Cinco poemas de Pedro Menezes


por Pedro Menezes__


Finn IJspeert


coração não bate mais tum tum

tum tum tum tum

coração é folha

que ora amassa ora alisa

ora amassa ora alisa

estica e se contrai descansa e cresce

pedaço de intensidade

que só paixão esculpe

 

 

Dallas Reedy

 

trepar nas árvores até o topo

guardar as asas

chupar uma fruta e encontrar deus

mastigar devagar

extrair o suco e cuspir o caroço

descer não

voltar talvez

não

nunca mais

soprar formiga

roubar um ovo

o tempo ajuda deus a achar seus iguais

exercitar o focinho

arranhar o tronco

encarar umas nuvens

calcular a altura cagando

abrir as asas

e aguardar o vento

 

 

Jess Snoek


Galo estreleiro,

Mechas que transluzem

A eternidade.

Entoa pactos...

Precipita sopros,

Abala poses

E cortejos.

Os animais sentem.

É a penugem,

Impondo distância...

Os corais tremem,

Quando teu ninho se mistura...

Com a voz do mar.

 


Arto Marttinen 



Uma nuvem

Passa sozinha...

Como quem se debruça

Em qualquer lugar.

Sua sombra,

As crianças usam como bem entendem.

Casulo. Capacete.

Chapéu. Chiclete.

As garças disfarçam...

Revestidas de virgindade.

Tudo que se desfaz vai além.

Até virar tempestade. E incandescer.

Os olhos embaçados veem melhor.

O borrão no céu:

Degelo cataclísmico.

O óbvio

Só vai até a surpresa.

Depois maldiz.

Mas nos desvios,

Os canários cantam.

 


Alex Iby



A facilidade de agradar alguém

É proporcional à rapidez com que você se torna

Apenas mais um.

Menos é mais:

Intensidade.




 


Pedro Menezes
- Desde menino experimento algo de natureza indizível. Deve ser uma infância com preguiça de nascer. A poesia então ajuda, se não significa. Se faz dizer a vida indizível. E o que fiz ou deixei de fazer é segredo guardado pelo esquecimento. Mas quem me sente sabe. Instagram: @opedro.menezes