por Valdocir Trevisan__
No seu livro "Complexo de Vira-Lata", Márcia Tiburi afirma que a
colonização fez parte de nosso passado, atua no presente e integrará nosso
futuro. "Eles" não param e, pasmem, já estão com seus objetivos prontos
para nós. Isso mesmo, para o que vem pela frente.
O
relógio deles difere do relógio derretido de Salvador Dali. Mandam e desmandam
naqueles que fazem continência à bandeiras alheias. E acreditem, fazem
continência até para as caixas de cloroquina. Surreal.
Noam
Chowsky revelou documentos do Departamento do Estado Americano, de 1944, com os
planos para a América Latina. A Segunda Guerra ainda vigorava e
"eles" já tinham tudo estruturado para suas "colônias".
Seus projetos já estavam definidos.
A
Petrobrás, que segundo nosso atual presidente é um problema, naquela época não
podia produzir aços finos, não era do interesse dos Estados Unidos. E o que
aconteceu? Os milicos bateram continência, e não por acaso hoje a Petrobrás sempre está inserida nos golpes.
Como
diz Jessé Souza é uma "Guerra contra o Brasil", seguindo normas da
extrema direita que, lógico, deve ter interesses nos subsolos do poder. Triste
é ver um povo sem esclarecimento — ajudai-nos Kant — , pagando o pato.
Aliás, como anda nosso Pré-sal?
Lendo
autores, críticos latinos, pode ser que a temática entre no debate para se perceber
como os imperialistas e colonizadores estreitam seus interesses. Na nossa história,
sempre se perguntam se o Brasil holandês não seria uma melhor opção para o
país. Incrível debater qual seria o melhor colonizador...Novamente, surreal.
Realmente
os relógios são diferentes, o tempo do colonizador está acima do oprimido
latino, que mais parece conviver com relógios do juízo final. Um processo
longo, desde 1500. Não sei, mas parece que o brasileiro gosta de ser escravo.
Até que a manipulação psicológica assola o inocente que "pensa que nem
eles". A diferença é que eles comem picanha e o alienado inocente come
osso...Duro de roer.
Acham
que neoliberalismo promove liberdades, não percebendo que não tem nenhuma
chance diante de tantas diferenças econômicas. Como o capitalismo organizado, que
visa o setor privado, e que quando não consegue privatizar passa a dizer que o |estado
é corrupto. Até parece que não existe corrupção na "privada".
Privada, eu disse, de vaso sanitário.
Lembrando
que sempre contam com a ajuda da grande mídia. Portanto, quanto menos Educação,
melhor para incrementar ideologias. Sem conhecimento é duro ter que caminhar e
ver nossos projetos do futuro irem riachos abaixo.
Não por
acaso um dos últimos ministros da Educação afirmou que o brasileiro tem
obsessão por universidades...Tá loko.?!
Parece
piada, uma trágica piada.
E o
homem domesticado segue sua simples vida como Jessé Souza diz: "por
conta disso somos dominados até hoje por essa hierarquia moral historicamente
contingente que poderia muito bem ter aceito sentido e direção, e aí percebemos
como se nos acompanhasse desde o berço".
Esses
dias discuti com um amigo bolsonarista. “Quebrado", devendo pra todo
mundo, mas ainda firme em sua ideologia. O argumento de que "não está bom
para você? “estamos aqui comendo churrasco", é de fazer o debate parar. Não
há condições. Logo ele que já foi empresário, e hoje está falido e desempregado. Lembrei
que era só tirar a Dilma que..., mas deixa para lá...Estamos comendo churrasco,
o resto não interessa.
Eis o homem domesticado: na penúria, mas hoje, como está comendo churrasco...
Realmente eles não compreendem o processo civilizatório do colonizador.
Outro
mito que já passou da hora de se acreditar é de que devemos tudo a colonização dos portugueses. Ora, Portugal e Inglaterra se assemelhavam em vários quesitos
no século XIX, como na distribuição de negócios e até monopólios.
Vamos
virar essa página, ela também serve para domesticar ideologias. Isso é conversa
para amansar o boi e para deixar a boiada passar (onde ouvi essa máxima?).
É tão fácil
verificar que o ideal seria uma sociedade composta por indivíduos livres, mas
com direitos básicos e financeiros, o mais igualitário possível. Evidente que o
mais capacitado e interessado vai superar o outro, mas aí se justifica seu
mérito. Agora, diante de corrupções, essas sim filmadas e gravadas, a justiça
perde a essência, e pior, fica por isso mesmo.
Retorno aos autores latinos, alguns não são
traduzidos para o português. Por que será? Talvez por oferecerem respostas que almejamos.
Quando lemos as civilizações de Samuel Huntington com suas nove etapas, evidente que se trata literatura de primeira linha, mas temos que lembrar, como diz Jessé Souza que "a América Latina também é o planeta do atraso e da corrupção." Mais adiante veremos quem financiava Huntington e suas pesquisas em Haward.
Prefiro as civilizações de Darcy Ribeiro.
Confio mais no brasileiro que foge dos traidores atuais e nos personagens da nossa história, como Joaquim Silvério dos Reis, que delatou os inconfidentes
mineiros para se salvar da falência.
A delação de Silvério — é minha gente, delação é coisa antiga — apesar das inúmeras controvérsias (olha as semelhanças),
serviria para cancelar seus débitos. Ah, ele queria ainda melhores condições de moradia,
recompensas e pensão vitalícia. Essa história nos faz lembrar um ex-juiz de Curitiba.
A luta
é inglória, mas salutar companheiros. Márcia Tiburi revela ainda que diante das
"riquezas teóricas e reflexivas para confrontar as academias
conservadoras" são fundamentais autores identificados com nossas
identidades. O ativismo latino se faz presente, mas e quando o ensino se torna
mais crítico do que "eles" dizem? E que nosso ensino é de esquerda...Pelo amor
de Deus e da cultura, não me venham com essa!
Se somos uma América violentada e humilhada,
resta-nos desmitificar o eurocentrismo e ideologias imperialistas com suas
culturas repressivas.
Adorno conta
que Hitler gostava de afirmar: "responsabilidade para quem amamos, autoridade
para os de baixo". Lembra tanto os conceitos dos atuais fascistas.
Para
nós, autênticos latinos, derrubar mitos como o complexo de vira-lata é lei,
pois eles irão cair com o tempo. A história é implacável.
Valdocir Trevisan é gaúcho, gremista e jornalista. Escreve no blog Violências Culturais. Para acessar: clica aqui