por Marcela
Güther/Divulgação__
Pandemia,
solidão e saúde mental: conheça o novo livro da poeta carioca Milena Martins
Moura
“A
Orquestra dos Inocentes Condenados”, terceiro livro da poeta Milena Martins
Moura, enfrenta os efeitos nocivos da solidão e do medo provocados pelo
isolamento social.
“[...]
É uma mostra de um não poder. Pois a poeta não cede a uma ideia meritocrática
de superação, mas abraça a perda. O que não significa, de modo algum, abraçar a
derrota, afinal, ela escreve, ela grita, ela toca a música que ora nos embala,
ora nos soterra. E nos presenteia com 102 páginas de poesia peso, poesia corpo,
poesia urgência.”
Bruna
Mitrano, no prefácio
Escrito
durante a pandemia, “A Orquestra dos Inocentes Condenados” (Editora
Primata, 2021, 102 p.), nova obra da poeta carioca Milena Martins Moura,
nasceu da necessidade da palavra como forma de sobrevivência. Permeado pelas
temáticas da solidão, da morte, do medo e dos abalos psicológicos que tudo isso
provoca, a obra conta prefácio de Bruna Mitrano e arte de Macaio
Poetônio.
Retratando
com honestidade e sem floreios momentos de crise e de luto, o livro traz
pensamentos sobre a finitude e a fragilidade da vida, memórias nostálgicas
fundantes e uma discussão necessária sobre a neurodiversidade entre mulheres.
Trata-se de um autorretrato “sincero e escancarado” da psiquê de Milena.
“Muitos
dos poemas presentes na ‘Orquestra’ foram escritos em momentos de crises de
ansiedade ou sobrecarga sensorial, fosse para aplacá-las em seus sinais
iniciais, fosse para sair delas. As menções à cor roxa, aos dentes e paredes e
às mordidas na carne não são à toa. Basicamente, esse livro foi como respondi
ao meu próprio pedido de socorro”, expõe a autora, que cita como
suas referências nomes que vão de Viviane Mosé até Carl Sagan.
Entre as autoras que destaca, estão Maíra Ferreira, Thainá Carvalho,
Priscila Branco, Dia Nobre, Heleine Fernandes, além da
própria Bruna Mitrano.
Parte
fundamental da vida de Milena, a música se insinua em todo o livro, a começar
pelo título. Aparece como instrumento temático e estrutural, seja de maneira
clara, seja no ritmo de leitura que a escolha vocabular de cada verso imprime.
Detalhe que se explica pela poeta também ser cantora e compositora.
Entre
lutos e memórias da infância
Terceira
obra de Milena Martins Moura e seu segundo livro de poemas, sucedendo “Os
Oráculos dos meus Óculos” (Editora Multifoco, 2014), “A Orquestra dos
Inocentes Condenados” continua, de certa maneira, o mote de seu antecessor.
Se, nos seus “Oráculos”, Milena nos escancara o luto pela partida de seu
avô, em sua “Orquestra” exibe-nos também um luto, desta vez pelas vidas
ceifadas pelo vírus, pelo estado de coisas atípico, pelo país, pelo
futuro.
Outra
semelhança salta aos olhos: a saudade. Dos que se foram, dos modos conhecidos
de se levar a vida, de tempos mais simples. “A infância me voltou durante a
pandemia como uma pedra fundamental, um tipo de alicerce. Ao retornar a tempos
passados, de menos medo, tive a sensação de angariar certa firmeza para
continuar. Acessar essas memórias para escrever alguns dos poemas me deu uma
força que eu não imaginava ser tão necessária quanto se mostrou.”
Milena
não se esconde nas páginas. Mostra-se, cada pedaço de sua personalidade, de sua
realidade. Nomes de família, lugares e coisas aparentemente banais, mas de
extrema importância, permeiam seus versos, que são desesperados — no entanto,
estruturados com o modo metódico característico da autora.
Escrever:
uma maneira de se emancipar e resistir
Milena
Martins Moura nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro em 1986. Começou a escrever
com 9 anos e já demonstrava algo de que a “Orquestra” é exemplo: usava a poesia
como meio para manter-se forte. “Tive um avô leitor e uma tia professora que
me influenciaram a ler desde muito cedo. Aprendi a ler com três anos e a
leitura sempre foi uma forma de enfrentamento da realidade da vida. Escrever
foi quase uma consequência óbvia. Comecei a escrever como forma de emancipação”,
reflete. Pela poesia, encontrou a firmeza para se formar como sujeito pensante
e buscar seu papel no mundo. Na mesma época, também iniciou seus estudos de
música e desenho, fazendo da arte uma presença central e indelével em sua vida.