por Rebeca Gadelha__
“A longa noite de Bê” é o segundo romance de Fernando Ferrone, lançado
este ano pela Mocho edições - e que prazer é reencontrar este escritor em uma
narrativa dinâmica e sem rodeios: desde a primeira página, ele já traça o ritmo
que nos guiará pela trama.
“Longa noite de Bê” nos convida a conhecer e desvendar Bê, um homem que
encontramos pela primeira vez em uma situação absurda e improvável: em cárcere privado,
amordaçado e amarrado, sem chance de fuga ou esperança de resgate. O tipo de
coisa, como diz o autor, “que a gente nunca acha que vai acontecer com a gente”
- até que acontece.
Bê,
ao que nos é revelado pelo narrador, será provavelmente executado e seus crimes
(se os cometeu ou não realmente é outra história) são revelados gradativamente
por um narrador parcial que está decidido a fazê-lo rever todos os erros que já
cometeu na vida, numa espécie de flashback hollywoodiano. E é neste flashback
que conhecemos Lila e Rasta, dois universitários (ambos veteranos) que
acompanham Bê em seu primeiro ano de faculdade e como o plano aparentemente
perfeito de vender cocaína em festas universitárias para conseguir uma grana
necessária, acabou tendo desdobramentos que vão além de processos criminais.
É
fácil encontrar em “Longa Noite de Bê” elementos de “À deriva”,
romance de estreia do autor, uma delas é a forma como as pontas da história se
unem - porém, é surpreendente e emocionante como o autor explora as
possibilidades dentro desta técnica narrativa, navegando pelo o que poderíamos
chamar de submundos: do funcionamento cruel e desumano do sistema prisional
brasileiro e das organizações prisionais paralelas (que poderiam se assemelhar
a facções) ao funcionamento de organizações que gerenciam o tráfico de drogas na América Latina.
“Longa
Noite de Bê” é um romance bem equilibrado e envolvente, com personagens bem
desenvolvidos e únicos, que nos surpreendem continuamente, dando dinamicidade e
fluidez à narrativa. Ferrone executa a história com habilidade e precisão,
criando a tensão - e a curiosidade - necessária para que continuemos a avançar
página após página.
Fernando Ferrone nasceu em Jardinópolis, SP, em 1981. Em 2003, concluiu a faculdade de Ciências Sociais (Unicamp) e, em 2005, apresentou dissertação de mestrado em História Contemporânea (Université de Bourgogne, França). Desde 2006 reside em São Paulo, capital. É tradutor e autor do romance à deriva (2017, edição independente). Publicou contos pelo site Ruído Manifesto, atualmente, conclui seu segundo romance, provisoriamente intitulado A Longa Noite de B.
Rebeca Gadelha é otaku, gamer e artista digital. Formada em geografia pela Universidade Federal do Ceará, tem um fraco por criaturas peludas e gorduchas. Trabalha com edição de vídeo do Literatura & Libras (@literaturalibras), diagramação de livros e na organização de projetos literários no Selo Mirada. Reminiscências (Selo Mirada, 2020) é o seu primeiro livro