por Taciana Oliveira __
1.
arrumar
a mesa
para
as bocas de ninguém
arrumar
arrumar a mesa
arrumar
arrumar a mesa
para
os corpos ausentes
para
o morto e os enlutados
arrumar
arrumar a mesa
arrumar
arrumar a mesa
dispor
pratos e talheres
vê-los
limpos meia noite
arrumar
arrumar a mesa
arrumar
o de comer
em
pratos nobres
sobre
a mesa
sabendo
que ninguém há de servir-se
que
esse é o jantar dado ao silêncio
arrumar
arrumar a mesa
para
mim
que estou tão habituada à fome.
2.
o
vinho
sangue
mítico
beberagem
ancestral
um terço
uva
o resto
verdade
eu
queria
queria
partilhar
esse sangue
morder
outro corpo
o
meu dói de ontem
tronco
um terço
apoio
o resto
ânsia
corre
em dança chula
se balança
dança
pULa
solidão
em uva passa
arroz
farofa
de banana
a música
i wanna know do you love me baby
e
eu que tinha toque a compartir
abraço os pés
embriagada
tentativa
e erro
hoje
eu vou ser forte
um gole um sorriso
hoje
eu vou ser forte
um carinho um carinho
hoje
eu vou vencer o vinho
no vino
no veritas
sangue
sangue
o
cordeiro e os pecados
dividindo o pão
3.
venha
rápido pois tenho pressa
tenho
uma pedra
então
entenda
o
mergulho nessa água escura
é
um risco
que
eu só vou aprender a viver
depois
do salto
um
risco é o que se corre
e
eu tenho pressa
meus
braços são tão fracos
e
eu tenho pressa
mesu
olohs tmê falhaod
e
eu tenho me evitado
no
reflexo do poço
eu
tenho pressa
da
palavra pesando meu corpo
de
levantar os olhos e ver
e
ver
cada
silêncio é uma imagem a menos
então
venha rápido
antes
da próxima maré
que
nessas águas repousa a coisa morta
que se perdeu de mim durante a
última música
*poemas do livro "A Orquestra dos Inocentes Condenados” (Editora Primata)