por Manoela Cracel__
embotado
o que
seria um gato de botas
senão
um ser desprovido de patas
peregrinando
nas ruas à procura
de nada
porque sem o tato
contato
direto com a pedra
tolhe-se
o efeito da temperatura
ambiente,
só se sente o calor
impregnado
nos dedos, calcanhar
avançando
para o desespero
de não
saber como é que se faz
para
avançar mais um passo
pesado
em miligramas de suor e
gato
sua?
na
almofada das patas e entre os dedos
gato
tem calcanhar?
o que
seria um gato de botas?
morcego
sem radar?
carrapato
sem bico?
elefante
sem trompa?
cavalo
sem casco?
cachorro
sem focinho?
humano sem
pele?
vamos
parar de colocar botas nos gatos
vamos
fazer isso
e ver
no que vai dar
vampirilongo
quando se está no sossego
em estado rarefeito
densidade diminuta
continente e conteúdo desconexos
num continuum da matéria
entregue ao fluxo desprovido de tempo
no exercício prazeroso da hesitação
esse é o momento
essa é a sacação dele
ser obstinado
corpo aferente de captação de sangue
até baba, o bicudinho
inocula o seu cuspinho
e sai cantando e dançando
aedes dionisius
deveria ser o seu nome
Timina nunca sai de casa, é tímida
Guanina, relegada ao gelo, se
guarda
Citosina, sitiada, tenta manter a
situação
e Adenina, cultivadora de prazeres
adoece, de três em três em três
meses
força, sopro, elã, luz, liga, Deus
deusas
vagarosas
se arrastam no eterno lusco-fusco
o sol e a lua nunca vão se
encontrar
aqui nesse planeta não querem mais
ficar
coisas estranhas circulam o solo
o céu no seu silêncio observa
fios entrelaçam os destroços
Timina, Guanina, Citosina e
Adenina se levantam
fundição
fermentação
choque
cwssckckwkwkkcswkwkwkkwcwcswscswwwwwwwww
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Manoela Cracel é nascida em São Paulo, no ano de 1975. Formada em Direito, tem a literatura e o cinema como paixões. Escreve poemas e contos, alguns publicados em revistas e antologias.