dezessete , de beta(mx)reis

 

por Rebeca Gadelha__




dezessete é o livro de estreia de beta(mx)reis, ou beta reis, pessoa não binária, artista, educadora, revisora e tradutora goianense, lançado pela Negra Lilu Editora, através da Lei 14.017 de junho de 2021 - Aldir Blanc. Em dezessete, beta nos convida a aceitar a poesia como um movimento interno e transcendente que nos perpassa e que não se sujeita aos rigores da gramática. Como diz Larisa Mundim, responsável ela apresentação d livro e editora da NegraLilu, a intenção não é de criar uma nova língua ou reinventar a gramática, mas sim trazer “uma proposta de autonomia linguística não violenta.”

 

“esses edifícios essas

sagradas certezas que caem

ao som do vento e das miragens, revolver

é como feita de encontrar oásis

e é nadar, enfim,

nos vazios”

 

 

A poesia de beta pulsa diversidade e liberdade, tanto na sua forma quanto na riqueza de referências, trocadilhos e intertextualidade: aqui há referências para agradar a todes, dos amantes de Frederico García Lorca, Lawrence Ferlinguetti, Emily Dickinson, aos fãs de Sylvia Plath, Florence and the Machine, Letrux e Valesca Popuzuda. O livro, então, traz diálogos entre autores considerados clássicos e/ou acadêmicos (como Michel Foucault) e artistas contemporâneos de forma orgânica, fluida - aliás, acredito que fluidez seja palavra chave para entender e apreciar a poesia de beta. Um bom exemplo é o poema potlach,sempre cujo título é uma referência à obra Sociologia e Antropologia, de Marcel Mauss (Cosac Naify, 2014) e traz em seus versos, intertexto com Dog Days Are Over, de Florence and the Machine:

 

mães pais nada se pode levar se quiser

sair viva e vivo daqui e vivo disso e

viva aplacando a fome do fogo e queima

sem trégua o gasto e o novo e queima

figas figos trigo abrigo”

 

 

Em dezessete a poesia não tem rotina: cada parte nos surpreende um pouco, seja pelo diálogo entre clássico & contemporâneo ou pelo próprio uso da linguagem e da gramática ao qual vamos nos habituando ao longo de suas quase 200 páginas. Seus versos navegam entre o cotidiano das listas de compras e de afazeres se intercalam com outros temas, fazendo da própria existência, mesmo que caótica, uma forma de poesia:

 

“é um trajeto

não, não é

em linha reta, e são meus

os passos

a fazer o caminho

 

mas meus pés

tem o sangue de meus ancestrais

mas a terra

está repleta de meus ancestrais

e cada gestopalavra e cada toque

de tambor de zabumba de viola

também

meus ancestrais





beta(m)xreis é uma pessoa trans não-binária, e usa os pronomes ela/dela. Já assinou como Roberto Reis. Nascida em Brasília em 17 de agosto de 1988, mas goianiense de criação. Fez graduação em Ciências Sociais na UnB e mestrado em Antropologia na UFG. É artista, educadora, pesquisadora, tradutora, revisora e voluntária. É zineira desde 2016. Em 2016/2017, dançou no espetáculo Cartas de Frida e atuou em Mundo Cerrado. Apresenta performances presencialmente e virtualmente desde 2019. Publicou poemas na antologia Sobre Gostar Menos (Selo Naduk – Neg aLilu Editora, 2019). Teve seu primeiro livro publicado, dezessete, em 17/02/21 pela Nega Lilu Editora. O livro Lobo Bobo surge em 17/04/21 (obra digital, auto publicação). Integra o Coletivo E/Ou e a Coletiva Antropofabis. É editora da revista de arte TEM BASE?!







Rebeca Gadelha
é otaku, gamer e artista digital. Formada em geografia pela Universidade Federal do Ceará, tem um fraco por criaturas peludas e gorduchas. Trabalha com edição de vídeo do Literatura & Libras (@literaturalibras), diagramação de livros e na organização de projetos literários no Selo Mirada. Reminiscências (Selo Mirada, 2020) é o seu primeiro livro.