por Bruna Sonast__
Certa vez, li um texto que falava sobre todas as tantas e, por vezes, bizarras formas que pode ter o amor. o texto também falava sobre a luz, que sempre passa, entre as rachaduras. e foram estas, as principais imagens, que surgiram em minha mente, enquanto lia “Reminiscências” (2020), de Rebeca Gadelha.
Para mim, sempre foi difícil, tentar trazer para as palavras, as memórias
da minha infância. e foi muito por este motivo que ler o livro da Rebeca, nos
contando as suas vivências desse período que, de diferentes formas, nos chega,
por vezes, tão difíceis; me afetou e comoveu tanto, ao me deixar embaralhar
junto com todas as suas narrativas, que chegam “aos pedaços”, como a memória. o
livro de Rebeca nos mostra com uma sincera sensibilidade como é difícil e
singular estar junto, em família, quando nem sempre conseguimos prestar atenção
na luz que entra. assim, seja para as tias que conviviam com a própria loucura;
seja para o avô, que não se perdoava por falhar; seja para a avó, que abdicou
da vontade de viver para além de seu tempo; seja para a mãe, que sempre
precisou ser uma mulher forte; seja para o pai, que nunca soube estar; ou, e
principalmente, seja para a menina, que precisou contar todas essas histórias,
eu penso que as histórias de vida, no fim, são assim mesmo, como a de Rebeca,
nos trazem algum tipo de herança “esburacada”, por onde a luz passa de forma
meio bizarra, feito o amor. e foi uma sincera alegria conhecer a história da
Rebeca, que se faz de gatos, de cachorros, de mãe, de namorado. mas que também
se faz de vô, de vó, de loucas, de pai, e de todas as reminiscências que ficam,
assim, apesar de e por tudo, em nós.
Rebeca Gadelha é otaku, gamer e artista digital. Formada em geografia pela Universidade Federal do Ceará, tem um fraco por criaturas peludas e gorduchas. Trabalha com edição de vídeo do Literatura & Libras (@literaturalibras), diagramação de livros e na organização de projetos literários no Selo Mirada. Reminiscências (Selo Mirada, 2020) é o seu primeiro livro.