por Valdocir Trevisan__
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Corre uma
teoria de que a Covid-19 fomentou um homem mais solidário: somos mais irmãos que pensamos. Ah, tá! Onde
estava essa irmandade na Alemanha nazista, no Vietnã ou diante dos refugiados
africanos? Ingênuos. Sim, ingênuos como insistia os versos da música “Ingênuos
Malditos” do grupo gaúcho Tambo do Bando, que fez sucesso nos anos de 1980 a 1990.
Aliás, o
título desse texto seria “Ingênuos Malditos”, mas já
escrevi um blog com tal título, e recuei.
Depois
pensei em “Ingenuidade Desgraçada”, novamente recuei, afinal até
os ingênuos merecem respeito. Na terceira tentativa, imaginei “Ingenuidades
dos Ingênuos”, mas aí seria ingenuidade demais. Ficou “Ingênuos
Perigosos”, porque eles são mesmo muito perigosos. Aqueles que acreditam em
"mitos"...
E na doce irmandade do capital.
A letra de Sérgio Metz , falecido Jacaré, do
Tambo diz: "chupar sem-fim o osso e o aço até que a suástica reluza, no
Oriente vermelho. Como quis o último dinástico. Ninguém vive sem um César,
ingênuos malditos, o que fizeram com os mitos".
E como explicar os esquemas fraudulentos das
compras de vacinas? Ah, seus ingênuos malditos e perigosos. É até difícil
interagir com eles, mesmo sabendo que nosso equilíbrio depende da compreensão
do outro.
As eternas e famigeradas visões antagônicas
entre cooperação e manipulação se entrelaçam perseguindo e destruindo nossos
comportamentos.
Na verdade, queremos segurança, mas os
ingênuos não percebem o perigo das ameaças dos ditadores espalhados em todas as
instituições.
E em busca de dias melhores, poderíamos
limitar para harmonizar a ganância do capital, pois é aqui que a cooperação é
aniquilada pelas doutrinas maniqueístas, e onde os ingênuos perdem a razão.
A doutora
em psicologia pela UFRGS, Keitiline Viacava lembra que "está em nosso poder criar
estratégias que nos protejam de ações irrefletidas, voltadas ao bem-estar
individual, em prol de nossas redes de apoio sociais".
Ações
irrefletidas, entenderam seus ingênuos?
Irrefletidas, que significa sem reflexão,
entenderam?
Tipo assim: “isso tudo acontecendo e eu aqui
dando milho aos pombos”, (Zé Geraldo)....Acorde homem de Deus!
Mas não adianta. Já elegeram um caçador de
marajás, depois um "mito" e parece que agora vão de Datena, com Tiririca
ou Hulk de vice.
Uma comédia trágica.
Prefiro seguir caminhando e cantando e
vencendo canhões manipuladores. No aspecto político-econômico, até não sou um
ferrenho anticapitalista (se houvesse um capitalismo mais justo ou
"suave"), porém eles querem o lucro, custe o que custar e nesse momento
a solidariedade vai pro brejo, para os quintos dos infernos.
Até na hora da compra de vacinas eles passam
por cima do humano e da vida.
Percebem
ingênuos perigosos, o perigo? Portanto não me venham falar em homem solidário,
irmandade e apoio mútuo.
O individualismo do dinheiro não deixa meu
samba fluir, pelo contrário, eles querem meus tamborins. E fazem de tudo pelo
seu objetivo, me transformam em terrorista e com apoio de uma mídia podre e dos
“Ingênuos
Perigosos” (aqueles das ações irrefletidas) fico à deriva da minha sorte...ou
melhor, do meu azar.
O Tambo acrescenta: "Ingênuos
Malditos nós somos a causa de cinco mil mortos, o que diremos à noite para
nossos sonhos?".
Meus amigos Cachoeira e Pijama, dos tempos de
Santa Maria (de 30 e 40 anos passados), não são cinco mil mortes, são mais de
quinhentos mil...
Assim,
percebemos que o homem solidário é uma ficção quando ele se perde nas estradas
sinuosas do feroz capital.
Peço
socorro à humanidade de Edgar Morin para não cair na banalização do Mal como
alertava Hannah Arendt.
Porém, os
ingênuos são resilientes pois eles "pensam que nem o cara, aquele da
tv", achando que fazem parte de um grupo que, pasmem, oprime eles, os
ingênuos perigosos.
São tão
ingênuos que defendem classes que oprimem suas próprias categorias. Eles
precisam entender definitivamente que não existe apoio mútuo no capitalismo. A
cooperação não faz parte do processo.
Desde
sempre. O senhor feudal delimitava seus territórios da mesma maneira de hoje. A
tal suposta supremacia solidária da atual pandemia não existe. Basta ver as
organizações em nossa história, desde os grupos tribais. Se lá a coletividade
uniu os homens em grupos por necessidades, não temos mais uma sociedade de
cooperação.
Não se
trata mais de uma necessidade. Essa falsa solidariedade é conversa para boi
dormir, ou melhor, para passar a boiada. Somente com os campos e esferas de
Habermas poderíamos visualizar justiças sociais, pois somos humanos e não
gostamos de viver isolados.
E para
dias mais felizes, como pássaros livres e despreocupados, seguimos também
resilientes. De preferência, com distância social dos ingênuos perigosos
e...malditos. Né, Cachoeira e Pijama?
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui