que tão importante quanto ler autores do mundo todo, é ler os
nacionais, e tão importante quanto ler os clássicos, é ler os autores vivos,
que estão produzindo agora.
2 - Crônicas,
música e poemas tecem uma delicada colcha de retalhos para compor "Medos
Rabiscados". Como foi construir o desenvolvimento da linha narrativa?
Inicialmente,
os textos me vinham de maneira individual. Depois, eu observei um padrão entre
eles. Notei que havia um tema em comum. Senti a necessidade dividir a obra em
três arcos. Três subtemas. Escrevi o nome de cada um dos textos em post-its, e
espalhei pela mesa. Fiquei os encarando até cair a ficha. O primeiro arco seria
sobre se sentir no limite. O segundo seria sobre a arte salvar. O terceiro
seria sobre estarmos sempre tentando nos encontrar. Batizei os arcos: Limiares,
Enredos e Travessias. Uma vez que eu descobri o que seria cada arco, os nomes
vieram facilmente.
3 - No
livro há diversas referências musicais, inclusive uma playlist. Como a música
reflete no seu fazer literário?
Estou
sempre ouvindo música. É um vício. Bem e mal lutam dentro de mim diariamente
nessa briga eterna tentando descobrir se isso é bom ou ruim.
Ouço
música enquanto escrevo, enquanto penso nos personagens, enquanto reviso o
trabalho, e até enquanto respondo essa entrevista está tocando Of Monsters
and Men.
A
música é extremamente importante pra mim. Bowie conta histórias de
homens das estrelas em suas canções. Eu adentro. E vou criar minhas próprias
histórias.
4 - Na
crônica "Síndrome do Impostor", você diz: "Seja você mesmo"
- eles dizem. "Mas não desse jeito." - eles completam". Escrever
é um ato de rebeldia contra as imposições diárias que nos cercam?
Com
certeza. Diria ainda que é um ato de resistência. Quando escrevemos,
resistimos.
5 - A
poeta e compositora Patti Smith sinaliza em seu Devoção (Companhia das Letras,
2019): "Por que escrevemos? Porque
não nos podemos limitar a viver.” Qual seria a sua resposta para a mesma
pergunta?
Escrevo porque é isso que eu sei fazer. É isso que eu amo fazer. É isso que eu quero fazer. Não me vejo fazendo outra coisa. Desde criança, sou apaixonada por criar histórias unindo palavras e frases. Viciei. E agora não largo mais. Por isso escrevo.
Taciana
Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club
do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura.
Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser
ouvir: Ter bondade é ter coragem