por Lisiane Forte__
Escrevo-te estas palavras para que saibas que hoje
cedinho vi Maria.
Se tu vieste pelas bandas de cá, não iria
reconhecê-la, porque mudou.
Maria está madura e carrega no rosto uma expressão
diferente daquela moça que deixaste.
Maria vende frutas no mercado e carrega Teresinha para
todos os lados.
Esta carta te mando através do João, que chega esses
dias por aí. A propósito, espero que tenha agasalhos de sobra, porque ele não
está acostumado com o frio que te assola. Podes enviar-me especiarias por ele?
Hoje faço temperos, não mais temperamentos.
Lembrei de algo importante. Terás um sério problema
para falar comigo, caso decidas escrever-me. Não sei o endereço deste novo
lugar. Depois que partistes, em busca de teus ideais, venho a sofrer de
amnésia.
Agora de Maria, eu lembro. E como ela mudou.
Maria vive feliz e tira o seu sustento da terra onde
mora. Ela vende as mais suculentas frutas dos campos do sul da nossa região.
Alguns dos nossos vizinhos dizem que Maria anda de pés
descalços pelos terrenos secos e pedregosos das nossas colinas, colhendo
suspiros-brancos-do-monte e saudades-perpétuas.
Termino aqui, pedindo a ti que não tenha mágoas de
Maria, pois quem foi embora fostes tu.
E se encontrares Lúcia, dê-lhe um oi da minha parte.
Caso não encontres, não precisas dizer nada. Adeus. Não se esqueças de mandar
saudades a todos.
Saudades-perpétuas, cultivadas no Sul de Portugal