por Taciana Oliveira___
O cineasta baiano Glauber Rocha estava certo quando decretou: Ninguém pode com Nara Leão. Personagem da
brilhante biografia escrita pelo jornalista Tom Cardoso, a artista não aceitava
rótulos, não se permitia trilhar caminhos que não fossem definidos por suas
convicções. Nara era bossa nova, tropicália, samba e rock and roll... Uma mulher coerente com seu tempo e que jamais
se curvou as estratégias do mercado fonográfico ou aceitou a condição simplista
de musa: ela desafiava a caretice e a soberba de quem insistia não respeitar uma
garota de classe média sintonizada com a possibilidade da construção de um país
diverso e democraticamente acessível. No
auge do regime militar em entrevista ao Diário de Notícias, não se poupou: os
generais podiam entender de canhão e de metralhadora, mas não “pescavam” nada
de política. Por que não aproveitar e extinguir o Exército?
Bombardeada por todos os lados precisou
sair do país por temer pela própria vida. Casada na época com o diretor de cinema Cacá
Diegues, experimentou o exílio na França. A narrativa precisa de Tom
Cardoso possibilita ao leitor uma “viagem no tempo” a partir de uma linha cronológica recheada
por histórias de lutas e afetos. O autor descortina a participação de Nara nos vários
movimentos da MPB e a coloca como responsável pelo lançamento e resgate de
figuras como Chico Buarque, Maria Bethânia, Zé Keti e Cartola. Por trás de toda
aquela timidez pulsava uma voz corajosa que acolhia a liberdade como bandeira máxima
da sua expressão.
Ninguém pode com Nara Leão, de Tom Cardoso (Editora Planeta) é
mais um dos ricos projetos (Tom é responsável pelas biografias do jogador Sócrates
e Sérgio Cabral) desenvolvidos pelo jornalista. Um convite honesto e necessário
para ressignificar a trajetória de uma artista que partiu precocemente, mas
permanece cada vez mais presente na história de seus fãs e da música popular brasileira.
Taciana
Oliveira é mãe de JP,
comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport Club do Recife, apaixonada por
fotografia, café, cinema, música e literatura. Coleciona memórias e afetos.
Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser ouvir: Ter bondade é ter
coragem.