por Valdocir Trevisan__
Acho
que ano que vem vamos precisar do Dadaísmo, do Surrealismo, da Art Nouveau, do Expressionismo
e de outros movimentos para nos libertar das aberrações do desgoverno em nosso
país. O desastre do "mito".
Quando
a Europa estava em escombros depois das duas guerras mundiais, a arte fez sua
parte na busca da reconstrução de um novo mundo. Obras como
"Esperança"(1907) de Gustav Klimt já anunciava o caos que estava se
aproximando. O pintor austríaco (um dos grandes nomes da Art Nouveau), também
condenou os desmandos da Revolução Industrial.
Os movimentos Art Nouveau, Surrealísmo,
Dadaísmo e Expressionismo chegaram como uma nova estética. O Dadaísmo então,
foi ao extremo e chocou o mundo entre 1916 e 1922.
Antes das guerras, Paris era o centro da
Europa e da moda, a liberdade reinava, porém os gases da I Guerra Mundial e as
bombas da segunda revelaram às monstruosidades humanas.
Com
o fim delas, a desilusão pedia a reconstrução do pensamento, tal como vivemos
no atual desgoverno. Necessitamos de um novo homem da mesma maneira como no
trágico século XX. Um mundo pós-pandemia se anuncia.
O teórico André Breton na década de 20, deu
origem às novidades na literatura e belas-artes revendo o realismo e propondo
uma arte livre, sem compromisso. Porém, foi Guillaume Apollinaire que criou o
conceito. Ele era crítico de arte e projetou um termo com significado superior,
algo além da natureza.
Breton
ainda incluiu Freud em sua jornada revolucionária com sonhos e inconscientes
entrando nas esferas artísticas. Ele se direcionou para as ideias freudianas e
foi um dos pioneiros a valorizar os sonhos nas vidas humanas.
O impossível, o irreal, o real e o surreal se entrelaçando em novos pensamentos e conhecimentos.
Quem não conhece os relógios de Salvador Dali
se derretendo?
Em
1931, Dali apresentava "A Persistência da Memória" transformando
paradigmas. Ele pintou ainda obras com temáticas cristãs como o "O Cristo
de São João da Cruz", mas os sonhos talvez fossem a maior inspiração.
Esses
movimentos debateram as desilusões nesta fase histórica e as descrenças
generalizadas com a razão e os ideais românticos,
E aí, nossos pensamentos entram em ação e
realçam novos conhecimentos, pois este processo decorre deles, do poder deles.
Quando Anne Frank no seu famoso diário,
pergunta ao amigo Peter do que ele tinha mais pavor, se era das bombas, das
metralhadoras, fantasmas ou aranhas, seu jovem colega de "cela" diria
que não tinha medo de nada, exceto dos pensamentos. Não temos controle
deles. Aliás, é o que vemos com nossos artistas. Não são seus pensamentos (e
sonhos) que produzem seus quadros magníficos? Como assumiram responsabilidades sobre à humanidade
desiludida, foram à procura de um "real" do surreal...
Dizem que no Romantismo a verdade se confundia
com a beleza, mas no trágico momento, onde está a esta beleza? Em qual guerra? Em qual hospital? É lindo o soldado voltar
para casa sem braços e pernas?
Eis a
relevância de nossos geniais pintores, escritores, artistas em geral.
Como
era uma época trágica, nossos artistas retratavam obras antiestéticas,
"feias", mas com um poderoso conteúdo. Era obrigação denunciar o
horrível. O horrível das batalhas, o horrível das atrocidades da Revolução
Industrial, o horrível, o horrível... E como eram seguidores de Sigmund Freud, assimilaram
o inconsciente em suas obras. Basta ver na obra de Salvador Dali o tempo se
derretendo, tigres voando e até os pássaros carregando novos significados.
Outros
famosos "viajaram" na onda: André Masson trazia esqueletos ceifadores no seu quadro
"Ceifeiros Andaluzes", de 1935, ou ainda "Europa após a
Chuva", de Max Ernst. Fantástico.
Max constrói uma paisagem com árvores e montanhas estranhas, pessoas desfiguradas como mutantes através de uma técnica chamada de "calcomania". Nela coloca-se a tela sobre uma superfície pintada para depois seguir seus efeitos aliados a técnica genial dos nossos mestres.
Nem citei Joan Miró, Hans Arp e o famoso
"O Grito" de Edward Munch (Expressionismo). Um berro assustador
denunciando a angústia espiritual da modernidade.
Breton,
o criador do Surrealismo rejeitou o Realismo exigindo criatividade e liberdade.
Queria outra realidade. Acontecimentos como dos malucos dadaístas (vou escrever
texto sobre eles), em seu Cabaret Voltaire. Um desapareceu, outro caiu morto em
pleno Cabaret.
A busca por algo novo não tinha limites, nem
que o real fosse consequência do surreal.
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui