por Divulgação__
Em 2020, a
escritora manuara Myriam Scotti foi a vencedora do Prêmio Literário
Cidade de Manaus, na categoria romance regional. “Terra úmida” é o título desse
livro premiado, que agora está sendo publicado pela editora Penalux.
“Esse título foi escolhido por
representar o clima amazônico”, diz a escritora à nossa assessoria. E completa:
“Também foi escolhido por causa da personagem Syme. Vejo ela como uma criatura
úmida, caudalosa, fértil, tanto quanto a terra que ela vai viver”.
Syme e Abner, outro personagem central do livro, fazem parte de uma
família de judeus que saíram de Marrocos para se estabelecer no Amazonas no
início do século passado, tendo em vista a promessa de prosperidade emanada
pelo Ciclo da Borracha. Ao compor o
percurso desses marroquinos, Myriam Scotti brinda o leitor com personagens
cujas fronteiras psíquicas se movem ante o desconhecido.
“Além da reflexão sobre as relações
familiares”, adianta a escritora, “quis trazer para a minha história a
possibilidade de misturas de culturas, costumes e paisagens. E provocar alguns
questionamentos mais profundos sobre deslocamento cultural e influências
locais. Afinal, o que o desenraizamento pode provocar em nossa personalidade e
relações?”
“Terra
úmida” é um romance ímpar e comovente, construído com muita delicadeza nas
narrações de Abner, um dos filhos, e de Syme, a mãe.
Anita Deak, autora que assina o texto de orelha
do livro, diz que a autora “planta a terra úmida amazônica em cada personagem,
e ela se infiltra lentamente em suas expectativas e dores, pressionando suas
paisagens internas”. Destaca ainda a destreza narrativa de Myriam Scotti: “Ela tece
as memórias de Abner e Syme num movimento pujante e fluido que enreda o leitor
até a última página. Cabe destacar a maneira brilhante com que foi construída a
tensão no círculo familiar, que resvala para questões fundamentais entre o
feminino e o masculino”. Por fim, Anita antecipa o que o leitor encontrará
neste romance: “Vai se deparar com cenários exuberantes, sentirá os cheiros do
Marrocos e da Amazônia, mas perceberá em tudo isso o peso da ancestralidade a
se erguer sobre todos os espaços. Como disse a escritora italiana Natalia
Ginzburg, que tão bem escreveu sobre as questões familiares, o destino transcorre
na alternância de esperanças e nostalgias. É uma reflexão que cabe também a
esta bela obra que você tem em mãos”, finaliza.
Myriam acredita que seu livro também traz como contribuição um olhar para
regiões e culturas ainda pouco exploradas no cenário literário. “Para além
disso”, acrescenta a autora, “é uma história que trata, sobretudo, de questões
humanas fundamentais e atemporais”.
TRECHO
DA OBRA:
“A paisagem escurecia, sem que pudéssemos fugir
de toda a chuva que estava para irromper, num prenúncio de desafio a quem
ousava por ali navegar. O verão amazônico se anunciava violento, inserto em sua
própria selvageria e ainda faltavam três dias para chegarmos a Manaus.
Estávamos em meio ao nada. Apenas o infinito de águas nos cercava. Inimaginável
que uma tarde bonita como aquela pudesse se transformar, trovões começariam a
rimbombar e uma chuva torrencial cairia sobre nós. Ventos fortes e atípicos
sacudiam a embarcação, como se fôssemos um barquinho de papel. Um dos
marinheiros chamou a nossa atenção para uma mancha que lembrava um grande disco
e se formava na superfície do rio, a certa distância. Curiosos, corremos todos
para saber do que se tratava e então vimos surgir um anel de água, que logo
ganhou força formando uma imensa tromba. Mesmo percorrendo rios há alguns anos,
só tinha ouvido falar do fenômeno e até duvidava de sua veracidade”.
SERVIÇO
Terra úmida,
Myriam Scotti (romance – Penalux, 2021); 268 p.; R$45,00
https://www.editorapenalux.com.br/loja/terra-umida
Myriam Scotti, nascida em Manaus, em 1981, é escritora, poeta e mestranda em literatura e crítica literária pela PUC-SP.