Dois poemas do livro Roubei teu Girassol, de Nay Lima

 por Taciana Oliveira__





Dois poemas do livro “Roubei teu girassol” (Edições Parresia, 2019), de Nay Lima.

 


VII-


eu te peço que quando chover,

não abra o guarda-chuvas.

quero que se molhe, que corra,

que escorregue nas cerâmicas

das calçadas dos seus vizinhos.

te peço que quando ver uma velhinha

na rua, a ajude a passar naquela faixa

de pedestres que ninguém respeita.

que se puder, toque uma campainha

e saia correndo com o desespero de ser

pega e levar uma bronca.

que faça um café bem cedo,

e deixe a preguiça que já faz parte de você

ir embora um dia sequer.

te abraça um dia, e te olha no espelho

e lhe diga algo que ninguém nunca disse.

você é a vida que o mundo espera

a cada minuto.

e talvez você não se importe muito

com essas palavras.

ou que simplesmente feche os olhos

para o que realmente importa,

mas eu quero que saiba,

que a cada minuto,

cada célula tua é linda.

cada artéria que passa teu sangue.

cada órgão.

tudo.

tudo teu é lindo.

sabe aquele calçadão

que tu passas sempre? existem

pessoas que passam por lá

com suas almas vazias.

sonhos quebrados, corações também.

preocupações com contas.

emocionalmente frustradas.

toma cuidado pra não ser assim.

não desista de ser feliz.

não desista da vida.

o mundo existe inteirinho

dentro de você!

pega uma manga verde e come.

coloca sal, coloca tempero.

põe os tênis e vai fazer a caminhada

— não há tolice no mundo

     senão a preocupação do sério

     vai! aumente o volume do seu fone

     até o último

     te cuida hoje, amanhã.

     te cuida como ninguém nunca

     foi capaz de fazer.

 



VIII-


tenho que superar você.

mas te superar significa ter

que aceitar que não vamos ficar juntas.

talvez a gente se trombe no calçadão

e se comprimente.

ou quem sabe a gente até se abrace

mesmo sabendo que você

não gosta de abraços,

mesmo que você tenha me contado

que gosta do meu.

eu não quero aceitar que temos

que ter um final. mas hoje à tarde

eu percebi que sequer tivemos um começo.

odeio meus dias cinzas.

e tenho que me despedir

de você logo hoje,

mesmo que eu me pergunte

se ainda existe um resquício

de um sentimento meu aí dentro.

andei pensando nos últimos dias.

queria que me mandasse uma mensagem.

queria que voltasse com as certezas

que nunca teve.

mas agora tenho a certeza de que cê não vem.

você não se perdeu no caminho.

você sequer saiu de onde estava.

eu só tenho medo de te ver por aí,

andando com aquele capacete,

e com aquelas chaves da moto

do teu pai na mão.

boa sorte.

eu espero que um dia

tu encontres uma razão para sorrir

ao menos aos domingos.

e que pare de ser chata

na hora de responder as mensagens.

se cuida, garota.

eu preciso cuidar de mim agora.

 

 


Naielly Lima
, mas meus amigos me chamam de Nay. Tenho 18 anos e moro na cidade de Delmiro Gouveia no estado de Alagoas. Sou apaixonada pela escrita e pelo efeito que ela tem na nossa vida e tudo que podemos aprender por meio dela.











Taciana Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter coragem.