DecadĂȘncia da Mesmice, Valdocir Trevisan

 

por Valdocir Trevisan__


Fotografia:Mariel Reiser


Na minha opiniĂŁo, Heidegger e Witgeinsten sĂŁo os filĂłsofos mais "difĂ­ceis" de compreender. E por isso suas teorias sĂŁo fascinantes. Com Heidegger sempre tracei conexĂ”es entre o nilismo a uma existĂȘncia com possibilidades. O mistĂ©rio do Ser.

 

Uma existĂȘncia imaginĂĄria, porĂ©m com suas "aberturas", uma busca para o novo de todo indivĂ­duo, a nova marca, a nossa presença ou prĂ©-sença (Da-sein), onde Da Ă© o prĂ©  e o Sein significando dar. Em nossas jornadas, o descobrimento do "Eu", o nosso empirismo.

 

Quando participamos de palestras e cursos, não temos a sensação de que tudo é uma repetição, com os mesmos conceitos? E o pior é que é isso mesmo, embora sempre adquirimos algo novo não é mesmo? Aí reside a relevùncia de tais eventos. Ora, é claro que o professor de História ensina quase o mesmo de seus antecessores, mas sempre surge algo novo. O pintor clåssico parece copiar alguém, mas a genialidade de um Monet libera suas fantasias inconscientes e o "diferente" vem à tona. Ainda bem, né?

 

Quantos gerentes ao se aposentarem permanecem amigos de seus funcionårios? Quantas vezes vamos ao mesmo bar ou restaurante devido ao atendimento ou amizade do garçom? São as pessoas diferentes justificando suas vidas com aquele algo mais. O Ser de Heidegger honrando suas vidas.

 

Os que se distanciam da mesmice, os que justificam sua presença, os que amam. AliĂĄs, o apaixonado Ă© o Ășltimo a perceber que estĂĄ nas "nuvens do amor", enquanto todos ao seu redor jĂĄ perceberam algo "diferente". Sensacional, nĂ©?

 

E quando estamos angustiados ou tristes, temos que aceitar o momento, eles existem e fazem parte do cotidiano, porém não esqueçamos que a cura também existe. Ela também faz parte.

 

Sempre acreditando no novo, no impossĂ­vel. SĂŁo os momentos pessoais, aquela particularidade que vai nos afastar da mesmice. Pois como dizem, se a gente faz as mesmas coisas, nĂŁo tem jeito, os resultados sempre serĂŁo os mesmos, perpetuando a mesmice.

 

Raul Seixas cantava: "se vocĂȘ correu, correu tanto, nĂŁo chegou a lugar nenhum, bem vindo, baby, ao SĂ©culo XXI". Outro gĂȘnio.

 

Dessa forma, veremos que a abertura de Heidegger revelarĂĄ caminhos de nossas potencialidades. A "abertura" possui trĂȘs fases: na primeira, a disposição nos lança ao mundo, somos jogados, porĂ©m ela estĂĄ aguardando o nosso Eu. Quando o mundo se abre, jĂĄ compreendemos a segunda parte da abertura, a prĂłpria compreensĂŁo, e na terceira fase "falamos", expomos nossas ideias.

 

Então, com disposição, compreensão e nossas falas a abertura do Ser se manifestarå.

 

E por aĂ­ vamos ver que a angĂșstia, pasmem, sĂł nĂŁo faz parte como Ă© necessĂĄria em nossas vidas...tĂĄ loko!?

 

Ela tambĂ©m partirĂĄ, assim como Ă© impossĂ­vel ser feliz 24h por dia. Nesses entremeios, os sentidos da vida vĂŁo dando seus pitacos derrubando decadĂȘncias. O Ser e o Tempo e o Tempo e o Ser seguem dançando conforme as trombetas das bandas terrenas e celestiais.

 

Porém, alerto que fugir da mesmice não significa dar total prioridade a ser diferente, mas realçar nossas particularidades.

 

Ora, todos fazem as mesmas coisas e quase tudo jĂĄ existe.

 

Lembram quando Ă©ramos adolescentes? QuerĂ­amos fazer parte de grupos (roqueiros, patricinhas, malucos etc.), e acreditavĂĄmos que iĂĄmos encontrar nossas identidades. E quando estamos integrados aos tais grupos, o que desejamos? Fazer algo diferente...

 

A abertura de Heidegger exige o Ser de cada um para que todos nĂŁo caiam na decadĂȘncia da mesmice.

Ficou confuso? Bom, assim Ă© a filosofia, mas exemplos podem amenizar a complexidade da temĂĄtica. Para alguĂ©m que procura uma sombra num dia quente, a ĂĄrvore surge como essĂȘncia, enquanto o madeireiro "vĂȘ" a mesma ĂĄrvore com olhos bem diferentes nĂŁo Ă© mesmo?

 

E assim o baile vai consumindo o Tempo. Às vezes quero o novo, mas uma rotina de vez em quando tambĂ©m nĂŁo faz mal. Às vezes quero ficar como um bom burguĂȘs deitado por horas em meu querido sofĂĄ.

 

Mas alerta para que essa rotina não permaneça por dias, se não a coisa complica. Tudo depende de nossos espíritos...

 

O que importa Ă© a presença e força do Rei Sol, esse sim, possui uma mesmice de 24horas, ora brilhando no Ocidente ou no Oriente.   

 

A mesmice dele Ă© outra. É sua razĂŁo de ser. Ele Ă© Rei.

 

Deve brilhar sempre, rasgando nossos olhos, a presença dele não é uma mesmice decadente, muito antes pelo contrårio.

 

 Ă‰ uma subida ao mais alto horizonte, Ă© vida, Ă© humano, Ă© tudo.

 

Ele nos obriga a se mexer retirando nossos medos e tremores. Em 1938, época nebulosa e a guerra batendo nas portas, Sartre ainda tinha esperanças de "despertar, dentro de alguns meses, dentro de alguns anos, alquebrado, decepcionado, em meio a nossas ruínas? Gostaria de me entender com exatidão antes que seja tarde demais".

 

O Sol resistiu à guerra, Sartre também e o mundo ressurgiu dos escombros. Era momento de reconstrução esperando que a mesmice das guerras desertasse para outros planetas comprovando que algo novo sempre pode surgir...










Valdocir Trevisan
Ă© gaĂșcho, gremista e jornalista. Escreve no blog ViolĂȘncias Culturais. Para acessar: clica aqui