por Taciana Oliveira __
roxo
cor
mexe comigo vem
que
seja na botina na sola
ou
no chapéu se tiver
o que me oferecer
em jeitos de me fazer espanto
e espasmos tanto
na superfície tantos e no
subterrâneo caem cavernas
eu não
quero
ficar no lugar de mim eu
não
quero
nada disso eu
quero
mas não que venha
o
laço e me leve que eu repita
farsa
e tragédia e nojo
eu
não entendo
o que me dá
eu
não quero entender o que me atropelou
eu
não quero entender o que me deu
o que você deu em mim
com que dado que fico
quantas faces
de
material qual
mas
de certo roxo só
pode ser sua cor e pra marcar entende-se
que precisa doe
depois de um tempo sem
ar
a queda em si é um
mergulho
a
queda, em si,
é um mergulho
inevitável,
a queda,
amá-la
pra se achar-se:
dessa
maneira, e apenas assim,
depois
de um tempo sem ar
conseguir
respirar lá embaixo
mas
antes
saio
debaixo dágua mas antes
eu
fosse miscível mas antes
eu
não fora míssil mas antes
a
missão
houvesse
sido outra
mas antes
sequer respiro mas antes
esse
raspar de pele menos ríspido
mas
antes ante o tamanho de tudo
eu
menor eu pior eu ainda
alguém
mas
antes coisíssima nenhuma
mas
antes eu melhor
em
mistura no milharal em mistério sem
rima em
mix
de rampeira e ranço por me elevar e
me botar
fora
dágua
potlatch[1],
sempre
queima adiante os caminhos passados
presentes futuros todas todos maridos
esposas a vir irmãs irmãos filhas filhos
parcerias dadas em berço ou vida queima cada
qual
cada coisa que lhe oferecida ofereceram oferece
tudo
quanto se possa e tesouros que carregue
nas
costas ou guarde embaixo da cama
ou
do fundo falso discos livros
casacos abrigos
mães pais nada se pode
levar se quiser
sair viva e vivo daqui e
vivo disso[2]
e
viva
aplacando a fome do fogo e queima
sem
trégua o gasto e o novo e queima
figas
figos trigo abrigo
cartas
que não enviou e que recebeu
cálices
cetros medalhões
arpões laços algemas
todo o azeite que tenha
e sim
as tainhas por favor as
trutas
como lenha
vamos
todas todes todos ao fogo enfim
sabe-se
lá o que virá das cinzas e pra onde
vai
a fumaça quão longe e isso é
pedido e gratidão e isso é
celebração e luxo
havemos sempre de deixar ir
para nuas e nossas
tão
nossas melhor correr
Taciana
Oliveira é mãe de JP, comunicóloga, cineasta, torcedora do Sport
Club do Recife, apaixonada por fotografia, café, cinema, música e literatura.
Coleciona memórias e afetos. Acredita no poder do abraço. Canta pra quem quiser
ouvir: Ter bondade é ter coragem.